sábado, 25 de fevereiro de 2012

I DOMINGO DA QUARESMA

"E não mais haverá dilúvio para devastar a terra". "E Deus disse: 'Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, ponho  meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra". Gn, 9, 11b-13.
A narrativa do dilúvio, é semelhante às histórias que eram contadas na antiguidade sobre grandes catástrofes, catástrofes naturais semelhantes as que continuam se dando hoje, como os Tsunames Asiáticos, que provocam grandes enchentes, submergindo cidades inteiras e matando muita gente. A diferença é que estas catástrofes nos primórdios da humanidade, dada à carência de estudos e informações, eram recheadas de fantasias, onde os deuses zangados por alguma atitude dos homens, agiam dessa maneira. Sem falar que, esses acontecimentos eram vistos como algo mundial.
Sobre o dilúvio não é diferente. A Bíblia narra que "a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração, estavam voltados para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra e teve o coração ferido de íntima dor. E disse: Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele, os animais, os répteis e as aves do céu, porque eu me arrependo de tê-los criado. Noé, no entanto, encontrou graça diante do Senhor". Gn. 7,5-8.
Meus irmãos, fazendo uma leitura desatenta e apressada da Bíblia, poderemos achar que de fato Deus está zangado com o homem e pronto para castigá-lo pelos pecados cometidos. Vejam, se isso fosse verdade, como explicar o carinho e a afeição dispensada ao Filho Pródigo, depois de ter quebrado os laços familiares, e matado o Pai, ao pedir a herança, estando este ainda vivo? E a busca pela ovelha perdida, humilhada pelos próprios erros, comprometendo o amor de 99, que já estavam no aprisco, "humildes, obedientes e santas"? E o que dizer da declaração do texto passado, quando Deus reconhece as maldades de Israel, mas declara: "Sou eu, eu mesmo que cancelo tuas culpas e já não me lembrarei de teus pecados". Is. 43,25.
O modo de narrar é bastante forte, mas é prórpio da literatura do Antigo Testamento, este, que como sabemos está para ser suplantado pela leveza e pela pureza do Novo. Deus não existe para castigar o homem, existe para amá-lo e perdoá-lo. Agora como Deus o encontra pecador, perdido nas erosões do pecado, vivendo nas lamas dos campos da vida, as provações porque passa, serve para purificá-lo, convertê-lo e santificá-lo, se ele assim entender a mensagem do seu Criador.
Quanto ao Evangelho, temos a narração de Marcos curtíssima sobre a ida de Jesus ao deserto após o batismo, e a tentação sem nenhum detalhe, como o fazem Lucas e Mateus.
"O Espírito levou Jesus ao deserto, e ele ficou durante quarenta dias e aí foi tentado por satanás".
O Espírito é o Espírito Santo, que da mesma forma como esteve presente no batismo de Jesus, está também no nosso. E da mesma forma como simbolicamente levou Jesus ao simbólico deserto da judéia, o mesmo leva-nos aos nossos desertos, aos desertos da nossa existência e da nossa vida. E nesses desertos seremos tentados, seremos provados, seremos provocados por muitos animais, por muitos leões e muitas feras, porque os nossos não são mansos, e nos tentam não só por quarenta dias, mas por toda a nossa vida. Até porque 40 dias quer dizer toda a nossa vida. Por que isto acontece? Por que provoca  Deus tal situação? Ele não provoca, ela está dentro de nós. As serpentes, os leões, as feras estão dentro de nós. Elas nos dominam, nos sacodem, nos devoram. Cabe a nós, fazer a leitura de tudo isso e transformar essas feras em cordeiros. Dá para fazer essa transformação sozinhos? Impossível. Então, busquemos o Espírito Santo, deixemos que ele nos ajude a completar em nós o tempo. O tempo do amor, o tempo do perdão, o tempo da conversão.
Não deixarei de dizer, você está aqui para ser santo. Então, o tempo da santidade. E ser santo hoje é se deixar conduzir pelo deserto. E como tem areia, e como tem calor, e como tem sede. Ou seja, como tem tentações para que desistamos desse caminho de santidade. Me livrar das tentações? Me livrar dos desertos? Me livrar dos meus leões? Não. Eles estão dentro de mim, moram comigo. Mas entendê-los, superá-los,  corrigí-los e vencê-los como o fez Jesus. E quando tudo isso acontecer, encontraremos o oásis que buscávamos, oásis que só encontra, aqueles não desistiram de lutar e caminhar. E, agora, podem eles e seus "animais" descansarem em paz.


