Meus irmãos, não só a cena desta noite, mas tudo o que pudemos viver nesta semana, mostra que não devemos ter mais dúvida do amor de Jesus por nós.
"Como duvidar de alguém, que num dado momento reúne os amigos, toma uma bacia com água, uma toalha e vai de um a um lavando os pés dos seus amigos" Padre Léo.
Como duvidar do amor de alguém que num dado momento vai à casa de Lázaro, que já está morto há quatro dias e lhe devolve a vida, num momento em que todas as esperanças já tinham sido esgotadas?
Como duvidar do amor de alguém que na última refeição separa o pão e vinho e diz: Isto é o meu corpo dado, entregue, esmagado e dividido na cruz amanhã, por amor de vós, um amor que não volta atrás?
Esta humilhação, este esmagamento, esta total entrega começou no Getsêmani , foi lá que o médico Lucas notou que na sua angústia mortal, seu suor se convertia em sangue.
Meus irmãos, não tenhamos dúvidas, entre outras razões, a razão de tamanha angústia pela qual o Salvador passava, estavam ali nosso desamor, nosso rancor, nosso pecado. O pecado é como uma espada cortante, e ele fere não somente o coração, mas também a alma. Toda vez que ele nos atinge, é a Jesus que atingimos, toda vez que ele nos fere, é a Jesus que ferimos, toda vez que ele nos crava, é a Jesus que cravamos, é a Jesus que matamos.
Hoje, novamente estamos celebrando a Última Ceia. E o que é a Última Ceia? A Última Ceia é Jesus dizendo para nós o que disse a Pedro: Deixa eu te lavar, deixa eu tirar a sujeira dos teus pecados, deixa eu te banhar com a água que jorra do meu peito, ferido pela lança.
Deixa eu te purificar, deixa eu te santificar, deixa eu te curar com o sangue que jorra do meu peito ferido pela lança.
A Última Ceia é Jesus dizendo para nós o que disse à pecadora: Onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Eu também não te condeno.
Semana passada tivemos, os padres, as irmãs, bastante leigos, na diocese discutindo acerca das diretrizes diocesanas para os sacramentos, tendo sido o matrimônio, bem como o que o pode levar a uma declaração de nulidade, apresentados pelo Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico do Maranhão, o Padre Ivanildo da Diocese de Imperatriz.
Tanto no que se refere às normas escritas no Diretório para os Sacramentos e no Código de Direito Canônico; quanto às posições expressas ali por muitas pessoas, viu-se como estamos distantes, longe de termos uma Igreja com atitudes e posições tão livres e porque não dizer tão loucas e desmedidamente bonitas, como a de Jesus para com a pecadora e como a do Pai para com o filho pródigo.
Não se pode dizer que os códigos, as normas e as rubricas contidas ali, expressam qualquer condenação a quem quer que seja, mas as proibições, as exigências, as matérias, as rubricas ali contidas, distam muito do que as pessoas neste instante vivem, enfrentam, sentem e discutam na sua casa, no supermercado, na rua, no trabalho, na Igreja e na sociedade como um todo.
A Última Ceia é o ato através do qual Jesus se faz o menor, o servo, o escravo; para os servos, os escravos, os menores tornarem-se senhores. Não sei se a proposta de Igreja que temos hoje, essa que sai das páginas das nossas Diretrizes, dos nossos Códigos e dos nossos Missais chegam perto dessa proposta manifestada em gesto, oferecida por Jesus na Última Ceia.
Nós, enquanto coordenadores, enquanto agentes de pastoral, enquanto clero, enquanto religiosos e religiosas temos medo de sair do padrão, temos medo de sair parâmetro, temos medo de sair da ordem, temos medo de sair do "normal". E quem pode afirmar que esse padrão responde as exigências do contexto de agora? Quem diz que esse parâmetro, essa maneira estão de fato corretas? Quem diz que esse normal está certo?
Jesus saiu do "normal", do padrão, do sistema, do normal de uma religião e de uma lei que só viam defeitos e impurezas nas pessoas; e fez isso se envolvendo e se misturando com "os sem leis", com "os sem classes" e com "os sem padrões"; realizando gestos tão livres e tão ousados como o de hoje, sem medo de ser censurado e criticado por aquela sociedade que só acusava, só apontava o dedo, mas não via a profundidade das rachaduras das suas hipocrisias.
Enquanto nós padres, bispos, leigos, vamos apenas reproduzindo, repetindo e mantendo o padrão, a norma, às vezes por incompetência ou medo de corrermos um risco maior, a Igreja de Jesus Cristo vai ficando cada vez mais fria, cada vez mais vazia, cada vez mais só.
Não basta dizer que amamos e acolhemos o drogado, a prostituta o homo afetivo, o amigado, mantendo-os à distância, como um cão que causa medo, é suspeito e vai pôr em dúvida, em risco, em cheque nossa lei, nossa religião, nossa moral e nossa fé. Mas, devemos tê-los juntos de nós fazendo refeição conosco, ceiando conosco, comungando conosco, sentindo-se não desprezado, excluído, impedido ou abandonado, mas abraçado, lavado e beijado os seus pés, como fez Jesus quando abraçou, lavou e beijou os pés dos excluídos da sociedade do seu tempo.