sábado, 29 de setembro de 2012

HOMILIA XXVI DOMINGO COMUM

"Moisés entristeceu-se. E disse ao Senhor: Por que afligis vosso servo? Por que não acho eu favor aos vossos olhos, a vós que me impuseste a carga de todo esse povo? Por ventura fui eu que concebi esse povo? Eu sozinho não poso suportar todo esse povo, ele é pesado demais para mim, rogo-vos que antes me façais morrer". Num 11,10b-15a.

Através destes versículos compreendemos a primeira leitura de hoje. Ou seja, entendemos porque Deus escolhe setenta pessoas e as entrega a Moisés neste grande caminho que ele tem que fazer. Moisés neste instante é um homem desanimado, abatido, desalentado.

E como a situação de Moisés é a situação de tanta gente hoje que caminha, quero dirigir minhas palavras partindo desse sentimento que envolve Moisés, o desânimo. Desânimo, que, segundo o dicionário da língua portuguesa quer dizer falta de ânimo, abatimento, desalento.

O desânimo é um sentimento negativo, causado por algum problema interior ou exterior, que envolve a pessoa, fazendo-a crer que tudo está perdido, que não vale mais a pena lutar, que é melhor se conformar, jogar a toalha, desistir, pois foi Deus quem quis assim.

Mas será que é isso mesmo? Deus quis isso mesmo? Onde é que na Bíblia encontramos Deus querendo que seus filhos desistam da luta, onde é que está na Bíblia em que Deus orienta seus filhos a deixarem de acreditar e sonhar? Não encontramos. Ao contrário, ele diz: "E agora eis o que diz o Senhor, aquele que te criou Jacó, e te formou Israel, nada tema, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, tu és meu". Is. 43,1.

Pois é meus irmãos, por mais pesado que o fardo pareça, por mais difícil que a situação aconteça, por mais dura que seja a realidade vivida por você neste momento, acredite, Deus quer te resgatar, Deus quer te libertar, Deus quer te chamar pelo nome e te dizer que você pode, que você tem força, que você é uma obra preciosa dele, foi ele que lhe criou, lhe formou, lhe amou, e portanto, não vai lhe deixar derrotado, humilhado abatido nas sarjetas e nos lixões desta vida e deste mundo.

A partir desse momento, a primeira coisa que você vai fazer é pensar nas muitas coisas boas que já aconteceram em sua vida e deixar de ficar desenterrando cadáveres, pessoas mortas, situações negativas da sua vida. Viva o agora, viva o presente, rompa com esse passado que só lhe trás dor, sofrimento, tristeza. Diga bem forte Jesus me ama, Deus me ama, as pessoas me amam.

Imagine-se agora como a sua própria casa, e da mesma forma como a sua casa precisa de limpeza das coisas envelhecidas, ultrapassadas, enferrujadas, estragadas, faça o mesmo com você. Veja agora o que precisa ser limpo, purificado, varrido, faxinado, dentro de você. Aqueles pensamentos negativos, aqueles medos, aquelas inseguranças, aqueles desânimos, aquele abatimento, arranque-os, você não é um armário velho, para conservar tudo o que é velho e estragado.

Deus não lhe fez para dar errado, lhe fez para dar certo em tudo, é bem verdade que o mundo exerce uma força e uma influência sobre você, sobre nós, mas ele venceu o mundo, e você também pode vencer, nós também podemos vencer, basta ter coragem, acreditar, lutar.

Quando morei aqui há cinco anos atrás, a Pastoral da Juventude usava uma blusa que dizia o seguinte: Navegar é preciso. Com certeza aquela frase não estava ali por acaso, quem a propôs deve ter refletido o peso, a consequência e a implicância dessas palavras na vida de uma pessoa e dos próprios jovens. Você é um marinheiro, é facil navegar quando não há ventos e, portanto, não há ondas, é fácil navegar sem aguaceiros e tempestades, é fácil caminhar, conviver e festejar quando os ventos do cotidiano além de brandos sopram ao nosso favor.

Difícil é enfrentar as ondas fortes, difícil é enfrentar os ventos fortes, difícil é superar o desânimo que vem como uma onda  e nos arrasta, e nos entristece, e nos abate, e nos esmorece. Nestas horas é preciso voltar ao que Deus falou através do Profeta Isaías, e que certamente inspirou o poeta nesta canção: "Nada temas estou aqui, nada temas cuido de ti, nada temas estou contigo, sou teu Deus, teu melhor amigo..."














