sábado, 21 de abril de 2012

HOMILIA 3º DOMINGO DA PÁSCOA

"Perturbados e espantados pensaram estar vendo um espírito. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações?" Lc. 24,37-38.

Caríssmos irmãos precisou de um tempo para os discípulos aterrissarem no solo de Jerusalém no que tangeu à compreenção acerca  dos últimos acontecimentos da vida de Jesus.

Ao lermos sobre espanto e o medo vividos por eles, parece que o que está à sua frente é alguém estranho que eles nunca viram, nunca conheceram e nunca tiveram qualquer experiência. E não é verdade. É exatamente  o contrário. Aquele que está à sua frente fez parte de suas vidas, de suas caminhadas, de suas dúvidas e de suas certezas, de suas alegrias e de suas tristezas, em Nazaré, em Cafarnaum, em Jerusalém. Enfim, em toda a região da Judéia.

E por que o espanto? E por que a admiração?
Quanto ao fato podemos recordar alguns casos semelhantes: Maria se espantou ao anúncio do Anjo. Zacarias também e tantos outros diante da experiência que tiveram com Deus.
Lembrem que eles estavam espantados, surpresos, mas alegres. Ou seja, o espanto aqui não é um "medo, como quando se está frente a um perigo", como alguém lembrava, mas um sentimento de admiração, de surpreza, de alegria, algo que você quer explicar, mas não consegue, pois é misterioso, é enigmático,  lhe preenche, lhe emociona, lhe faz perder a voz, aí você só curte, só contempla, só guarda no coração.

"Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho" Lc. 24,39.
"Os ressuscitados não retomam o corpo que têm neste mundo. Seria ridículo se o homem tivesse de morrer para voltar a esta mesma vida. Morre-se para entrar na vida de Deus". Fernando Armellini. Celebrando a Palavra.

Até porque esse corpo em pouco tempo está decomposto, destruído, devorado, comido pela terra, e,  portanto, Deus não precisará dele mais para nada, porque se precisasse, não teria através de Jesus, varado as portas do  cenáculo sem que fossem tocadas. Na verdade, Ele tem a nos oferecer um corpo glorioso, incorruptível, imutável, com o qual nós haveremos de nos apresentar diante Dele, como operários que chegaram ao fim do dia de seu trabalho e agora convictos do que tudo foi concluído, de que tudo foi consumado, prestam contas com o seu Patrão.

Quanto aos versículos do capítulo de hoje estão cheios de gêneros literários. Por isso não podem ser lidos ao pé da letra. Então, está mais do que claro que eles não apalparam, não sentiram, porque isto dispensaria a possibilidade da fé, e suas dúvidas tinham cessado ali mesmo. Mas o fato pelo qual Lucas assinalou assim, é para dizer que o Cristo Ressuscitado não deixou de participar da vida e da lida dos seus irmãos. Perceber isso, notar isso, crer nisto exige tempo, caminhada, entrega, oração e ESPANTO.

O perigo é a gente não se espantar mais, o perigo é a gente não se surpreender mais, o perigo é a gente não lutar mais, o perigo é a gente não denunciar, não anunciar, não se angustiar, fazendo com isso que as mazelas tanto espirituais, quanto materiais, sociais, culturais, se alastrem e o mundo e a socieade, permaneçam desreipeitando e matando, índios em Brasília, lavradores no interior do Maranhão, homossexuais nas grandes metrópoles; escravizando crianças em grandes fazendas pelo País a fora, jovens entregues às drogas, consequentes de um país que abandonou, abortou; aliás, antecipadamente matou, seus filhos, como acabamos de acompanhar na aprovação pelo Supremo da Lei que garante à mulher interromper a gravidez, caso o filho seja um anencéfalo.

O mesmo vale para o pedaço de peixe assado. Jesus não é um fantasma, nós o sabemos, mas também, não veste mais a roupagem corpórea, passageira e frágil, que nós nos vestimos, dependendo de tempo, espaço, comida e bebida, para sobreviver. Mas, o comer de Jesus, é um modo do Evangelista assinalar, que ele, mesmo não estando mais fisicamente junto aos seus discípulos, ele o está espiritualmente, participando, comungando e acompanhando os seus passos ao longo de suas vidas.

Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as escrituras, dizendo: Lucas 24,45.
Talvez seja isto que ainda esteja faltando em muitos de nós. Um espírto aberto, um espírito desarmado, um espírito desprotegido das redomas das nossas verdades, interesses, paixões e vaidades.
Talvez seja isto, que ainda esteja faltando para que a nossa fé não vacile tanto, e nós que antes éramos tão animados, corajosos, entusiasmados, porque tudo corria a nosso favor, agora, ao primeiro vendaval, à primeira tempestasde, à primeira provação, nos desmanchamos em queixas, lamúrias e perguntas provocativas contra Deus.
É verdade que como os discípulos, nós precisaremos de um tempo para irmos perdendo o medo, a insegurança, especialmente o medo de amar e perdoar. E nos apropriarmos de uma fé mais profunda, uma fé que nos encha de entusiasmos nao só nos tempos de primavera, mas principalmente nos tempos de invernos e tempestades que por ventura venham passar nossas vidas.










domingo, 15 de abril de 2012

HOMILIA 2º DOMINGO DA PÁSCOA

Caríssimo irmão porque você está aqui?  O que é que de fato lhe trás aqui? Você está aqui porque você quer ser salvo, você está aqui, porque você quer paz, mas para ser salvo e encontrar esta paz, você precisa vencer o Tomé que está dentro de você.
São João registra que era na tarde do primeiro dia da semana, portanto, no domingo. Os discípulos estavam reunidos.

E ESTANDO COM AS PORTAS FECHADAS, POR MEDO DOS JUDEUS. E por que estão fechadas? Que portas são essas, amarradas, travadas, acorrentadas? São suas mentes, seus corações, são eles que estão fechados, travados, por causa da dificuldade de entender tudo o que ocorreu com seu mestre e líder. Na verdade ainda estão vivendo as tempestades das últimas horas. Ou seja, a sexta feira e o sábado, escuros, fechados e sombrios, são como uma nuvem que lhes impedem de enxergar  que o dia já amanheceu , e que o sol já raiou no horizonte de Jerusalém.

Meus irmãos não foi fácil para nenhum deles. Primeiro a realidade da morte, algo inconcebível, inaceitável, mesmo o Cristo tendo várias vezes avisado, anunciado, informado sobre tal acontecimento. Como também não foi fácil o episódio da ressurreição. Os dois acontecimentos lhes caíram como uma bomba, que lhes deixaram atônitos, perdidos e muito confusos. Neste sentido a dúvida não é só de Tomé, mas de todos, todos estavam vivendo as mesmas angústias, as mesmas dúvidas e os mesmos sentimentos. Todos gostariam de como Tomé também tocar nas mãos, nas chagas, nas feridas e nas cicatrizes deixadas pelas lanças dos soldados, e assim tirar de uma vez por todas o véu e a nuvem de incertezas que pairavam e encobriam suas mentes, espíritos e corações.

A PAZ ESTEJA CONVOSCO: Meus irmãos quantas vezes diante de situações de medo, dor, sofrimento, angústia, nós esperamos, e até clamamos por um pouco de paz. E a paz aqui é a ausência, a eliminação, o fim de tudo que até então nos machuca, nos humilha e nos fere. Pois bem, a paz que Jesus trás não tem essa finalidade.   A paz que ele oferece não tem por finalidade lhe defender, lhe proteger das possíveis traições, das possíveis perseguições, das possíveis dores e sofrimentos que poderão lhe acontecer. Mas a paz que Jesus oferece é no sentido de lhe fazer uma pessoa nova, diferente, mudada. Dessa maneira, mesmo que ao seu redor as coisas, o cenário, o tempo continue fechado, escuro, você estará sereno, calmo, tranquilo, confiante, porque você mudou. Nem sempre as coisas vão mudar na hora, no tempo e do jeito que você quer. Assim, quem tem que mudar é você para suportá-las e amá-las do jeito e da forma que elas estão se dando e são.

