domingo, 20 de outubro de 2013

HOMILIA XXIX DOMINGO COMUM


Caríssimos irmãos uma palavra breve sobre o Evangelho de hoje. Jesus conta uma parábola sobre uma viúva e um juiz insensível e malvado. Tal viúva não conseguia defender-se das opressões de tal juiz, que não temia a Deus, nem os homens, embora ouvisse todas as queixas da viúva. A situação se parece com a realidade de tanta gente pobre, doente, abandonada por esse país, que mesmo intercedendo a Deus continuamente, Deus parece um silêncio só.
Mas o texto diz que tal juiz, de tanto a viúva insistir, para não ser mais importunado, chateado, azucrinado busca resolver a situação da viúva. Para não deixar dúvida acerca do parágrafo anterior, lembremos que se trata de uma parábola, e o que Jesus quer assinalar é que o aparente silêncio de Deus ou sua demora não significa indiferença ou atitude semelhante à figura do evangelho, mas ao contrário, como o próprio Jesus coloca , Deus faz justiça noite e dia aos que clamam por ele.
Na verdade o evangelho quer chamar a nossa atenção sobre a paciência que devemos ter em relação ao tempo de Deus, nós é que somos imediatistas e como não vemos o resultados dos nossos desejos no tempo e na hora em que desejamos, achamos que Deus fechou os olhos e os ouvidos à nossa causa.
Falta-nos a paciência, e entender que esse tempo, não significa abandono de Deus para conosco, bem como para com nossas necessidades, mas o tempo é uma oportunidade para a gente converter o joio insistente e teimoso dentro de nós, em trigo, capaz de ser colhido para o celeiro do Senhor.     


domingo, 13 de outubro de 2013

HOMILIA XXVIII DOMINGO COMUM


"Jesus Mestre, tem compaixão de nós!"
Meus irmãos passando entre a Samaria e a Galileia, Jesus encontra dez leprosos. 
Meus irmãos, antes de Jesus e no tempo de Jesus os leprosos eram por demais desprezados e marginalizados. Uma vez descobertos que estavam com a doença, deviam se afastar das pessoas, deixar o cabelo e a barba crescerem, vestir-se de trapos, ficar à distância das pessoas, e  à sua aproximação gritar bem alto: afastem-se de mim, que sou um leproso. Tudo, segundo a lei.
Meus irmãos os leprosos sempre obedeceram a lei, mas hoje nesta cena, como que cansados de uma vida que não é vida, saturados de um caminho de mendicância sem enxergarem um horizonte promissor, seguem gritando. Gritando contra a lei, gritando contra o preconceito, gritando contra o próprio sistema religioso que os deixavam à distância, excluídos e marginalizados, machucando-os , ferindo-os e oprimindo-os muito mais que a lepra que carregavam.
Jesus Mestre, tem compaixão de nós. E Jesus, igualmente saturado daquela lei, daquele sistema e daquela religião tão velhos e tão mesquinhos, diz: Vão e apresentem-se ao sacerdote. Enquanto caminhavam aconteceu que ficaram curados. Neste instante um samaritano que estava entre eles, voltou. Voltou dando graças, voltou apressado, voltou alegre e jogou-se ao chão, lançou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu.
Aí Jesus pergunta: Não eram dez os curados? Por que só este voltou? Por que os outros foram embora? Foram embora porque se bastaram, se contentaram com aquela cura física e exterior. 
Mas Cristo queria fazer muito mais, queria curar a mente, queria curar o espírito, queria curar o coração.
Por que só um voltou? Porque só um percebeu que não basta se livrar dos problemas e das doenças do dia-a-dia, não basta se livrar dos problemas e das doenças relacionadas ao físico, ao psíquico, ao emocional, ao familiar, ao econômico e ao social. Mas é preciso converter, mudar, limpar, curar o coração, deixar para trás mágoas e os ressentimentos, lepras que adoecem o coração e secam a alma. E foi exatamente porque entendeu isto, que pôde ouvir dos lábios de Jesus: Levanta-te e vai, a tua fé te salvou.
Meu irmão, você que experimentar a salvação? Você quer que esse som ressoe em seus ouvidos,  o mesmo que ressoou nos ouvidos do samaritano? Então, faça como ele, não se baste ao seu sofá, não se baste ao seu trabalho, não se baste ao seu prazer, à sua casa, à sua família, mas volte e se deixe servir como discípulo de Jesus. Levante -se do seu comodismo, das suas "seguranças", do seu egoísmo, das suas tristezas, das suas verdades, das suas razões, das suas vaidades, levante-se dos seus vícios, e vá a tua fé te salvou.








terça-feira, 17 de setembro de 2013

TERÇA - FEIRA XXVI SEMANA COMUM


A VIÚVA DE NAIM
Meus irmãos, gostaria de começar nossa conversa a partir da primeira frase forte de Jesus, frase dita a uma viúva que acabara de perder seu filho, seu único filho. "Não Chores".
Meus irmãos. Quem é que está chorando? Quem é que está sofrendo? Quem é que está triste?
Meus irmãos há muita gente chorando, triste, sofrendo na atual sociedade. São crianças, jovens, velhinhos, velhinhas, homens, mulheres.
Choram as mães porque não conseguem admitir o fato de perderem seus filhos para as drogas e para as bebidas. Choram porque não conseguem conceber como seus filhos podem ser tão frágeis e tão ingênuos, que não percebem as arapucas e as armadilhas preparadas e arquitetadas no mundo em que vivem. Choram ainda, porque, por mais que tenham lutado e se esforçado para oferecer uma vida mais dígina para eles, viram seus esforços frustrados por um sistema político e econômico que distingue, separa, e que como um rio só corre para a direção dos que menos precisam.
Quantas estão chorando em suas casas, com fome, frio e sede, doentes, sentido-se derrotadas e humilhadas pela sua dor, porque o médico também é de poucos e doutos.
E claro, mesmo sabendo que não é papel da Igreja assumir o papel do estado, a Igreja sabe que trai Jesus e seu evangelho se não se fizer solidária e companheira, debruçar-se sobre esses irmãos promovendo vida e dignidade.
Se debruçar é assumir aquela situação, é abraçar aquela causa, é sair dos cantos e orações emotivos, mas mornos, e se pronunciar em favor daqueles que estão sendo enganados, desprezados  roubados na sua dignidade e na sua vida.
Jovem! Eu te ordeno: Levanta-te. Quanto à doença que derrubou o jovem,o evangelho não diz, por isso não sabemos. Mas sabemos quais as causas de quedas e de mortes de muitos jovens hoje na nossa cidade, na nossa sociedade. Bebidas, drogas, brigas, velocidades, sexo. Estes jovens se encontram caídos. E Jesus que sempre passa onde eles se encontram repete: Jovem! Eu te ordeno: Levanta-te.