HOMILIA XXV DOMINGO COMUM

 Caríssimos irmãos, essas palavras de Jesus foram ditas em Cafarnaum depois que Ele anunciara pela segunda vez sua Paixão e da dificuldade dos Apóstolos em compreender tais palavras, como bem assinalou Marcos no Evangelho de hoje.
De onde emanava tal dificuldade?
Na verdade havia um entendimento histórico de que o Filho de Deus não morreria e que venceria todos os seus inimigos. É isso que os apóstolos guardam consigo e encontram dificuldade para conceber algo ao contrário. Encontram dificuldade para aceitar que o Filho de Deus pode ser esbofeteado, insultado, derrotado, quanto mais morto.
Eis porque na homilia de domingo passado eu coloquei que Jesus levou um tempo para purificar a fé dos discípulos, uma vez que a noção que eles tinham em relação à sua pessoa e ao seu messianismo estava equivocada, a noção estava errada. Purificação essa que não se deu da noite para o dia,  como podemos registrar na cena desta noite.
Depois de anunciar que os homens o entregariam, o matariam e depois ele ressucitaria, ou seja, depois de dizer claramente que ia realizar um serviço total, entregando a própria vida, lá atrás os discípulos estão discutindo sobre quem será o primeiro no reino temporal de Jerusalém.
Meus irmãos já repeti várias vezes nas minhas homilas da força religiosa atualmente manifesta, mas também da visível fraqueza cristã ora também manifesta. Ou seja, eu tenho dito como as pessoas fazem grandes sacrifícios religiosos, romarias a santuários, dias e noites de preces e orações, mas quando é para compreender o servo sofredor, o servo derrotado, o servo humilhado, seu fervor desaparece.
Ou seja, quando na comunidade o sofredor, o humilhado, o derrotado sou eu, humilhação e derrota que não deveriam me abater nem me desanimar, aí o fervor desaparece.
Parece que nós queremos uma Igreja só de justos e santos, parece que nós queremos uma Igreja só de justos e retos. Esquecemos que no campo vão sempre está juntos o joio e o trigo, o ímpio e o justo, o puro e o impuro.
Os discípulos se abateram, desanimaram, até fugiram. Nós também muitas vezes não suportamos as contradições e contrariedades no seio da comunidade,  não suportamos os espinhos lançados por irmãos próximos de nós, e  aí igualmente desanimamos, nos abatemos, fugimos.
Não é fácil ser o último, o menor na comunidade,  a comunidade é uma espécie de forno onde está o fogo que prova o ouro frágil que somos. É o forno que prova a nossa capacidade de servir e amar, servir e amar principalmente os que nos apunhalam, os que tramam contra nós, como tramaram e apulhalaram Jesus.

