terça-feira, 13 de novembro de 2012

HOMILIA XXXIII DOMINGO COMUM

 "Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor, cairão astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas." Mc. 13,24-25.

Meus irmãos não é tarefa fácil falar acerca do fim dos tempos, do fim do mundo. Mas a liturgia de hoje nos apresenta esse desafio. Se eu fosse um protestante fanático eu aproveitaria o ensejo dessa linguagem apocalíptica e iniciaria essa homilia, vomitando um monte de asneiras acerca da volta do Senhor, marcando datas, anunciando  catástrofes e causando um grande sofrimento às pessoas.

Sobre o que está marcado acima, nos diz Fernando Armelinni: "Antigamente os astros do céu eram considerados divindades, que tinham influência sobre a vida dos homens, podendo até trazer benefícios, por isso era preciso lhes oferecer sacrifícios. Visando refutar esse tipo de  religião, ou seja, buscando enfraquecer o culto dos que adoravam o sol, a lua e as estrelas, os profetas tinham afirmado que um dia estes corpos celestes teriam perdido a sua luz e teriam caído. Não queriam dizer que as forças cósmicas seriam abaladas, e que o firmamento seria abalado sobre nossas cabeças, mas que o mundo pagão, representado por estes astros, teria sido destruído".

 Meus irmãos em todas as épocas, tempos e lugares se deram situações difíceis, tempestuosas, tenebrosas, angustiantes, dolorosas, como também, momentos de felicidade, de calma, tranquilidade e muita paz.

O que ocorre é que muitas vezes a aproximação e o dado dos acontecimentos turbulentos deixam as pessoas em profunda aflição. E como se não bastasse, ainda chegam alguns metidos a "profetas", que citando frases da Bíblia, relacionam tais acontecimentos a um possível e iminente fim do mundo, aprofundando o medo e o sofrimento das pessoas.

Quanto a esta questão, Jesus adverte para não darmos ouvidos a esta gente. E sobre os acontecimentos, os sofrimentos, os cataclismos, as tempestades, não devem ser lidos como um fator negativo, uma desgraça, uma derrota total. Mas como a possibilidade de uma nova vida que está surgindo.

Neste momento não são poucos os cataclismos, as tempestades, vivenciados na Igreja, na família, na política, na comunidade e na sociedade como um todo. Cataclismos e tempestades que não deixam de abalar, entristecer e dasanimar muitas mentes e corações, porém, não é o fim.

Quantas pessoas não decretaram o seu fim, o fim de está naquela Igreja, o fim de está naquela comunidade, o fim de está naquele grupo, o fim de está com aquele pai, com aquela mãe, exatamente, porque não suportaram, não aguentaram as tempestades e os abalos causados por alguma situação ali experimentada e ali vivida.

Meus irmãos, como seria a vida se as estações fossem só outono e primavera? Será que essas duas estações possibilitariam sentir por inteiro o sabor da vida? Não será, depois de grandes invernos, de fortes chuvas, que o chão é sulcado e molhado, e faz a semente ganhar força, crescer e fruticar melhor na próxima estação?

Lembre, neste instante você é esta semente, possivelmente sacudida, jogada, incompreendida e injustiçada de todos os lados.  A sua percepção é que o mundo desabou sobre você. E a melhor maneira é desistir de tudo.

Não desista: Dificuldades são para serem superadas. E ninguém as supera desistindo, desanimando e fugindo. Se supera, enfrentando, se supera acreditando, se supera aceitando a humilhação e o enterramento, para logo depois brotar como uma grande árvore, capaz de descansar muitos corações, inclusive aqueles que lhes lançaram no chão, pois sem saber lhes fizeram um grande bem, pois lhes fizeram uma grande árvore.









quinta-feira, 8 de novembro de 2012

HOMILIA XXXII DOMINGO COMUM

"Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas, e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes" Mc. 12, 38-39.

Meus irmãos comecemos por conhecer melhor esse grupo de que, tanto,  fala a Bíblia, os escribas. Quem são eles?