domingo, 15 de setembro de 2013

XXIV DOMINGO COMUM


A OVELHA, A DRACMA E O FILHO PRODIGO

Caríssimos irmãos o aspecto geográfico da Palestina marcado por grandes montanhas e vales, não suportava os tempos chuvosos sem que ficassem algumas erosões ou valas, como também conhecemos, valas essas traidoras das ovelhas que por ali passavam ou sozinhas, ou tocadas por seus pastores. Ao chegar ao aprisco e ao contar as ovelhas, o pastor dando pela falta da que ficou, volta e vai à procura e ao encontrá-la, coloca-a nos ombros e volta para casa cheio de alegria.
Quanto a moeda procurada com tanto cuidado pela mulher revela como Deus não quer perder nenhum dos seus filhos.
Quanto à terceira parábola nos faz pensar nas vezes em que somos chamados a atenção acerca de algo ou de alguma coisa, que estão na contra - mão de direção da nossa vida e da nossa dignidade. No entanto, todas as parábolas têm dois movimentos: da criatura para o criador e do Criador para a criatura. Verdade que nas cenas de hoje, no que tange à conversão do cristão o movimento inicial é sempre do Criador. É Ele que procura a moeda, é Ele que vai à procura da ovelha, é Ele que cobre de afagos e de beijos o filho que volta.
Importante é observar o que levou Jesus à terceira parábola. Ele a cria como resposta aos escribas e fariseus que murmuram sua ação de caridade e amor para com os pecadores e publicanos. O que se diz está obvio na reação do filho mais velho. "Eu nunca desobedeci a qualquer ordem tua, e tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos". 
Há irmãos assim, há católicos assim, há evangélicos assim."Fazem tudo direito", e por isso se acham sozinhos dignos do amor do Pai. Há até quem encha o peito e em alta voz proclame, como sendo os únicos que se salvam, como se o sangue que o pastor derramou na cruz tivesse corrido em só uma direção. A salvação não é propriedade dessa ou daquela Igreja, dessa ou daquela religião. A salvação é um dom, uma graça que o Pai oferece a todos. A salvação é dada aos evangélicos, aos católicos, aos pais de santo, aos homossexuais, às prostituídas, aos negros, aos índios, em fim, é dada a todas as ovelhas que não recusam o convite do Pastor.
Diz Fernando Armellini: Os rabinos recomendavam: "Ninguém deve se juntar aos ímpios, nem mesmo para convencê-los a seguir a lei de Deus".
O filho mais velho não entra, fica de longe, não se mistura. Ele é "justo", ele é "santo", ele "não falha", "não erra". Por isso, fica fora, longe, e aí está o perigo desses espíritos e desses corações. Se acharem santos demais, justos demais, salvos demais e perderem a chance dada aos publicanos e pecadores. Perderem a festa da Salvação. 




terça-feira, 3 de setembro de 2013

HOMILIA XXIII DOMINGO COMUM


Tenho sido as vezes repetitivo quando tenho falado da importância de purificarmos, de depurarmos, de refinarmos o nosso ser cristão. Hoje, observando essas palavras dirigidas por Jesus, vejo que estou no caminho certo. Ele não diz as minhas palavras, diz palavras muito mais fortes, muito mais firmes e muito mais duras até. " Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, até a própria vida, não pode ser meu discípulo".
Não poucas vezes tenho feito perguntas acerca da razão, do verdadeiro sentido de se ir, de se está numa eucaristia. E ajudando a lembrar várias delas, eu acrescento que é importante se está ali também por causa do amor, por causa do Espírito Santo, por causa de Jesus.
Tem sido sim uma preocupação de toda a Igreja a evasão dos nossos fiéis, tem sido sim nossa preocupação quando um irmão, uma irmã nos deixa para está em outro seguimento religioso, tem sido sim motivo de alegria nosso,  quando nos encontramos em multidões. Mas talvez temos nos perguntado pouco: Essa multidão é cristã? Essa multidão é humana? Essa multidão tem, carrega os pensamentos humanos de Cristo? Essa multidão tem consigo uma Igreja que lhe apresenta os pensamentos humanos, fraternos, simples de Cristo? Ou nossa multidão é só emoção, é só louvor, é só oração, mas pouco humana e pouco cristã?
Jesus não quer que nenhum filho ou filha odeie seu pai, sua mãe, seu irmão, sua irmã. Mas Jesus deseja que frente a uma escolha que temos que fazer entre ele e os nossos interesses humanos, entre ele e os nossos ganhos humanos, mesmos os familiares, não podemos, nem devemos titubear. Não devemos ter dúvida. Ocorre que nem sempre é assim. Na verdade muitos nem titubeiam, mas ao contrário, decidem rapidamente que o melhor mesmo é amar a casa, o comércio, o lazer, o prazer, o trabalho, a família. E Cristo, bom, Cristo que espere mais um pouco, esse pouco será quando todos os seus interesses humano - materiais forem realizados, esgotados, satisfeitos, aí talvez Cristo mereça sua atenção, que na verdade, é o resto, o sobejo, a sobra que ele está dando. Pergunto: Essa é uma pessoa cristã? Essa é uma pessoa convertida? Pode ser uma pessoa muito boa, caridosa até, mas está longe do Cristianismo. 
Conforme o Evangelho de hoje Jesus não está preocupado se sua proposta é dura de aceitar, Jesus não está preocupado se sua proposta é violenta e não vai atrair muita gente. Ele não quer muita gente. Ele quer gente que não hesite em decidir por ele, pelo amor dele, pelo Espírito dele, pela proposta humano, cristã Dele, mesmo que para isso a pessoa tenha que cortar na própria carne, essa carne é a família.



sábado, 31 de agosto de 2013

XXII DOMINGO COMUM


"Sê modesto.... comporta-te como uma pessoa humilde". 
Esta frase se encontra na primeira  leitura deste domingo. Ou como sugere Jesus no Evangelho: "Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado".
O termo humilhar, ou humilhar-se, poderia soar nos nossos ouvidos como uma grande pergunta. O que se entende por humilhar, ser humilde? E mesmo que buscássemos muitas respostas acerca da questão, talvez passássemos longe do real significado, uma vez que responder a essa pergunta, requer ter os olhos na terra e no céu. Resposta nem sempre dada através de conceitos e teorias, mas de gestos e atitudes.
Mas se quisermos mesmo ter a noção clara acerca do tema, temos um mestre em teoria e gestos - Jesus. Pois bem, se Jesus é mestre em humildade tanto no falar quanto no agir, porque nossa Igreja, nossas comunidades, nossas lideranças, nossos padres  ainda são tão duros, frios, autoritários. Por que nas nossas comunidades e na nossa Igreja falar de um Jesus humano, sensível, conversador, brincalhão, que se mistura com as pessoas, mesmo aquelas mais suspeitas do ponto de vista da moral e da pureza causa medo e escândalo em tanta gente?
Será que esse Jesus tão sério, tão carrancudo e tão austero que nós passamos para as pessoas é coerente com o nosso modo de ser mesmo, ou tudo não passa de uma farsa e de uma hipocrisia?
É triste ver como o título padre tem revelado irmãos que pareciam ovelhas, tornarem-se lobos ferozes e que devoram outros irmãos, devoram o povo, devoram a Igreja.
Jesus nunca demonstrou interesse em vestir seus discípulos de títulos e de méritos, mas os quis vestir de humildade e de amor. Quando no caminho para Jerusalém os filhos de Zebedeu lhes pediram um lugar no templo, ele disse: "Vocês não sabem o que pedir". Criticou duramente os fariseus que gostavam de títulos e de aparecer diante das pessoas. 
Muitos de nós padres só temos esse título, mas suficiente para pisarmos, humilharmos pessoas, colegas. Impomos uma Igreja autoritária, moralista, fechada, distante, que lança ao rosto do povo suas regras descontextualizadas, pra não dizer envelhecidas, anacrônicas, frente à realidade dos seus filhos e de suas filhas. Para esses irmãos não parece ser uma Igreja  Conosco, como Jesus é o Emanuel, Deus Conosco.