domingo, 16 de setembro de 2012

HOMILIA XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

 CESAREIA DE FELIPE
"Quem dizem os homens que eu sou?" Mc 8,27
Caríssimos irmãos, muitas vezes as homilias que fazemos têm servido para criticas ao comportamento dos fariseus no que diz respeito ao seu modo de expressar sua fé, viver sua religião e a dificuldade desse grupo em aceitar Jesus, bem com suas propostas em relação à chegada do reino de Deus.
Sobre isso se impõe alguns fatores: "O povo de Israel se fechou às propostas de Jesus, Jesus por sua vez abandonou Israel. Para Ele e para os que vivem no mundo, resta apenas o caminho da Cruz". Comentário do Missal dominical. E esse caminho começa a se fazer quando nos debruçamos por sobre a pergunta: Quem dizem os homens que eu sou?
Responder a essa pergunta, só será possivel depois de uma indagação ao noso espírito, depois de nos sentirmos intrigados interiormente e depois de nos sentirmos desafiados a romper com os nossos vícios, comodismos e paixões.
A revolução causada por esse conjunto de fatores, possibilitará nos perguntar sobre qual o lugar que Cristo ocupa dentro de mim, qual o lugar que Cristo ocupa na minha vida e qual o lugar que ele ocupa no meu existir.
Acontece que nem sempre é fácil responder à pergunta acima, exatamente, porque somos pouco diferentes dos fariseus. Poucos diferentes, porque queremos respondê-la conforme a nossa lógica, nossa mentalidade as vezes mesquinha, nossos interesses  e intenções nem sempre retos.
E da mesma forma como Jesus levou tempo para purificar a fé e a compreenção dos apóstolos a seu respeito, uma vez que também tinham fé e compreenção equivocadas, essa mesma luta Ele continua a ter conosco.
É muito fácil se aceitar o Cristo que causa emoção, o Cristo que faz a gente chorar, aquele que faz milagres e curas. Difícil é aceitar o Cristo da Cruz, o derrotado, o humilhado, aquele que não transmitie força e poder nenhum.
Agora se compreende porque os apóstolos são avisados de não contarem nada, de não falarem nada acerca dele, porque eles também precisam rever, repensar a noção, o pensamento, a idéia que têm acerca de Jesus.
Entendendo que um Cristo doce e morno não liberta e não salva ninguém, e entendendo que o Cristo que salva e liberta é o que não hesita em se misturar com os pobres e pecadores desta terra, Aquele que disse: Vim trazer fogo sobre a terra, o fogo libertador da sua paixão. Busquemos testemunhar este Cristo, aproveitemos deste fogo para queimar todos os males: social, físico, psíquico, espiritual, que colocam em perigo a vida dos nossos irmãos; e dessa forma sinalisarmos, que mudamos a noção acerca da pessoa de Jesus e seu messianismo.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

HOMILIA XXIII DOMINGO COMUM


 “Coragem, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”. Is. 35,4.
“Abatidos e desanimados o povo lembra seus parentes, massacrados pelos soldados caldeus, de suas casas e de suas lavouras em chamas, de sua terra que ficou deserta e se transformou num reduto de chacais, e se perguntam se um povo golpeado por tantas desgraças ainda poderá manter a esperança de recuperar-se desta destruição”. Fernando Armellini.
Abatidos e desanimados: Meus irmãos em alguns momentos da nossa vida nós nos envolvemos ou somos envolvidos em situações tristes, difíceis, duras que parecem não ter mais jeito, mais solução, e o pior, encontramos o caminho de entrar, fácil, sedutor, prazeroso, mas não encontramos o caminho de saída, de volta, de retorno.
Como o povo de Israel exilado na Babilônia, estamos cegos, surdos, coxos, sem forças, sem fé, sem ânimo, sem esperança, parece que o mundo se fechou, caiu, desabou sobre nós.
Quantas pessoas hoje, nesta hora, estão vivendo essas tempestades, esses desertos, essas noites traiçoeiras intermináveis, umas nas cadeias, outras nos hospitais, outras em casa mesmo oprimidas por algum problema de ordem física, afetiva, psicológica ou emocional.
Nestas horas é preciso que chegue alguém, é preciso que apareçam alguns Isaías, algumas Isaías, Isaías que cheguem e gritem: Coaragem, força, não tenha medo, o mundo não acabou para você, levante desse leito, dessa cama, levante desse sofrer, você é maior, você é forte, encontre o rumo de volta da sua vida, da sua casa, da sua família, da sua felicidade, da sua paz.
“Trouxeram-lhe então um homem que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão”. Mc. 7,32.
Podemos dizer que o Evangelho estende o que acabamos de refletir na primeira leitura. Trata-se de um homem surdo. O surdo no Evangelho é aquela pessoa que está impossibilitada de se relacionar com as outras, porque não ouve, não ouvindo, não recebe, não recebendo, também não transmite.
Mas também não é só isso, muitos naquele tempo eram impedidos de ouvir, porque não tinham permissão, ou seja, eram barrados dos lugares de culto, das sinagogas, das reuniões. O surdo faz parte da categoria dos pobres, dos estrangeiros, dos abandonados pela sociedade da época, que discrimina e faz diferença.
Mas há também os surdos espirituais, e entendendo que aquele homem se deixou conduzir até Jesus, sinaliza que ele pode ser surdo dos ouvidos, mas ouve muito bem com a mente e o coração. Em contraposição aos fariseus que ouviam fisicamente bem, mas eram surdos à misericórdia e ao perdão. E, Jesus, uma vez o acolhendo, joga uma ducha de água fria naquela mentalidade, e inaugura uma nova forma de relacionamento social e religiosa.
Meus irmãos é preciso que detectemos qual a nossa surdez, qual a nossa mudez, qual a nossa doença, qual a nossa ferida, qual o nosso problema, o que de fato neste momento nos oprime, nos machuca, nos maltrata. E fazendo como o surdo do Evangelho, deixemos para trás nossas teimosias, orgulhos, preguiças, medos. E se não der para irmos sozinhos ao encontro do Mestre, peçamos o auxílio de alguém, alguém que já conhece Jesus, alguém que já foi tocado por ele, para que ele toque você, cure você, liberte você, e você igualmente experimente o seu poder salvador. Ou seja, o remédio, é se levantar, é não se entregar, é acreditar, e o resto, bem, o resto, Jesus fará.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HOMILIA XXII DOMINGO COMUM