"Eram especialista no conhecimento dos preceitos do Senhor e das suas prescrições para o povo de Israel, eram os que interpretavam com autoridade a lei de Deus e julgavam nos tribunais os que não a cumpriam" Fernando Armellini.

Há alguns domingos atrás, refletimos neste espaço sobre um pedido feito a Jesus por dois irmãos. Tiago e João exigiam sentar-se ao lado de Jesus no Templo, como faziam aqueles que tinham o privilégio deste posto.

Jesus os reprovou, bem como o seu projeto, viu que eles não tinham compreendido nada acerca do que o Mestre havia feito e ensinado nos ítens doação e humildade.

Hoje, Jesus é muito direto, fala dos escribas, sabe da sua incoerência, conhece a sua vaidade e a sua hipocrisia, vê como eles tratam os estrangeiros, as viúvas e os órfãos, e como tentam esconder tudo isso debaixo de uma roupagem e de um verniz de santidade.

Mas o que leva Jesus ser tão crítico para com essa categoria? Por que vez por outra o encontramos em confronto com os escribas e fariseus, e, usando um tom tão forte e tão incisivo como o de hoje?

Jesus não suportava a arrogância, a vaidade e a prepotência dos fariseus e mestres da lei. A maneira como eles se separavam do povo, se distinguiam do povo, precisamente para conseguir que todos soubessem que eram de outra classe, de outra condição e de outro nível social e intelectual.

Suas vestes longas, suas faixas largas, lhes facilitavam transitar em todos os lugares, ter a cordialidade e o respeito das pessoas, e às vezes até inclinações lhes eram feitas.

"Quando não eram alvo de todos esses privilégios, quando não lhes era reservado o primeiro lugar nos banquetes, perdiam completamente o apetite". Fernando Armellini.

A propósito do que se acaba de assinalar, eu fico a imaginar a minha Igreja, fico a observar alguns líders religiosos, entre eles, bispos, padres, também leigos. Não sei se por maldade, ingonrância ou fraqueza, têm reproduzido este modelo de religiosidade.

A Igreja, a Paróquia, a Diocese, o cargo ocupado na comunidade os empoderou de tal forma, e eles passaram a ver o povo não mais como irmãos, não mais como amigos, mas como subordinados, serviçais, dominados.

Esqueceram as palavras de Jesus que disse: "Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai". Jo. 15,15.

Quando Jesus usa a expressão amigo, não está fazendo um discurso teórico e abstrato, mas fala de uma lei, a lei do amor, que vai até às últimas consequências, à doação total da vida. É esse amor que ele continua a ensinar-nos ainda hoje, para que nós, bispos, padres e coordenadores, não olhemos o povo como rebotalho e cumpridores das nossas ordens, mas como irmãos, amigos, capazes de morrermos por eles, à maneira do que fez Jesus.

 É urgente uma Igreja que se prostre, é urgente uma Igreja que se ajoelhe, é urgente uma Igreja que se curve, fazendo-se servidora dos pobres, como o fez Jesus na Última Ceia, quando se prostrou para lavar os pés dos discípulos,  ensinando,  que há muito mais alegria em conceder e brindar, do que em reter e controlar.









domingo, 4 de novembro de 2012

HOMILIA XXXI DOMINGO COMUM - FESTA DE TODOS OS SANTOS

 "Depois disso vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservava-se em pé diante do trono e diante  do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão". Apoc. 7,9.

Meus irmãos hoje a Igreja celebra a festa de Todos os Santos. Momento oportuno para nos perguntarmos: O que significa mesmo ser santo? Como ser santo em meio a um mundo tão frágil, tão falso e tão limitado, e de pessoas tão frágeis e tão limitadas? 

Olhem a História do Ferreiro, ela não é criação minha, mas ajuda-nos a entender o caminho, ou os caminhos que levam à santidade.