domingo, 12 de maio de 2013

VII DOMINGO PASCAL


Meus irmãos na festa da Ascensão do Senhor, achei oportuno insistir nas minhas velhas e repetidas pergunta: Por que estamos aqui? Por que vimos aqui? Parte desas respostas ouvi de meu anterior bispo, hoje emérito, Dom Valter Carrijo. Certamente estamos, aqui, vimos aqui para nos encontrar com Jesus, para abrir o nossos coração para Ele.

E por que nós vimos falar com Ele? Porque queremos modificar, queremos abandonar a velha forma do mundo em nós, queremos transformar a nossa vida, moldar a nossa vida à vida de Cristo.

E essa renovação, essa transformação, é que vão me levar à condição de pessoa salva. E quando é que estou salvo? Quando eu experimentar na minha vida o amor de Jesus, porque só este amor é capaz de me fazer uma pessoa livre, não das outras pessoas, nem da dor, nem dos sofrimentos, nem das ciladas, ou das injustiças, mas livre de mim mesmo e de tudo o que envolve a minha sensibilidade.

Ele perguntava: Você já notou que o maior inimigo de você não é o outro, mas você mesmo? Você está sempre rezando, pedindo, clamando para Deus te livrar daquele problema, daquele marido, daquele vizinho. Você nunca pede a Deus para que ele te livre do teu egoísmo, da tua vaidade, do ressentimento e da tua sensibilidade.

Meu irmão, no dia que você tiver livre de você mesmo, você vai fazer uma oração diferente. Você vai rezar assim: Meu Deus me dá a graça de aceitar essa pessoa, de aceitar esse marido grosso, esse filho teimoso, esse vizinho perturbador, esse padre fraco, chato, abusado.

Meus irmãos na  convivência muitos relacionamentos não dão certo, porque ninguém quer sofrer, ninguém quer ceder, ninguém quer chegar ao homem adulto, maduro. "Sementinha de melancia você quer ser o quê? quero ser melancia. Certo, pois a natureza segue o seu ritmo. Mas o pai pergunta ao seu filho: Filho você quer ser o quê? Quero ser médico, advogado, juiz, ganhar muito dinheiro. Errado. Você quer ser homem. E para ser homem você precisa sofrer, experimentar a cruz. Quem não experimenta a cruz não cresce, não amadurece.

Nós vamos ser homens maduros, pessoas maduras, quando descermos do prazer, do sentimento ao amor. Enquanto isso não acontecer, nós vamos reclamar de muitas coisas, do sol que está quente, da distância que é muito longa, da comida que não tá gostosa, da homilia que não termina, ou seja, seremos como aquelas crianças que ficam sempre reclamando de tudo, pessoas sensíveis e melindrosas.

Há! Meu Deus! Esse homem, essa mulher, esse vizinho. Deus errou em ter me dado essa mulher, esse vizinho, esse marido. Não, Deus não errou em ter lhe dado esse marido, esse vizinho, essa mulher. Você é que ainda não morreu em sua parte sensível e depende de sombras, de condição, para ser feliz. O prazer é por demais importante, mas temos que ultrapassá-lo e chegar ao amor.

Quando você chegar ao amor você vai suportar aquele marido, aquele vizinho, mesmos que eles sejam chatos e perturbadores, porque você tem o amor de Jesus, você agora é uma pessoa livre.

Na briga, seja ela de um casal ou de outras pessoas, o pensamento primeiro é separar, ninguém pensa que o melhor jeito é corrigir. Todos nós nascemos para vivermos juntos e sermos felizes. Esposos, esposas, profissionais, irmãos, irmãs vocês nasceram para viverem juntos e serem felizes.


domingo, 5 de maio de 2013

VI DOMINGO DA PÁSCOA


Meus irmãos nesta noite Jesus se nos apresenta fazendo a seguinte afirmação: Se alguém me ama guardará minha palavra e meu Pai o amará e nós viremos e faremos nele a nossa morada. 


Mas o que significa amar Jesus? Será ficar longas horas em intimidade e adoração junto ao Santíssimo Sacramento? Será  fazer longas orações? Será ainda fazer gestos fraternos, solidários, tendo em vista a fome e as doenças que matam tantos irmãos?


Meus irmãos tudo isso é valioso, é importante, é necessário, haja vista tantas pessoas que necessitam de gestos como estes. Quantas crianças bem perto de nós, quantos jovens, pais de família amargam uma vida sem vida, e lhe faltam uma vida com vida, que é vida com pão, com casa, com saúde, com educação de qualidade. Agora tudo isso, perde todas as forças se não tiver junto o tempero do amor.

E o que é o amor? O amor é o azeite, o amor é o óleo do coco que foi quebrado, queimado, pisado para alimentar o seu dono. Se fazemos todos os atos de caridade, se conduzimos os mais fortes e belos momentos de oração, se entoamos os mais belos cantos, mas se não nos dobramos, não nos quebramos, não aceitamos a humilhação; e ao contrário nos escondemos, fugimos, nos afastamos, choramigamos, e o pior construímos mentiras para nos darmos bem, faltamos com o amor. Deixamos de guardar os mandamentos do amor como sugere Jesus nesta noite.

Mas Jesus também sugere a paz. Eu vos deixo a paz, a minha paz eu vos dou, e não a dou como o mundo dá. Diante das ameaças advindas de países do médio oriente, assistimos a repetidos encontros das Nações Unidas negociando um tempo de paz entre os povos. Essa iniciativa por melhor que seja, jamais será eficaz no objetivo que pretende. A paz não é uma mercadoria que se põe sobre a mesa e se negocia às custas de cifras altas e caras. A paz é uma graça, é um dom oferecidos gratuitamente por Jesus aos corações dos homens e das mulheres, dispostos a acolhê-los e a recebê-los.

Há uma compreensão equivocada acerca da paz, como ausência de conflitos. Conflitos que surgem dentro da nossa casa, dentro da própria comunidade, revelam a dificuldade que temos para compreender a paz à maneira de Jesus.

