sábado, 30 de junho de 2012

XIII DOMINGO COMUM - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

"Quem dizem os homens que eu sou"?
"Essa pergunta deve mexer com o nosso ouvido, nos intrigar, e responder não significa fazer teologia, catequese, ou mesmo um discurso teórico. Mas é antes de tudo interrogar o nosso coração, perguntar ao nosso espírito e perceber qual o lugar que Cristo ocupa no nosso coração, na nossa vida e nosso existir."

Responder obriga-nos a pensar no significado, na importância, significa inclusive, repensar, rever, a noção que, nós, neste instante temos acerca do Messias, se é uma noção conforme Jesus e o projeto que ele veio inaugurar, e que agora está em suas mãos; ou é uma noção conforme nossos desejos, anseios, desejos e anseios muitas vezes distantes desse projeto, o Reino de Deus.

A nossa participação em cada eucaristia só terá sentido se for na dimensão de  experimentarmos, sentirmos, entendermos o sentido exato, a maneira exata, o modo exato desse Messias ser. 

Fazer essa experiência não significa ficar numa contemplação estéril, alienada, inconsciente, mas testemunhar, humanizar, materializar. Um testemunho e uma humanização que tem sempre como referência o Messias, na pessoa do irmão.

Dessa maneira se revela um princípio de entendimento acerca do Messias. Eu disse princípio, porque estamos só começando. A vida inteira será o campo para crescermos na compreensão do Messias. Uma compreensão que vai além do aspecto intelectual, mas é algo que se mistura à fé e ao amor.


















domingo, 24 de junho de 2012

XII DOMINGO COMUM - NATIVIDADE DE S. J. BATISTA

Caríssimos irmãos apesar de estarmos em pleno Tempo Comum do Ano Litúrgico, neste domingo,  o calendário  faz uma parada para reverenciar São João Batista e seu nascimento. Aquele que um dia, Jesus, lhe dirigindo um rasgado elogio disse: "O que fostes ver no deserto, um profeta? Ele é mais que um profeta. Na verdade digo: Entre os nascidos de mulher, não veio ao mundo outro maior que João Batista".
Meus irmãos, eu podia seguir citando tantas e tantas qualidades deste santo que liga o Antigo e  o Novo Testamento, seu profetismo, sua coragem e sua luta para que o Reino que já estava a caminho pudesse ser antecipado através da justiça e da fraternidade, valores por ele gritados no deserto da Judéia. Mas meu desejo é assinalar alguns sentimentos desse evangelho.

"O seu nome é João. Todos ficaram admirados". Meus irmãos o espanto, a admiração acompanham o homem tanto nas suas experiências físicas, históricas, geográficas e científicas, quanto religiosas.
Nas experiências religiosas, o homem se espanta ao deparar-se com a realidade divina, Maria se espantou, Zacarias se espantou, Moisés se espantou. Esse espanto revela a consciência da nossa pequenez, da nossa limitude frente ao mistério e sua magnitude.
Espantar é um ato normal, é pelo espanto que medimos a distância que estamos em nível de fé e de conhecimento acerca daquilo que  está acontecendo à nossa frente, bem perto de nós.
Quando Maria se espanta diante do Anjo, o mesmo que encontrou Zacarias, ela mediu a distância que existia entre ela e as palavras que lhe eram dirigidas. Mas como o ato, a cena, não nascia naquela cabana, mas nascia sim, nas fontes divinas, Deus mesmo se encarregou de ligar tal mensagem à destinatária presente, tranquilizando-a, bem como a sua consciência.
A grande pergunta que não cala é: O que é que nos espanta neste momento? A Eucaristia nos espanta? O Evangelho nos espanta? O amor nos espanta? A justiça nos espanta? O perdão nos espanta? A injustiça,  a violência, a fome nos espantam? Se isso não ocorrer, podemos acumular missas e missas, cantos, orações e tudo o mais, porém, João Batista e sua mensagem estão indo para uma direção, e nós estamos indo para outra.
O Senhor lhe tinha feito grandes benefícios e congratularam-se com ela.
É importante assinalar a situação de uma mulher estéril no tempo de Isabel. Carregava a maldição, não era merecedora das bênçãos divinas. Mas é importante salientar, que Isabel não está sozinha nessa cena. No fundo ela é a síntese de todos os pobres de seu tempo, homens e mulheres, escravos, viúvas, estrangeiros. São esses que agora se alegram, porque acabam de ver cumprida a promessa que um dia Deus fizera aos profetas.
Essa promessa começa se cumprir na pessoa de João Batista. Que agora ruma para o deserto, não o geográfico, mas o deserto dos nossos corações, marcados por montes e vales, montes e vales que dificultam a chegada e a passagem do Reino.
Portanto, se quisermos facilitar a proximidade desse reino, abaixemos nossos montes, aterremos nossos vales. Ou seja, comecemos a exercer a mudança dentro de nós, para que a exigência que fazemos para fora e para o mundo não tenha cheiro de hipocrisia, incoerência e falsidade.