"Na cidade onde eu nasci, havia um ferreiro. Todo mundo o conhecia por seu egoísmo e exageros nas festas e bebedeiras. Até que um dia resolveu mudar de vida. Começou a trabalhar duro e a ajudar as pessoas. Mostrava-se caridoso e prestativo. O estranho é que, mesmo com toda a bondade que demonstrava, sua vida não ia bem. Os problemas aumentavam, as dívidas cresciam e assim por diante. Certo dia, um de seus amigos foi visitá-lo. Durante a conversa, ele comentou.

Que coisa estranha a sua vida. Justamente depois de você ter se tornado um homem bom, as coisas pioraram. Apesar de tudo o que você tem feito, parece que voce está indo para trás.

O ferreiro permaneceu em silêncio. Na verdade já havia pensado nisso diversas vezes, sem entender a razão. Depois de alguns instantes disse ao amigo.

Aqui na minha oficina eu recebo o ferro bruto e o transformo em facões. Você sabe como isso é possível? Primeiro eu preciso aquecer o ferro num fogo muito alto, até que fique bem vermelho. Depois é preciso bater com muita força até que fique no formato que eu quero. Aí eu pego o ferro e o mergulho na água fria. O vapor e os estalos tomam conta de toda a ferraria. Repito este processo várias vezes, até conseguir  o fio perfeito para a lâmina. Uma vez só não é suficiente.


Mas um tempo de silêncio e o ferreiro continuou:


Às vezes o ferro que eu tenho não resiste a esse processo. O calor, a água fria e as marteladas, acabam deixando muita rachadura na lâmina. Este ferro jamais se tornará um grande facão. Deixo-o de lado. Talvez o use apenas para coisas de pouca utilidade.


O amigo estava mergulhado em seus pensamentos a fim de descobrir aonde o ferreiro queria chegar. Ele, então, completou:

Sei que o tempo está me colocando no fogo das aflições. Estou aceitando as marteladas que a vida me dá, e a frieza da água me deixa em choque. A única coisa que eu quero é resistir até conseguir a forma perfeita. Até ser um homem virtuoso. Não quero ficar de lado abandonado por Deus, sem ter utilidade." Wikio.


Esta história ilustra bem a luta, a batalha que precisamos travar para subirmos ao podium da santidade. E as lutas mais árduas e mais difíceis serão aquelas que precisamos travar conosco mesmos.

E uma dessas lutas, é tornar brancas as nossas vestes, não aquelas materiais, compradas nos shoppings e nas lojas, que facilmente se lava, mas não muda nada, não transforma nada, mas sim, as vestes do espírito, as vestes do coração, as vestes da mente, que uma vez lavadas, purificadas, nos tornam homens e mulheres santos, santas.

Tenho certeza que se perguntarmos para as pesoas sobre seu desejo de santidade, todas o têm, como também não teriam dificuldade em reconhecer os desafios contidos neste ideal.

Nós somos um ferro, como ilustramos acima, um ferro às vezes duro de dobrar, duro de aceitar chegar à forma ideal. Temos dificuldade de abrir mão dos nossos interesses, vícios, paixões, verdades, vaidades, razões. Aceitamos ser aquecidos e talvez até queimados, mas não com um fogo muito forte, queremos fogo brando que é pra não queimar tanto, que é pra não doer tanto, que é pra não mudar tanto.

Ou seja, eu sou daquele tipo de ferro fraco, medroso, covarde, que tenho medo de arriscar mudanças. Quando recebo uma pancada, uma materlada do irmão, na comunidade, desisto, abandono, me escondo, fico de lado, sou um ferro fraco, rachado. Não aceito o fogo forte, não aceito o calor alto, não chego à condição de fio próprio para a lâmina, não serei, portanto, um facão na horta do senhor.

Você está passando por momentos difíceis? As coisas também não estão dando certo para você? Não se desespere, não desista. Aceite este tempo de aflição, aguente as marteladas, aguente os insultos e as pancadas, é essa sua teimosia, é essa sua ousadia, que lhe fará chegar à forma perfeita, à mulher perfeita, ao homem pefeito, à mulher santa, ao homem santo.