Numa outra homilia sobre este mesmo tema, eu disse: Quantas vezes diante de situações de medo, dor, sofrimento, angústia, nós esperamos, e até clamamos por um pouco de paz. E a paz aqui é a ausência, a eliminação, o fim de tudo que até então nos machuca, nos humilha e nos fere. Pois bem, a paz que Jesus trás não tem essa finalidade.   A paz que ele oferece não tem por finalidade lhe defender, lhe proteger das possíveis traições, das possíveis perseguições, das possíveis dores e sofrimentos que poderão lhe acontecer. Mas a paz que Jesus oferece é no sentido de lhe fazer uma pessoa nova, diferente, mudada. Dessa maneira, mesmo que ao seu redor as coisas, o cenário, o tempo continue fechado, escuro, você estará sereno, calmo, tranquilo, confiante, porque você mudou. Nem sempre as coisas vão mudar na hora, no tempo e do jeito que você quer. Assim, quem tem que mudar é você para suportá-las e amá-las do jeito e da forma que elas estão se dando e são.

Uma paz que não releva, uma paz que não tolera, uma paz que não supera não é paz que traz vida. 












sábado, 20 de abril de 2013

IV DOMINGO DA PÁSCOA


"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem". Jo 10,27

"Era uma vez um visitante que percorreu a Síria e encontrou três pastores de ovelhas que davam água a seu rebanho junto a um  poço.

As ovelhas estavam todas misturadas e um estranho poderia pensar que se tratava de um único rebanho. Daqui a pouco, um dos pastores se levantou e chamou "Mene - Ah", que em árabe, significa vem comigo. Imediatamente umas trinta ovelhas se separaram do  grupo e seguiram seu pastor morro acima.

Também o segundo pastor afastou-se um pouco e exclamou o seu "Mene - Ah" e seguiu com o seu rebanho. Admirado, o viajante perguntou ao pastor que tinha ficado. Suas ovelhas me seguiriam se eu as chamasse? Por que você não experimenta? Respondeu ele. E se eu usasse sua capa e seu cajado? Não achas que elas pensariam que eu sou você?

Sem nada dizer, o pastor ofereceu ao homem sua capa e seu cajado, e ficou observando com um sorriso nos lábios como o estranho chamava o seu "Mene - Ah", "Mene - Ah". Mas as ovelhas não lhe deram qualquer atenção. 

O pastor então explicou: Elas não seguiriam a nenhum outro. Só a ovelha doente segue a um estranho".

Gostaria ler essa estória pensando não somente nos pastores que estão nos campos da religião, mas também, estender o entendimento para as tantas lideranças que estão nos campos políticos, sociais, jurídicos, para as lideranças que cuidam de gente.

Nós sabemos como sofrem as ovelhas nas filas dos órgãos  públicos,  como são tratadas, mal tratadas, às vezes humilhadas. Como o direito que já lhe foi assegurado, precisa ser brigado, para ser conquistado. Neste caso os termos, assegurado e  conquistado divergem.

Ninguém deseja que este povo sofra nas mãos de pastores estranhos, mas quando o sofrimento se dá  no campo religioso, dentro da Igreja, dói mais.

"Vós não fortaleceis as ovelhas fracas; a doente, não a tratais; a ferida, não a curais; a transviada, não a reconduzis; a perdida, não a procurais; a todas tratai com violência e dureza" Ez. 34,4

Talvez um dos grandes perigos porque passam tantas e tantas ovelhas nos campos atuais, seja porque temos de mais pastores de capas e de cajados, mas de pouca entrega, de pouca doação e de pouco amor.

Todos sabem que capa é aquilo que envolve ou cobre alguma coisa. Existem muitos líderes envolvidos com capas de pastores, têm a aparência de pastores, mas com grande dificuldade de dá sua vida, de morrer pelas ovelhas.

Hoje são muitos "pastores", são muitas vozes, são muitos sons e são  muitos convites vindos na direção das nossas ovelhas, dos nossos jovens, dos nossos homens e mulheres. São muitos os apelos para que nossa gente aceite entrar nos redis hodiernos. E aceitam, e entram, e se deixam seduzir, e se deixam arrastar, e depois choram, e depois sofrem e depois morrem.

E por que entraram? Porque estavam desintegradas, desarmonizadas, desvinculadas, não eram melhores, nem piores, só estavam doentes.  "Ao estranho segue a ovelha doente". E uma pessoa doente, é alguém frágil, vulnerável, seduzível, capaz de ceder a qualquer grito e a qualquer voz, mesmo que sejam gritos e vozes para o sofrimento e para a dor.

O bom seria que nossas ovelhas à semelhança das ovelhas deste conto, dissessem não a certos convites e a certos apelos, para dizerem sim à sua felicidade, à sua alegria e à sua paz.










domingo, 14 de abril de 2013

III DOMINGO DE PÁSCOA


"Pedro tu me amas? Sim, Senhor, Tu sabes que eu te amo, apascenta minhas ovelhas".

Meus irmãos, é isso, simples. Ignorantes, falhos, cheios de defeitos e de fragilidades, mas ele, nos chamando, nos conduzindo, acreditando na nossa santidade. Mas claro com a condição de que  o amemos. Pedro tu me amas? 

Aqui cabe bem um trecho daquela música, "numa noite de fadiga, sobre o barco em alto mar...". Mas a fadiga aqui se relaciona ao insucesso e ao fracasso da pescaria que acabam de fazer. Os pescadores sabem como é desgastante e triste, depois de horas com as redes, as cordas, os anzóis na água, puxar e não pescar nada. Sem falar do frio ou do sol sofridos, dependendo do tempo e do horário da pescaria. 

Então, como vão as vossas pescarias? É possível que à semelhança dos pescadores deste evangelho, sua noite tenha sido de muito cansaço, frio e tribulações, mas de pouco peixes. É possível também que à semelhança daqueles pescadores seu desejo agora é desistir, desanimar, juntar as redes e voltar para casa, mesmo não levando nada. Provavelmente deve ter passado pela sua cabeça o pensamento de que não vale a pena lutar, insistir nessas águas de pouco peixes.

Não desistam, não desanimem, não enfraqueçam, vocês não são quaisquer pescadores, vocês são pescadores do Mestre da Galileia, vocês são pescadores da barca de Jesus. E pescador de Jesus que se presa não desiste, não desanima, ao contrário, olha pro tempo, encara o vento, arma o pano e vai, vai lançar as redes de novo.

Todos sabem dos obstáculos que existem no mar, que não são só a ausência de peixes em alguns pontos e momentos, mas também as pedras, os paus, os capins que às vezes engancham na rede e nas cordas e atrapalham toda a pesca.

Lançar as redes de novo é lançar a palavra, é lançar o evangelho em mentes e corações nem sempre dispostos a acolhê-los e a recebê-los, uma vez que estão abarrotados com as pedras, os paus e os capins dos tempos atuais. 