 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

QUARESMA TEMPO DE GRAÇA E SALVAÇÃO

"Agora, diz o Senhor, rasgai os vossos corações e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benígno, é compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo". Jl 2,12a-13.
Estamos iniciando o tempo da Quaresma. Um tempo simbólico de quarenta dias, onde somos convidados à santidade, através de uma vida de conversão profunda. Teórica é que não pode ser essa conversão, muito menos um sentimento, ou uma emoção. Mas é algo que deve se materializar, se humanizar,  nos atos e nos hábitos das pessoas. E os elementos propostos pela Igreja, para se apalpar essa conversão e consequente santidade é a oração, o jejum e a esmola. A oração é aquela em que eu me volto para dentro de mim. Como um gastro que penetra com sua camêra o interior humano, e, com a mesma abre todas as abas desse interior, para diagnosticar inflamações ou outras mazelas que por ventura possam ali existir. Deus, através do seu Espírito que é Santo abre igualmente as abas e as dobras do nosso coração para arrancar as doenças, as feridas, as inflamações causadas pelo nosso pecado. A caridade nos faz pensar nos milhões de pessoas que não comem, não dormem, não tem saúde, nem direito, nem trabalho, nem moradia, nem alegria. Realizar este gesto é comungar com suas dores e seus sofrimentos. Nesta hora Cristo renova seu Calvário no calvário delas, grita, no grito delas, chora, nas lágrimas delas. O jejum é um sacrifício que faço para pensar no sacrifício de Cristo, na sua dor, no seu getsêmani, na sua agonia e não deixá-lo sozinho, abandonado e largado de novo naquela cruz.
Rasgai vossos corações e não as vestes. Chega de culto de aparência, chega de culto exterior. Para Jesus mais que o culto, vale a dignidade, a justiça, o direito, a saúde e a vida do irmão. Mas é preciso deixar-se queimar, é preciso deixar-se derreter, é preciso deixar-se consumir, para ressurgir num amanhecer infinito. Por isso, que é com jejum e com lágrimas. Sobre o jejum, algo já mensionamos. Quanto às lágrimas, quem resistirá? Elas são o último gesto na escala de como clamar a Deus depois da fala e do grito. Ouvi, Senhor, a minha oração, escutai os meus clamores, não fiqueis insensível às minhas lágrimas". Sl 38,13a (Bíblia Sagrada Ave Maria). Diziam os rabinos: "Não há porta que as lágrimas não consigam abrir". Fernando Armellini (Celebrando a Palavra).
A quaresma é um caminho que se faz com os corações rasgados. Um coração rasgado é um coração que se permitiu ao sofrimento, à lágrima e à dor. Dispensou as blindagens e as proteções do egoísmo e do prazer, para se abrir ao amor.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