“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaias a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”.
Meus irmãos o trecho que acabamos de ouvir nos coloca diante de uma cena entre Jesus e os fariseus que vieram de Jerusalém. Dizendo isso, estamos dizendo que fariseus de outras regiões se davam com Jesus, eram seus amigos e seria uma inverdade, afirmar que todos os fariseus não se relacionavam bem com Jesus.
A discussão dessa noite gira em torno de um possível não cumprimento de um preceito da lei, que é o de lavar as mãos antes das refeições. Ao que Jesus depois de precisa colocação, conclui dizendo: O que torna impuro o homem, não é o que entra vindo de fora, mas o que sai do seu interior.
Meus irmãos eu não tenho dúvida que a vossa vinda nesta noite aqui, depois de ter deixado casa, serviço, prazer, alguns deixaram a família, esposas, maridos, enfim, seja por um grande amor, louvor e adoração ao Pai, a Jesus e ao Espírito Santo. E sei também que muitos fariseus no tempo de Jesus fizeram o mesmo e com muita honestidade e simplicidade.
Dessa maneira onde está o erro por tamanha austeridade? Onde está o erro por tamanha dedicação? Onde está o erro por tamanho zelo? Não há erro nenhum o fato da oração, do culto, do louvor que prestamos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Mas o erro está na atitude farisaica que pode ser praticada por uma pessoa em relação à outra e pela própria Igreja em relação aos seus filhos, quando a regra, a norma se tornam um peso, uma carga, se tornam absolutas em detrimento da pessoa e do valor que ela tem diante de Deus.
Meus irmãos nós que estamos à frente de grupos, pastorais e movimentos precisamos ter cuidado para que diante das fragilidades, pecados que envolvem nossos irmãos, e tendo em vista as normas legais que regem a Igreja, jogar no seu rosto essas regras e normas sem considerar que esses irmãos são filhos de Deus amados, queridos, como todos os outros.
Meus irmãos, é muito fácil, viver uma religião legalista, um cristianismo legalista, duro, frio, azedo, amargo, que diz ao outro, à outra, você não pode, você não vale, você não serve, do que usar de misericórdia para com ele. Não seria melhor usar de misericórdia para com ele, carregar a culpa dele, o pecado, as misérias dele, anular a culpa dele como fez Jesus? Não seria melhor amá-lo como fez Jesus?
Quantas vezes nos tornamos fariseus quando diante da nossa cegueira religiosa, condenamos um irmão por uma bobagem praticada, esquecendo duas coisas: Primeiro, que nós também erramos, que nós também temos trava, cisco nos nossos olhos, e assim não estamos em condição de julgar e condenar. Segundo, que este irmão já foi libertado pelo sangue de Jesus derramado na Cruz, e nós não podemos impedir essa libertação, só porque trazemos nas mãos e na cabeça, regras e preceitos humanos.
Meus irmãos sejamos vigilantes, para que o zelo, a austeridade com que vivemos a religião não nos encha de orgulho, vaidade, a ponto de nos acharmos melhores que as outras pessoas, caso isso ocorra, estamos reproduzindo uma atitude farisaica e certamente nos distanciando do projeto de Deus, que não despreza, não julga e não condena ninguém.
Mas ao contrário, nos diz como disse à samaritana: Cadê os que te acusavam. Ninguém te condenou? Eu também não te condeno, vai e de agora em diante não peques mais.