Lançar as redes de novo é abraçar o Mistério Pascal, fazendo esse caminho de libertação e salvação que tem como consequência a Cruz de Jesus. Caminho esse que não será feito sem abandonos, angústias e decepções. Pai! Por que me abandonaste? Gritou Jesus certa vez.

É possível que a raiva, o ressentimento, o cansaço, o desânimo, até a própria vingança queiram tomar parte nessa viagem. É possível que esses sentimentos se aproveitem da nossa fragilidade como se aproveitou da fragilidade Pedro e a gente queira construir um projeto só nosso, um projeto que não exija despojamento, desprendimento, sofrimento. 

Sofrimento de amar,  de acolher, de abraçar, aquele irmão, aquela irmã que mais te matou, que mais te machucou. 

Mas é assim mesmo. Um dia alguém falou: "a caminhada é feita de calvário e de ressurreição". A caminhada é feita de noites e de dias, de redes cheias e de redes vazias, de morte e de vida. E tudo isso podendo acontecer numa só hora, num só encontro, em um só dia.











sábado, 6 de abril de 2013

II DOMINGO DE PÁSCOA


"Quando João escreve (por volta do ano 95 depois de Cristo), Tomé já havia morrido há muito tempo; portanto, o episódio não é narrado para diminuir este apóstolo. Se são sublinhados com tanta insistência os problemas sobre a fé que ele teve, o motivo é  outro, e é o seguinte: o evangelista quer responder às perguntas e às objeções que os cristãos das suas comunidades levantam com uma teimosa insistência. Trata-se de cristãos da terceira geração, de pessoas que não viram o Senhor. Muitos deles nem sequer conheceram um dos apóstolos. Têm dificuldade de crer, debatem-se em meio a muitas dúvidas, gostariam de ver, tocar, se o Senhor de fato ressuscitou". Fernando Armellini - Celebrando a Palavra.

Caríssimos irmãos as dúvidas pelas quais passam os primeiros cristãos, são praticamente as mesmas de todos os apóstolos, e, porque não dizer, continuam sendo as mesmas de muitos irmãos de agora.

A fé é um caminho que se faz, caminho nem sempre curto e rápido, mas às vezes longo, lento e difícil. Isto se percebeu nas dificuldades que os apóstolos tiveram de acreditar nos episódios das últimas horas, a saber, a Morte e a Ressurreição de Jesus. A tristeza que os envolvia, o medo que os cobria eram sinais dessa fé escassa.

"Tomé chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe tudo depois. 'Vimos o Senhor'! Mas Tomé disse-lhes: Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, e não puser a mão no seu lado, não acreditarei". Jo. 20, 24 - 25.

Não sei qual o alcance da compreensão e da fé de muitos irmãos nossos, mas ao que se vê principalmente através dos Meios de Comunicação Social, o nosso mundo cristão, onde conjuga católicos e evangélicos, está cheio de Tomés ou de irmãos semelhantes aos da comunidade de São João. Irmãos que querem ver, tocar, sentir, para poder crer. E demonstram isso pegando na toalha suada do pastor, na imagem daquele santo ou daquela santa, naquele copo de água posto sobre a Televisão.

Não sabemos, mas ao que estamos vendo Tomé devia ter sido um homem com grandes dificuldades no quesito fé. E São João lembrou desse homem para servir de figura quando questionado em sua própria comunidade.

Jamais, nem eles, nem nós conseguiremos tocar, apalpar o ressuscitado, se  o quisermos, tem que ser mesmo através da fé. Se é através da fé, logo, deduzimos que aquele Jesus que andava, falava, brigava, comia, bebia, fazia milagres, nunca disse: "Põe o teu dedo e olha as minhas mãos..." Jo. 20, 27a. Mas disse, e diz em toda Eucaristia que acontece a cada domingo. Quem tem a coragem de deixar suas casas, seus afazeres, seus programas e seus prazeres para ir à Igreja no dia do Senhor, esse ouvirá do Presidente da Celebração - "A Paz esteja convosco". E nesta hora este irmão, esta irmã está tendo um encontro com o Cristo Ressuscitado.  E, não, como queriam as comunidades de São João, e como muitos de nós ainda hoje querem.







sábado, 30 de março de 2013

DOMINGO DE PÁSCOA

"No primeiro dia da semana, Maria madalena foi ao túmulo de Jesus bem de madrugada, quando ainda estava escuro". Jo 20,1.


Meus irmãos, São João diz: Quando ainda estava escuro. Mas que escuridão é essa? Que noite e que trevas são essas? Seguramente essa escuridão diz respeito à nossa incapacidade de compreender, de ver, de amar, de perdoar, de aceitar.

Na cena de hoje a escuridão é aquela que cobre a mente, que cobre o coração, que escurece o nosso espírito nos deixando sem condição de compreender tudo o que aconteceu com Jesus nas últimas horas, principalmente sua ressurreição.

Meus irmãos sair da noite é um caminho que deve ser iniciado por todos nós. Sair da noite é sair da falta de fé, do ódio, do ressentimento, dos vícios, é sair da dificuldade de compreender o irmão que convive, mora, trabalha conosco. Sair da noite é fazer uma caminhada lenta e demorada na direção da conversão, do perdão e do amor.

Para que isto aconteça é preciso ir cedo, de madrugada, à procura do Senhor. Não acordamos cedo para tanta coisa? Trabalhos, futebol, academia, caminhada, saúde? 

Então, se quisermos avançar no processo de conversão, teremos que nos juntar à Maria Madalena e irmos com ela à procura do Senhor, mesmo na escuridão das nossas misérias e fracassos, mesmo errando aqui, e acertando ali. 

Como disse antes, é uma longa estrada. Conversão leva anos, às vezes precisamos sofrer, precisamos cair mais de uma vez não de um cavalo, mas de um edifício, para a gente acordar, criar coragem, se levantar e voltar para a vida.

Meus irmãos se a gente fizer o caminho, se aceitarmos o desafio de enfrentar as trevas do nosso pecado e da nossa indiferença, do nosso ódio e do nosso rancor, veremos como aos poucos o sol da ressurreição despontará no horizonte do nosso corpo e do nosso espírito.

Ontem no último parágrafo da minha homilia da Vigília Pascal eu deixei uma dúvida sobre a possibilidade de a pedra ter sido  ou não removida do túmulo. 

Todos sabem de que perda e de que túmulo eu estava falando, todos sabem que precisamos sim, é necessária sim a remoção dessa pedra, mas não daquela matéria dura, às vezes impenetrável, encontrada no solo, mas dos ressentimentos e das mágoas que petrificam o coração, deixam-no duro e incapaz de perceber que o túmulo está de fato vazio.


sexta-feira, 29 de março de 2013

HOMILIA DE SÁBADO SANTO



“No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado.” Lc. 24,1.