SOPROU SOBRE ELES E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO: Essa cena nos faz voltar ao princípio da criação quando Deus sopra o seu espírito no homem, para que este deixe a condição de barro e torne-se um ser vivente, um homem. Todo mundo sabe qual o aspecto do barro, o barro é escuro, o barro tem cor suja. E é mais ou menos assim que se encontram naquele momento os discípulos. E é assim também que se encontra muitas vezes cada um de nós. Sujos de medo, sujos de inveja, sujos de rancor, sujos de mentiras, de ciúmes.  Sendo, portanto, necessário a ação do Espírito Santo, sendo, portanto necessário, o sopro de Jesus. Para tirar, para lavar, para limpar, toda a sujeira, todos os barros de pecado, de medo, de inveja, de egoísmo que mancham a nossa imagem, que mancham o nosso espírito, e nos impedem de participar dessa nova criação, deste novo Édem, deste novo Paraiso, desta nova Criação inaugurada por Cristo pela sua Morte e Ressurreição.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

HOMILIA DE SÁBADO SANTO

Caríssimos irmãos estamos celebrando a noite, mãe de todas as noites, a vigília, mãe de todas as vigílias.
Hoje nós nos juntamos as 600 mil pessoas, sem contar as mulheres e crianças que depois de 430 anos escravos no Egito, agora caminham numa grande romaria rumo a Terra Prometida. Cinjamo-nos com nossos cintos, calcemos nossas sandálias, e com elas palmilhemos pelos desertos de agora rumo à direção que conduz para o Pai.
Agora, não são mais 430 anos, mas são os anos que, compreendem, a nossa vida, anos em que igualmente nos encontramos, presos, acorrentados e oprimidos pelos Faraós dos nossos pecados, que gritam violentamente dentro de nós.
Preparemos nossas promissões, amassemos nossa farinha, assemos os nossos pães, e exodamos pelos caminhos de hoje, cruzemos os Mares Vermelhos de agora até que Cristo vitoriosamente afogue e derrote nossos carros, cavalos e cavaleiros que nos perseguem, nossos egoísmos e nossas ambições, e Canaã seja vislumbrada  e antecipada para nós agora.
Se nossos Faraós não forem derrotados, se nossos carros, cavalos e cavaleiros não forem afogados, o silêncio de ontem continuará. Se insistirmos em permanecermos nas nossas invejas e nos nossos egoísmos a sexta feira e o sábado sombrio permanecerão.
É hora de acordarmos, é hora de despertarmos, é hora de levantarmos e irmos com as mulheres para o túmulo, não para encontrar um Cristo morto, sepultado e ainda derrotado pelas forças hostis de seu tempo, mas um Cristo vitorioso, vencedor e ressuscitado. Se assim não fosse a pedra não estaria removida e o túmulo não estaria aberto e vazio.
É hora também de acordarmos dos nossos sonos, dos nossos comodismos, das nossas indiferenças, é hora também de removermos as nossas pedras, pedras de nossas tristezas, pedras de nossas angústias causadas e sentidas pelas nossas equivocadas e erradas escolhas, pedras de ressentimentos, tudo aquilo que nos impede de dormirmos e acordarmos na madrugada da ressurreição.
O Papa Bento XVI fala de um Êxodo espiritual, aquele Êxodo que traduz o homem e a mulher como pessoas novas, que deixaram para trás a velha existência, as velhas práticas e os velhos costumes, práticas e costumes de pecados que muito feriu a imagem e semelhança do Pai nos seus filhos.
Esta noite é também de batismo, e o Papa lembrando o acontecimento do Mar Vermelho fala que ali o povo de Deus renasceu pela mão forte de Deus quando o arrancou da escravidão.
Então, meus irmãos, da mesma forma que no Mar Vermelho os carros e cavalos e cavaleiros de Faraó foram afogados, e o povo  foi socialmente libertado, nos deixemos nesta noite batizar, pelo sangue de Jesus, pela água que do seu lado jorrou. Afogar todos os nossos males, todos os nossos pecados e assim experimentarmos esta libertação inaugurada por Cristo, pela sua Morte e Ressurreição. Libertação essa que acontece ainda de maneira simbólica e ritual, para um dia acontecer plena, definitiva e total. AMÉM.