HOMILIA 7º DOMINGO COMUM

Você está aqui porque você quer ser salvo, e hoje a salvação passa pela capacidade de você esquecer certos acontecimentos do passado, deixar para trás as coisas antigas e principalmente o pecado. "Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas, porque eis que vou fazer uma coisa nova. Vou abrir uma via pelo deserto, e correr rios pela estepe". Isaias 43, 18-19. "O povo de Israel se encontra na Babilônia, derrotado e humilhado e se pergunta: Por que permitiu Deus que chegássemos a tão grande humilhação? Será que cansou de  nos amar? O profeta responde: não. Deus jamais foi infiel à sua promessa". Fernando melligeni (Celebrando a Palavra).
Israel sim, Israel é que muitas vezes se desviou do caminho, seguindo seus próprios desejos, seus interesses e suas vontades. E agora sentindo o gosto amargo das suas escolhas e das suas decisões, não lhe resta outra coisa, senão recordar o passado, com o sentimento de que Deus não repetirá mais o amor e a misericórdia de antes. É claro que Deus repetirá, é certo que ele agirá, porém, é preciso esquecer o passado. 
Ainda  hoje há pessoas que não conseguem esquecer o passado, não conseguem libertar-se das coisas antigas que se deram em sua vida. Parecem armários velhos, baús, velhos que guardam objetos estragados e enferrujados. Sem se dá conta essas pessoas se tornam tão velhas quanto às coisas que guardam.
"Vou abrir uma via pelo deserto, e correr rios pela estepe" A estepe e o rio de que fala a primeira leitura não pretende atentar para um lugar geográfico. O rio, o deserto, a estepe, é um espaço, é um ambiente espiritual, teológico, lugar do encontro da criatura com o seu Criador, para tirá-la da sua condição de depósito velho, de armário velho, e fazer uma pessoa nova, pura, santa, liberta de todas prisões e de todos os exílios, não o da Bailônia, mas os exílios que se formam dentro da pessoa, seus medos, ódios, ressentimentos, mágoas, rancores, inveja, mentiras, que secam o seu coração e matam a alma.
Esqueçam o passado, esqueçam as coisas antigas. Vocês lembram daquela história do sapo que virou príncipe, depois que a princesa o beijou, após o mesmo ter resgatado sua bola caída no riacho? Ao voltar à condição de príncipe, ele a revelou que uma bruxa o havia enfeitiçado com suas bruxarias ao aspécto de sapo.
Meus irmãos ao sermos batizados, todos adquirimos a condição de príncipes e princesas, mas o ódio, o rancor, o pecado, os vícios, as drogas, a prostituição, nos seduzem, nos enganam, nos enfeitiçam, nos levando à condição de sapos, de sujos e de feios. Aí estão as verdadeiras bruxas deste nosso tempo, enfeitiçando, enganando, estragando e matando tantos príncipes e princesas e levando- os a serem sapos e sapas, porque levam ao pecado. E quando, semelhante ao povo de Israel, achamos que Deus se esqueceu de nós, nos abandonou, nos largou nos nossos sofrimentos e nos nossos pecados, é o contrário que está acontecendo. Ele assume a nossa causa, ignora nossas lepras e nossas paralisias, nos chama de filhos e nos torna gente, pessoa de novo, mesmo sob e contra o murmúrio e o ódio dos mestres e fariseus hipócritas de hoje.
E hoje, no lugar teológico e espiritual que é sua Igreja, na Cafarnaum que é sua casa, o texto disse que ele estava em casa, aí, o Príncipe dos príncipes está pronto pra te abraçar, te recuperar, te curar, limpar tua lepra e tua paralisia e te salvar.



 


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

HOMILIA DO VI DOMINGO COMUM