Caríssimos irmãos, o Sábado chegou ao fim. Esse dia que na velha ordem, na velha lei foi dia de repouso e descanso, hoje foi um dia de tristeza, de sofrimento e de dor.

Ainda é possível contemplar os olhos dos apóstolos e das mulheres, tristes e perdidos na imensidão do infinito, tentando entender, tentando compreender, tentando conceber tudo o que se deu com o seu Senhor e Mestre.

Parece que um bombardeio caiu sobres eles, sobre suas cabeças e sobre as suas vidas, nesse sentido a única coisa que resta é correr ao túmulo, para cumprir os últimos serviços naturais àquele que morreu.

Isto mesmo, a comunidade na pessoa das mulheres vai à busca de um morto, de um defunto, ou seja, a comunidade ainda não conseguiu assimilar, não conseguiu fazer essa passagem. A realidade começa a mudar a partir do túmulo aberto e da pedra removida.

O túmulo significa fracasso, desgraça, derrota. Se o túmulo permanecesse, era a morte que permanecia, era a morte que vencia, era Deus que perdia.

Mas o dia já amanheceu, o dia já raiou, amanheceu e raiou não no aspecto físico ou natural, mas amanheceu nos aspectos espiritual, teológico, pascal. Ou seja, Deus venceu, o amor venceu a paz venceu.

Mas uma vez Deus fez sua parte, agora cabe a nós fazermos a nossa. Deus abriu o túmulo e removeu a pedra. Agora somos nós que precisamos voltar para dentro de nós, para o nosso coração às vezes fechado, endurecido, magoado, para vermos quais pedras precisam ser tiradas, removidas, senão, quebradas.

Infelizmente neste momento da história assistimos violência atrás de violência, desavenças familiares, filhos que gritam com os seus pais, pais que não são bons exemplos para seus filhos. Isto é, as trevas continuam insistentes em suas vidas, a noite não acabou.

A interrogação: O que este acontecimento, a Ressurreição de Jesus pode mexer com a nossa vida? Ou será apenas mais um rito, mais uma celebração? Que consequência social política, religiosa, cultural este acontecimento nos trás? Ou vamos nos contentar com o litúrgico e espiritual e pronto?

Do ponto de vista social nós sabemos os tantos cristos que morrem todo dia, de fome, de sede, de doenças porque não podem pagar a saúde seletiva e cara do nosso País. Ainda no aspecto social, assinalamos o papel das mulheres na sociedade, aquelas que hoje se juntam às que vão ao túmulo, Deus dando a elas o protagonismo de serem as primeiras a receberem a notícia da ressurreição numa sociedade que dava pouca chance às mulheres.

Ainda é desproporcional o número pequeno de mulheres em relação ao de homens no que tange à ocupação nos cargos públicos. Não há alegria em saber que numa câmara de vereadores como as dos nossos municípios que suportam de 09 a 13 membros, tenha apenas uma mulher, e às vezes nenhuma. E nesse caso é bom lembrar, as mulheres precisam acreditar mais nelas.

Sobre o aspecto religioso, há pouca diferença, os leigos continuam fazendo o mínimo na Igreja, as mulheres são proibidas entre outras coisas de proclamarem o Evangelho na Eucaristia, os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, mal ajudam o padre no altar, e há padres que ainda os impedem de misturarem a água no vinho, porque só ele é que pode fazer, o ministro não é digno. 

É preciso também remover as pedras que existem em algumas mentes e corações, é preciso que alguns corações  - túmulos se abram para uma proposta de Igreja mais simples, mais leve para o povo, para que o ambiente aqui não continue sendo de silêncio e de dor como o de ontem em Jerusalém, mas um ambiente de alegria e de paz, afinal, a pedra não está mais lá. Ou está?







quarta-feira, 27 de março de 2013

HOMILIA DE 5ª FEIRA SANTA


Meus irmãos, não só a cena desta noite, mas tudo o que pudemos viver nesta semana, mostra que não devemos ter mais dúvida do amor de Jesus por nós.

"Como duvidar de alguém, que num dado momento reúne os amigos, toma uma bacia com água, uma toalha e vai de um a um lavando os pés dos seus amigos" Padre Léo.   

Como duvidar do amor de alguém que num dado momento vai à casa de Lázaro, que já está morto há quatro dias e lhe devolve a vida, num momento em que todas as esperanças já tinham sido esgotadas?

Como duvidar do amor de alguém que na última refeição separa o pão e vinho e diz: Isto é o meu corpo dado, entregue, esmagado e dividido na cruz amanhã, por amor de vós, um amor que não volta atrás?

Esta humilhação, este esmagamento, esta total entrega começou no Getsêmani , foi lá que o médico Lucas notou que na sua angústia mortal, seu suor se convertia em sangue. 

Meus irmãos, não tenhamos dúvidas, entre outras razões, a razão de tamanha angústia pela qual o Salvador passava, estavam ali nosso desamor, nosso rancor, nosso pecado. O pecado é como uma espada cortante, e ele fere não somente o coração, mas também a alma. Toda vez que ele nos atinge, é a Jesus que atingimos, toda vez que ele nos fere, é a Jesus que ferimos, toda  vez que ele nos crava, é a Jesus que cravamos, é a Jesus que matamos.

Hoje, novamente estamos celebrando a Última Ceia. E o que é a Última Ceia? A Última Ceia é Jesus dizendo para nós o que disse a Pedro: Deixa eu te lavar, deixa eu tirar a sujeira dos teus pecados, deixa eu te banhar com a água que jorra do meu peito, ferido pela lança.

Deixa eu te purificar, deixa eu te santificar, deixa eu te curar com o sangue que jorra do meu peito ferido pela lança. 

A Última Ceia é Jesus dizendo para nós o que disse à pecadora: Onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. 

Semana passada tivemos, os padres, as irmãs, bastante leigos, na diocese discutindo acerca das diretrizes diocesanas para os sacramentos, tendo sido o matrimônio, bem como o que o pode  levar a uma declaração de nulidade, apresentados pelo Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico do Maranhão, o Padre Ivanildo da Diocese de Imperatriz. 

Tanto no que se refere às normas escritas no Diretório para os Sacramentos e no Código de Direito Canônico; quanto às posições expressas ali por muitas pessoas, viu-se como estamos distantes, longe de termos uma Igreja com atitudes e posições tão livres e porque não dizer tão loucas e desmedidamente bonitas, como a de Jesus para com a pecadora e como a do Pai para com o filho pródigo.

Não se pode dizer que os códigos, as normas e as rubricas contidas ali, expressam qualquer condenação a quem quer que seja, mas as proibições, as exigências, as matérias, as rubricas ali contidas, distam muito do que as pessoas neste instante vivem, enfrentam, sentem e discutam na sua casa, no supermercado, na rua, no trabalho, na Igreja e na sociedade como um todo. 