sábado, 9 de junho de 2012

HOMILIA X DOMINGO COMUM

"Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe: 'Onde estás?' Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu e me escondi" Gn. 3,9-10.
Caríssimos irmãos, o trecho que acabamos de ler, indica um gesto por demais interessante: Deus vindo ao encontro do homem, Deus vindo em busca do homem, aliás um encontro, uma busca que já eram comuns nos finais de tarde, se é que podemos pegar carona na imaginação do autor.
Mas o trecho revela outra situação, a do homem e da mulher. Ambos estão escondidos. Estar escondido é estar num lugar em que não pode, ou não quer ser descoberto. Essa é a situação de Adão e Eva. Estão fugindo, se escondendo. Fugir, se esconder é próprio de quem falhou, de quem errou, de quem está envergonhado pelo mal praticado.
Aí vem o medo, a vergonha, a humilhação, o sofrimento. Foi assim com o filho pródigo. Humilhado e derrotado, sofria distante,  abandonado, sem se quer ter direito a comer as lavagens que os porcos comiam. Foi assim com a Madalena, na casa daquele fariseu, se pôs por trás, humilhada, derrotada, ferida por seus pecados.
É assim que acontece com todos nós. Ao errarmos, o mundo desmorona por sobre nossa cabeça. Ficamos um trapo, um lixo, um aborto, e como Adão e Eva também fugimos, nos escondemos, mentimos, tentando justificar o injustificável - nossos erros, como se eles não existissem.
Quantos irmãos nossos, pessoas fantásticas, esforçadas, combatentes, num dado momento erraram, falharam, se enganaram, e quase estragaram suas vidas.
Feliz aquele que diante de tal situação ainda encontra algumas ramagens, algumas folhagens. Verdade que isso não esconde ninguém, não guarda ninguém, mas não é a folhagem muito menos a ramagem que se quer realçar aqui, mas a graça, a misericórdia, o perdão do Pai que continua a chamar Pedro, João, Maria, Antonio, onde estás?
Apesar do simbolismo do texto, nós podemos agora nos reportar, viajar para este paraíso, para esse jardim imaginário, e fazer dele um lugar real, espiritual, teológico, um lugar do nosso encontro com Deus, que mais uma vez vem para passear conosco nas tardes turvas das nossas vidas.

"Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: Ele está fora de si" Mc. 3,21.
 É importante notar que essa atitude dos parentes de Jesus se dá no momento em que Jesus está junto  à uma grande multidão, sem tempo até para comer. "Também os escribas que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele esta possuído por beelzebul". Mc. 3,22a.
Meus irmãos não se lê na Bíblia nenhuma passagem sobre alguém próximo de Jesus, querendo prendê-lo, amarrá-lo, ou coisa semelhante, no momento em que Jesus oferece curas e  milagres. Porque realmente a reação dos seus parentes, não é porque ele trocou a comida pelo serviço, não, a reação, é exatamente, porque o discurso mudou, a era dos milagres passou, o discurso chama para um compromisso, uma mudança e uma conversão; e como isso desagrada, e como isso desafia, e como isso incomoda, então, aquele que era tão bom quando fazia milagres, agora é um louco, um fora de si e, portanto, tendo que ser preso.
O mundo atual precisa de pessoas loucas como Jesus, pessoas capazes de dizerem não a si, para dizerem sim a tantos que chegam em dias e horários nem sempre convenientes. Quantas vezes já liguei pra colegas padres e sua secretária respondeu: Ele não pode atender, está dormindo. E não era uma multidão.
O mundo precisa de pessoas loucas como Jesus, que não temam a censura dos "seus" por atitudes contrárias à ordem e ao sistema, se esse sistema envelhecido não consegue ver a pessoa.
Pessoas que sejam capazes de quebrar as correntes da regra e da lei para promover o bem e a justiça àqueles que o mundo os baniu.
Com certeza foi isso que levou Jesus ser acusado de louco por seus parentes. Seu encontro com os publicanos e pecadores, seu diálogo com uma pagã da Samaria, suas transgressões para com o cumprimento da lei do sábado.
Chamar Jesus de louco nesse contexto, é assumir publicamente que não se enquadra no seu projeto, não entra na sua casa, não aceita a sua proposta, por isso estão fora.
Meus irmãos, façamos todo esforço possível para estarmos dentro, dentro da casa, dentro do projeto, dentro da proposta de Jesus. Mas um dentro que não seja apenas na teoria, na oração, na repetição de ritos religiosos.
Mas dentro, por causa da atitude, da coragem, da ousadia de propôr um mundo diferente, uma Igreja diferente, uma família diferente. Um homem e uma mulher diferentes.
Nem que para isso você seja chamado de demônio. É melhor ser chamado de demônio fazendo alguma coisa pelo irmão, que ser chamado de inútil, de inerte e de nada, porque nada fez pelo irmão.