A liturgia da palavra deste domingo foi marcada pela dura realidade com que viva um leproso antes de Jesus e no seu tempo. Conforme escutamos o Levítico, uma pessoa,  logo que se descobrisse com alguma mancha, ou inflamação no corpo, devia se dirigir ao sacerdote. O sacerdote, como um dos representantes da lei, tinha o encargo de declarar a pureza ou a impureza de uma pessoa. Sendo esta impura, devia assumir as seguintes regras: Retirar-se para fora da cidade, deixar cabelo e baba crescerem, vestir-se maltrapilhamente e ao cruzar com alguém, gritar: eu sou impuro, eu sou impuro. Claro, para que essa pessoa  evitasse  aproximar-se. "No Antigo testamento havia tribos em que uma pessoa ao morrer de lepra devia ser enterrada distante dos outros mortos". 1. Fernando Armellini (Celebrando a Palavra).Vejam o absurdo. Vejam como a doença colocava dois grandes fardos por sobre a pessoa. O fardo físico, aquilo que ela estragava, corrompia e feria, no corpo da pessoa ou em seus membros, e o fardo do ponto de vista do preconceito, da discrimação, que doía muito mais que aprópria lepra, porque feria o coração, a alma.
Cena contrária temos no Evangelho. Alí volta a figura de um leproso, que diferente do que ocorria no Antigo Testamento, onde este se  colocava à distância, alí chega bem próximo de Jesus, se ajoelha e proclama: "Se queres tens  o poder de purificar-me". É interessante esse purifificar-me, e não curar-me, porque, traduz não só o desejo de uma cura física, mas o retorno, a recondução a uma vida dígna, ao seio da sociedade, que, não a lepra, mas o preconceito o arrancou. Mas importante que o ato do leproso, foi a atitude de Jesus, São Marcos falou que ele cheio de compaixão, extamente a compaixão que faltou no sacerdote, disse: "eu quero, fica curado". Essa rapidez, não é por acaso, é a urgência que tem Jesus de implantar um reino onde os pobres possam ter dignidade, possam ouvir e serem ouvidos, possam reconquistar a sua sua vida, e junto a essa, sua dignidade. Mas também, esse gesto, não é só de Jesus, é também do Pai. Na verdade o que Jesus faz, é levar aquelas mentes e aqueles corações, que não admitiam um Deus humano e próximo, a entenderem que Deus agora não é mais aquele carrasco, castigador, distante, rígido que fica lá nas alturas. Ao contrário, Deus está bem próximo, junto ao seu povo, se envolvendo com suas lutas, seus sofrimentos, suas lepras, sem medo de se contaminar.
Não conte nada aninguém. Por quê? Se o homem ia dizer que ele era  o Messias? No Antigo Testamento, só sabemos de dois casos de cura de lepra: "A cura do Sírio Naamã, feita pelo Profeta Eliseu, e a cura da irmã de Moisés, feita por Moisés". 2. Fernando Armellini (Celebrando a Palavra). Por ser um mal terrível, havia aconcepção de que quem dominasse tal doença, este era o Messias. E por que Jesus proíbe, se ele cura a tal doença e é o Messias? Exatamente pelas razões que já conhecemos. O povo via nele um Messias valente, poderoso, político, guerreiro. Mas ele ao contrário, é fraco, pobre, derrotado, humilhado, morto numa cruz como os piores do seu tempo. Esse Messias eles não concebiam, não admitiam, não aceitavam, portanto, melhor, não falar de um Messias que ele não é.
Dito isto, volto a pensar na atitude de Jesus, que não deu bolas para a lei, curou o leproso, devolveu a ele aquilo que o preconceito havia tirado, sua dignidade e o direito de ser pessoa como todas as outras. Fico muitas vezes pensando, se não está na hora da gente olhar para dentro da nossa Igreja e observar como estamos apresentando as normas atuais para aqueles que carregam algum de tipo de "enfremidade". Se nossa Igreja se enche de compaixão como fez Jesus que acolhe, que abraça, que se mistura, sem se importar para o que a sociedade hipócrita vai falar, ou se ao contrário, reproduz o velho sistema, aquele mesmo que o sacerdote representava, e manda os pobres, os "impuros" embora, porque não cabem nas suas normas e nas suas regras.
É fácil apontar o dedo para a lepra, para o defeito do outro e dizer que ele não pode. Difícil é a gente assumir, que também temos lepras, embora ocultas, o que é pior. Mas agir com misericórdia e compaixão como fez Jesus. A Igreja deve batalhar todo dia para isso. Caso contrário, se distancia do seu Senhor.