A Última Ceia é o ato através do qual Jesus se  faz o menor, o servo, o escravo; para os servos, os escravos, os menores tornarem-se senhores. Não sei se a proposta de Igreja que temos hoje, essa que sai das páginas das nossas Diretrizes, dos nossos Códigos e dos nossos Missais chegam perto dessa proposta manifestada em gesto, oferecida por Jesus na Última Ceia.

Nós, enquanto coordenadores, enquanto agentes de pastoral, enquanto clero, enquanto religiosos e religiosas temos medo de sair do padrão, temos medo de sair parâmetro, temos medo de sair da ordem, temos medo de sair do "normal". E quem pode afirmar que esse padrão responde as exigências do contexto de agora? Quem diz que esse parâmetro, essa maneira estão de fato corretas? Quem diz que esse normal está certo?

Jesus saiu do "normal", do padrão, do sistema, do normal de uma religião e de uma lei que só viam defeitos e impurezas nas pessoas; e fez isso se envolvendo e se misturando com "os sem leis", com "os sem classes" e com "os sem padrões"; realizando gestos tão livres e tão ousados como o de hoje, sem medo de ser censurado e criticado por aquela sociedade  que só acusava, só apontava o dedo, mas não via a profundidade das rachaduras das suas hipocrisias.

Enquanto nós padres, bispos, leigos, vamos apenas reproduzindo, repetindo e mantendo o padrão, a norma, às vezes por incompetência ou medo de corrermos um risco maior, a Igreja de Jesus Cristo vai ficando cada vez mais fria, cada vez mais vazia, cada vez mais só.

Não basta dizer que amamos e acolhemos o drogado, a prostituta o homo afetivo, o amigado, mantendo-os à distância, como um cão que causa medo, é suspeito  e vai pôr em dúvida, em risco, em cheque nossa lei, nossa religião, nossa moral e nossa fé. Mas, devemos  tê-los juntos de nós fazendo refeição conosco, ceiando conosco, comungando conosco, sentindo-se não desprezado, excluído, impedido  ou abandonado, mas abraçado, lavado e beijado os seus pés, como  fez Jesus quando abraçou,  lavou e beijou os pés dos excluídos da sociedade do seu tempo. 









domingo, 17 de março de 2013

V DOMINGO DA QUARESMA

A MULHER ADÚLTERA
"Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado, unido a ele" Fil. 3,8b.

Meus irmãos neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia reforça o convite à conversão e à santificação. Uma conversão que não se basta com o muito ou pouco que fizemos. Por exemplo, há pessoas corretas, sinceras, tipo o fariseu da semana passada, que não faltam às missas, cumprem religiosamente suas obrigações, se doam sem reservas. Ótimo! parabéns! Mas tudo isso é suficiente? Podemos nos contentar com tudo o que fizemos e deitar despreocupadamente, certo do dever cumprido? São Paulo diz que não.

"Não que eu já tenha recebido tudo isso ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus". Fil. 3, 12. "Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo-me o que fica para trás". Fil. 8, 13b. Vantagens, prazeres, orgias, bebedeiras, ódio, mágoa, ressentimento, rancor, eu me lanço para o que está na frente. Corro para meta, corro para o gol, corro na direção para onde está Deus, sua graça e sua salvação, que passam a ser minhas também.

Pronto meus irmãos, isto é conversão, isto é santificação. Conversão é considerar tudo como lixo, como perda, o que é passageiro, o que é limitado, o que é corruptível, estragável, para ganhar Cristo e ser encontrado, apanhado, resgatado, perdoado, abraçado, beijado, como o filho encontrado no Evangelho de Domingo passado, por Ele.

Sebastião Caldas, Iracema, Dona Luca, Dudu,  ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais. Estamos falando da cena que acontece de madrugada no Templo de Jerusalém. Estando Jesus ali ensinando, chega trazida pelos fariseus e mestres da lei, uma mulher que foi surpreendida em flagrante adultério. Mestre essa mulher foi apanhada em flagrante adultério, Moisés na lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu? Como Jesus não responde, eles insistem na pergunta. É quando Jesus se levanta e diz: Quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra. E todos saíram porque todos tinham pecado.

Meus irmãos, não podemos negar que aquela mulher somos nós agora, ou fomos nós em algum momento da nossa vida, igualmente manchados e feridos, derrotados pelas tantas falhas cometidas. Com uma diferença, o que ela fez alguém percebeu, viu, denunciou, tornou público, o que fizemos continua oculto.

Uma vez lendo um livro o autor dizia: "Onde há miséria, onde há pessoa encurvada, humilhada e massacrada pelo peso de suas culpas e de suas falhas, é aí que começa a brotar, é aí que começa a nascer sua libertação".

A conversão vai no rumo do que falou o Profeta Isaías. Não fiquem lembrando as coisas do passado, não fiquem lembrando as coisas antigas. Meus irmãos, há pessoas que parecem um armário que guarda coisas velhas, ressentimentos, mágoas, ciúmes, invejas. Esses sentimentos são fortes e bloqueiam a percepção das coisas boas que o  outro venha a fazer.

Quando o povo caminhava pelo deserto e a sede era insuportável, Moisés teve que tomar de uma vara e foi bater numa pedra. Ao ferir a pedra, a água jorrou e todos saciaram sua sede. Há pessoas que precisam ser batidas e consequentemente feridas com a vara da oração, para delas jorrar  águas de humildade, águas  de santidade e de perdão.

Muitas vezes, semelhantes aos fariseus e aos mestres da lei achamos que não temos fendas, falhas, rugas e demonstramos isso no olhar, no gesto e na fala às vezes tão severos e tão duros para com quem caiu e errou.

Em mim continua muito forte a imagem, a cena do filho do domingo passado voltando, prostituído, ferido e chagado pelos adultérios cometidos, e o pai sem censurar, sem reprimir, sem apedrejar, sem condenar vai ao encontro e o cobre de beijos, dando a ele toda a dignidade, toda a misericórdia e  amor que o pecado o fizera perder.

É fácil condenar os outros, é fácil apontar o dedo para os outros, é fácil atirar pedras nos outros, difícil é perceber o vaso frágil, a cana rachada, o pavio de pequeno fogo que somos nós.

Sebastião Caldas, Iracema, Dona Luca, Dudu,  Dona Jesus, ninguém te condenou? Eu também não te condeno, eu também não te censuro, eu só quero te amar, te abraçar, ter cobrir de beijos. Amém.


quinta-feira, 14 de março de 2013

TEXTO DE LEONARDO BOFF


O PAPA FRANCISCO, CHAMADO A RESTAURAR A IGREJA

14/03/2013


Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer:”Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruínas”(S.Boaventura, Legenda Maior II,1).


Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue”(op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.

É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.

Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruinas pela desmoralização dos vários escândalos que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.

Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ”O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético”(em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.

Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas e Ratizinger principalmente punham sobre os ombros a mozeta aquela capinha, cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.

O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.

O segundo: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.

Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.
Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.