terça-feira, 3 de abril de 2012

SOBRE A IDOLATRIA DOS CATÓLICOS

A Primeira parte é uma transcrição e que eu concordo, o último parágrafo é um comentário meu.
Um dos textos preferido de nossos irmãos é o de Êxodo 20,4-5:
Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos pais nos filhos, nos netos e bisnetos daqueles que me odeiam…“.
Ótimo! Inclusive é uma belíssima passagem do Antigo testamento. Porém como somos seres humanos dotados de inteligência e não agimos apenas por instinto, vale a seguinte reflexão :
Após sair de uma escravidão de 430 anos no Egito, o povo hebreu estava mais que acostumado à cultura egípcia. Todos nós sabemos que esta cultura pregava a adoração e culto a animais, faraós e outros objetos considerados divindades. Deus precisou dar a ordem de não fazer esculturas pois o povo hebreu era facilmente manipulável neste sentido. Deus em toda a sua sabedoria estava conduzindo Seu povo para Ele através da adoração única e exclusiva. Porém, confirmando a idéia de fraqueza do povo em Ex 32, os israelitas fabricam um bezerro de ouro para adoração. É preciso notar que a Bíblia não condena a criação de imagens mas de ídolos.
Não fareis ídolos. Não levanteis estátuas nem estelas (pedras com inscrição ou escultura), e não poreis em vossa terra pedra alguma adornada de figuras, para vos prostrardes diante dela, porque eu sou o Senhor, vosso Deus.” (conf. Levítico 26,1).
De fato nossos irmãos estão parcialmente corretos. A bíblia condena expressamente a fabricação de ídolos. Ídolo é um falso deus, algo ou alguém que é colocado ou se coloca no lugar do verdadeiro Deus. Qualquer coisa pode se tornar um ídolo. Dinheiro, ou a busca incessante da prosperidade, ou ainda, a felicidade e a benção de Deus acontece somente se você é próspero financeiramente ou se não tem doença alguma. Ora, isto sim é contrariar as ordens de Deus.
Imagens são apenas representações artísticas, com objetivo único de embelezar, nos fazer lembrar de pessoas que são um exemplo para nós. O ato de ajoelhar-se diante das imagens não significa adoração e sim homenagem. Nenhum católico acredita que as imagens tenham algum poder sobrenatural, ou que vai falar, andar ou dançar.
É comum dizerem que nossas Igrejas católicas são amaldiçoadas porque tem imagens, ou até mesmo, qualquer lugar que tenha em seu interior alguma imagem. Chegando ao cúmulo de algumas pessoas não entrarem nestes lugares por “medo” destas imagens. Interessante notar que o Templo de Jerusalém, construído pelo rei Salomão, continha muitas representações de anjos ou animais:
Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.” (conf. 2 Crônicas 3,10-14). Havia esculturas de Bois e flores (conf. 2 Crônicas 4,3-5) e continua “Quando Salomão terminou essa prece, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto com os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu o templo. Os sacerdotes não podiam entrar no templo do Senhor, tanta era a glória que enchia o edifício.” (conf. 2 Crônicas 7,1-2). Onde está a maldição?
“Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão estes querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.” (Êxodo 25,17-20)
“Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.” (Êxodo 25,22)
Deus serviu-se de imagens para manifestar a sua glória. Os querubins não eram ídolos como as nossas imagens católicas também não são ídolos. Não vale o mesmo critério para nossas representações humanas? Nossos Santos e anjos?
A religião entra no homem pelos sentidos, os sentidos são uma faculdade que merece a todo instante cuidado. Quando os sentidos escapam ao nosso controle, perdemos a condição de homens. E aí matamos, quebramos, queimamos, tornamo-nos monstros. Ao longo da história "compreensões" radicais e fundamentalistas da bíblia, revelaram pessoas, líderes, religiosos e civis assim. Deus jamais, agredirá, castigará ou condenará alguém neste mundo, porque vive um culto e uma fé diferente da minha. Infelizmente há pessoas que se julgam donos de Deus e de sua palavra. Quando na verdade ele é de todos e ama a todos e se mistura com todos, negros, índios, crianças, jovens, prostituídas, prostituídos, bêbados, drogados, homoafetivos, evangélicos, católicos, pais de santo, mães de santo, pessoas do terreiro, do candomblé, da macumba, enfim. Quando é mesmo que vamos compreender assim? Quando deixarmos esse modo hipócrita e farizaico de viver a religão.