domingo, 3 de junho de 2012

FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

"Nos primeiros tempos da Igreja não houve a percepção de sua necessidade, justamente porque todos os domingos era celebrada a Trindade. Em todo ocaso essa festa existe e nós a aceitamos como uma oportunidade para meditar sobre o Deus que acreditamos". Fernando Armellini. Celebrando a Palavra.

"Toda autoridade me foi dada no céu e na terra."Mt. 28,18b
Meus irmãos comecemos por buscar sentir, entender o sentido, a natureza, o modo de autoridade de que está falando Jesus. Muitas vezes o nosso entendimento acerca do tema, consiste no exercício de dominar, oprimir, mandar, derrotar as pessoas. As vezes dizemos, e isso se dá infelizmente entre alguns de nós padres, aqui na paróquia quem manda sou eu.

É verdade que no exercício administrativo, seja, ele, na Igreja ou em outra Instituição, existem algumas situações em que é preciso ter pulso firme, porque entendemos que tal situação está prejudicando a comunidade, o grupo e a própria caminhada. Porém, estufar o peito, engrossar a garganta e dizer aqui quem manda sou eu, parece um tanto exagerado, não conhecemos em toda a Bíblia, nenhum momento em que Jesus ostenta seu poder e autoridade por essas vias. Ao contrário, o seu poder sempre foi baseado no serviço, na doação e na total entrega por amor. "Não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos". Isto ele falou em Jerusalém depois que Tiago e João, ambicionando um poder temporal, pediram-Lhe para ficar, um à sua direita e o outro à sua esquerda no Templo.

"Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Mt. 28,19
Meus irmãos como podem ver, o papel dos apóstolos, o nosso papel é introduzir, é reunir, é congregar toda a comunidade, todos os povos em torno do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Para tanto, como os Apóstolos somos investidos.

Investir aqui não tem relação com o ato de vestir trajes, porque o traje aqui é o Espírito Santo recebido, o traje aqui é poder, a autoridade que recebemos de Jesus, para, igualmente empoderarmos a comunidade, os irmãos, através do batismo oferecido, e através de um novo jeito de praticar, de entender e de ler a relação poder verso serviço e serviço verso poder.

Mas não podemos esquecer que hoje celebramos a festa da Santíssima Trindade. Um dogma, dentre todos o maior. E o que é um dogma?  O dogma é uma verdade absolutamente segura sobre a qual não pode haver dúvidas nenhuma.

O dogma de hoje proclama a verdade do mistério trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo. O mistério não é algo impossível de existir, mesmo que nossa inteligência não o alcance. Até porque se alcançasse deixaria de ser mistério.

Entendendo que a Santíssima Trindade não pode ser tocada por nós, por nossos olhos nem por nossas mãos, então, toquemos na irmã, toquemos no irmão. Esses você pode tocar, esses você pode abraçar, esses você pode sentir, esses você pode amar e perdoar. E ao fazermos assim, não é o irmão que abraçamos, nem a irmã que tocamos, mas tocamos e abraçamos a Trindade que nele e que nela está.