Leonardo Boff é autor de São Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999.

domingo, 10 de março de 2013

HOMILIA IV DOMINGO DA QUARESMA


"Dias depois o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra longínqua e lá dissipou todos os seus bens vivendo dissolutamente" Lucas 15,13

Meus irmãos o Evangelho deste domingo apresenta esta magnífica parábola, nos questionando sobre qual desses filhos se parecem conosco, qual deles tem o nosso aspecto.

A parábola ilustra muito bem o que é o pecado e até onde ele pode levar a pessoa que se deixou conduzir e  contaminar por ele. O pecado empolga, o pecado seduz, o pecado encanta, para depois humilhar e até matar quem se deixou levar. 

Não devia ser assim, mas é só depois de muita dor e sofrimento que a gente se levanta, que diz como o personagem de hoje: "vou me levantar, vou voltar para meu pai e dizer: Pai, pequei contra o céu e contra Ti..." Um retorno que começa pela consciência da decisão tomada errada, essa consciência desemboca num repúdio à ofensa cometida contra a casa do Pai, contra o amor do Pai, contra a vida do Pai.

Uma vez lendo o livro "A Volta do Filho Pródigo", de Rembrandt,  era feita essa reflexão: "A ofensa começou com a partida, partir é desejar a morte do Pai. O filho indo embora é, portanto, um fato muito mais grave do que parece à primeira vista. É uma rejeição cruel ao lar no qual o filho nasceu e foi criado. Quando Lucas escreve, partiu para uma região longínqua, continua o autor, ele se refere não ao desejo de um jovem de ver o mundo, mas sim a uma quebra drástica da maneira de viver, pensar e agir que recebeu no seio da família e na comunidade. O país distante é o mundo no qual não se respeita o que em casa é considerado sagrado. Deixar a casa é, portanto, mas do que um acontecimento histórico limitado ao tempo e lugar, é negar a realidade espiritual de que pertenço a Deus com todo o meu ser, é negar que Deus me ampara num eterno abraço, que sou moldado nas palmas das mãos de Deus e escondido nas suas sombras".

Iniciei essa homilia ressaltando através da parábola com qual dos filhos a gente se parecia. E eu gostaria que a gente parecesse com os dois por um momento. Parecesse com o filho mais velho pela sua lealdade, pela maneira correta com que ele cumpre os mandamentos da lei. "Eu nunca desobedeci qualquer ordem tua...". Sim, eu estou dizendo para sermos fariseus naquilo que se refere ao cumprimento das responsabilidades. Todos sabemos como somos relaxados nos cumprimentos dos nosso deveres, por nada deixamos de ir a uma missa ou a um encontro da Paróquia, aulas na faculdade, nossa casa, nossos serviços, ou seja, damos para Cristo a sobra, o resto. Depois que satisfazemos nossos interesses é que damos um pouco para Cristo. Então, ser fariseu aqui, é ser naquilo que é feito sem reservas para Deus e para a Igreja. A diferença para com o fariseu, seria, depois de toda a lei, toda a obrigação, todo o dever cumprido, acolher e amar o irmão que ainda não alcançou essa virtude.

Ser também o filho mais novo, enquanto me falta forças para dizer não ao pecado e a tudo o que me distancia da casa e do coração do Pai. Raiva, ressentimento, luxúria, ciúme, desejo de vingança e rivalidades são sinais de que eu saí da casa do Pai. Mas sempre com o desejo de voltar, de retornar e fazer de novo a confissão...

As lavagens continuam existindo aos montes e por todo canto, patrões para oferecer, não para negar como o da parábola, tem aos montes. Moças e rapazes, homens e mulheres prontos para comerem, como tem. 

Oxalá nossos jovens, tenham força e se levantem, e toda a sua fome seja saciada não pelas comidas fáceis encontradas nas esquina, nos becos escuros e nos bares, mas pelo pão do céu oferecido em cada Eucaristia.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

HOMILIA II DOMINGO DA QUARESMA


"Naquele tempo Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e  subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante". Mt. 9, 28 - 29.

Meus irmãos, assim continua nossa caminhada para a Páscoa. Todo caminho, toda jornada, requer determinação, requer coragem e disposição.

"Naquele tempo Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e  subiu à montanha para rezar". Pronto irmãos, partamos daqui. Jesus subiu à montanha. Subir à montanha significa subir para onde está Deus, significa procurar buscar um momento a só, na intimidade com Deus, significa mergulhar, se lançar, se jogar, nos braços, no colo, no coração de Deus.

Enquanto rezava seus rosto mudou de aparência. Meus irmãos não é possível que continuemos os mesmos após um encontro com o Pai. Quando o encontramos muda o nosso rosto, muda o nosso semblante, muda o nosso pensamento, deve mudar as nossas ações, porque mudou o nosso espírito, porque mudou o nosso coração.

Meus irmãos encontramos tantos rostos tristes, angustiados, sofridos, transfigurados pela fome, pelas doenças, pelo desemprego, pela falta de condições dignas para viver. Esses rostos precisam mudar, esses rostos precisam passar de um rosto triste e desfigurado a  um semblante alegre, feliz e realizado.

Talvez esse semblante triste seja causado por fatores que nascem de fora para dentro e de dentro para fora, dependendo da situação que essa pessoa esteja vivendo no seu mundo exterior e no seu mundo interior. Talvez esteja faltando harmonia em casa, é possível que as contas desse mês não puderam ser cobertas e quitadas, ou fatores relacionados à sua saúde, ou de alguém de sua família.

Certa vez lendo o editorial da Revista Ir ao Povo, o autor lembrava Padre Leo, quando o mesmo tratava a respeito da fé. Ele dizia que a nossa fé tinha que ser de fogão à lenha. A comida desse fogão esquenta devagar, mas depois, dura quente o dia todo, pois  o fogão está sempre abastecido de lenha. Nossa fé não pode ser como forno microondas, que esquenta rápido, mas rápido esfria. Ou seja, nossa fé não pode ser aquela fé eufórica, sentimental, momentânea, espetacular, mas quando bate os desafios, as provações, os sofrimentos, esfria, desanima.

Nossa fé deve acontecer de tal forma, que sem livrar-nos dos obstáculos, pois este não é papel dela, nos temperar, nos preparar, para que diante dos  possíveis desafios ela continue sólida, firme, e agora até esses desafios se tornam lenha que a aquecem, que a amadurecem, que a purificam.

Meus irmãos nesta festa da Transfiguração do Senhor, não esqueçamos de pôr lenha no nosso fogão, de pôr lenha no nosso coração, de forma que o nosso rosto, de rosto desfigurado pelo medo, pela depressão, torne-se brilhante e transfigurado. 

Transfigurado de amor, transfigurado de perdão, transfigurado de paz, transfigurado de justiça em favor dos irmãos que não os encontramos nos montes tabores calmos e tranquilos de nossas vidas, das nossas igreja, dos nossos grupos e das nossas capelas, mas os encontramos nas Galileias e nas Nazarés de nossas vidas, contando com nossa solidariedade e com nossa sensibilidade.