domingo, 12 de fevereiro de 2012

PRÉ -PROJETO MESTRADO EM BÍBLIA

 TÍTULO DO PROJETO:

OS MAIS BELOS ENCONTROS PARADIGMÁTICOS DE CRISTO NOS QUATRO EVANGELHOS

PROBLEMA DA PESQUISA:
Num mundo marcado pelo avanço da técnica e da ciência, avanço do ponto de vista econômico, político e cultural, fatores que possibilitam para uma significativa melhora das condições  de vida da população, verifica-se também uma nuvem, uma sombra, que caminham lado a lado a essas transformações: o individualismo, o consumismo, o materialismo, o egoísmo e tantos outros ismos que separam cada vez mais as pessoas, não por acaso, mas fruto de uma mentalidade secularizada, onde Deus continua sendo deixado de lado, dando lugar ao homem e seus interesses nem sempre puros.  Acrescenta-se a isto o modelo econômico no país e no mundo, um modelo desenvolvimentista, que tem como base de lançamento o sistema capitalista que não considera a cultura, a história de vida da pessoa, muito menos a pessoa, mas só o capital, o lucro, promovendo, beneficiando, e mantendo a velha estrutura piramidal social, que garante a felicidade de poucos e o sofrimento de muitos e o constante desafio  de se construir uma sociedade mais equilibrada, mais humana e mais justa. Num mundo onde os encontros sociais e suas relações se dão muito mais do ponto de vista do cargo e da importância que este cargo expressa, Jesus nos ensina que o que vale é a pessoa, sua vida, sua dignidade e sua liberdade. E quando tudo isso era roubado dos pobres, dos doentes, dos estrangeiros, dos pecadores, dos pagãos, das viúvas, por uma mentalidade e uma compreensão equivocadas pela lei e até pela religião da época, ele os fez encontrar dentro deles mesmos, livrando-os, libertando-os desse fardo, uma vez que ele mesmo já era livre.
INDAGAÇÃO DA PESQUISA:
O homem atual está disposto a abandonar seus vícios, suas razões, suas paixões, seus interesses, suas verdades, seus prazeres, para fazer essa experiência de fraternidade, justiça, dignidade, direito, perdão e amor que se encontra e que se dá neste encontro pessoal com Jesus?
OBJETIVO GERAL:
Demonstrar a urgente necessidade de se ter uma experiência pessoal com Jesus, uma experiência que me admire, que me choque, que me violente, que me desafie a abandonar o homem velho que eu sou, meus machados, meus baldes, minhas redes, minhas bancas, minhas barcas, minhas árvores  minhas bolsas e me vista de um homem novo, para que o mundo também seja novo.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Através de uma leitura profunda dos quatro evangelhos, sentir a necessidade de ir à procura de Jesus, verificar sua proposta, o jeito como vive e ficar com ele.
Perceber nos quatro evangelhos uma proposição nova e necessária, para a construção de um mundo novo e necessário.
Sentir-se, abismado, espantado, admirado com a proposta de Jesus, para imprimir aí uma mudança  de atos e de hábitos.
JUSTIFICATIVA:
O homem é um ser em constante conflito e em constante batalha, esse conflito e essa batalha, começa, no momento em que ele se percebe dominado como criatura a satisfazer o que é próprio da criatura, mas ao mesmo tempo tendo que fazer renúncias e escolhas. Ele tem consciência que é um ser de instintos, inteligência e vontade, e quando essas faculdades se integram, ele tem força para fazer cortes, corrigir e educar prazeres e sentimentos, e ser alguém mais tranqüilo e mais feliz, ser de fato um homem.
Não bastasse isso, ainda percebe dentro de si, uma inclinação forte para o mal, embora sua consciência seja para o bem. Percebe que não faz o bem que quer e ama, mas o mal que não quer e detesta. Na verdade percebe que ele não manda nele. Na verdade ele percebe que nem Deus manda nele, e nem quer mandar, porque Deus não quer tirar a sua condição de imagem e semelhança Sua. Dessa maneira, para o homem fazer o bem que quer, para continuar sendo homem e não um bicho precisa de uma graça. Essa graça ele encontra indo ao encontro de Cristo, como fez Zaqueu, Mateus, a Samaritana, a Pecadora e tantos outros.
HIPÓTESE:
Diante do que é proposto, que são os vários encontros que se dão na vida de Jesus, e os efeitos que estes encontros proporcionam na vida das pessoas, encontram-se aí elementos referenciais às questões de ordem, sócio – político e econômica, merecedores de uma reflexão, entendendo que estes elementos tocam a vida das pessoas?
MÉTODO:
Dedutivo
METODOLOGIA DA PESQUISA
Bibliográfica
Fontes Primárias: Sagrada Escritura, os quatro evangelhos, Compêndio do Vaticano II, além de outros escritos de teólogos, biblistas.
Fontes Secundárias: Artigos de revistas, seminários, palestras que tenham abordado o tema.
PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO:

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"DISCURSO DE POSSE DE DOM VALDECIR EM BREJO AOS 28/08/2010


Caros: Dom Valdecir, Dom Valter, Dom Xavier, Dom Reinaldo, Dom Belizário, Dom Ângelo, irmãos no Sacerdócio, povo de Deus aqui reunido!

Neste dia 28 de agosto de 2010, a Igreja Católica escreve mais um capítulo de sua vasta história no mundo ao empossar neste recanto do maranhão e do Brasil, mas particularmente na Diocese de Brejo seu terceiro bispo diocesano, o maranhense, coroataense, Dom Valdecir Mendes.

Meus irmãos há apenas oito dias na cidade de Arari pela imposição das mãos de Dom Reinaldo Punder, bispo diocesano de Coroatá, de Dom Valter, então, bispo administrador de Brejo, de Dom Xavier, bispo administrador de Viana e de mais bispos ali presentes Dom Valdecir até então Monsenhor Valdecir, foi ordenado Bispo com o encargo pastoral para com a Igreja particular que lhe foi confiada, a Igreja de Brejo. “Assim foi conferido a Dom Valdecir o ápice do ministério sagrado, a plenitude do sacramento da Ordem, conforme ensina O Concílio Vaticano II lembrado no nº. 1557 do Catecismo da Igreja Católica”.

No que diz respeito à realidade geográfica, sócio - política, econômica e religiosa da nossa diocese, não deve ser algo estranho para Dom Valdecir haja vista que tal realidade em alguns aspectos pouco difere da realidade das demais dioceses deste Maranhão, principalmente no que concerne ao social, ao político e ao econômico. Neste sentido o que discorrerei agora servirá apenas como confirmação ou lembrança do que já estamos cansados de saber.

Dom Valdecir a Diocese de Brejo está localizada na região do Baixo Parnaíba que abrange os municípios de Magalhães de Almeida, São Bernardo, Tutóia, Santa Quitéria, Brejo, Santana do Maranhão, Paulino Neves, Água Doce, Araioses, Milagres do Maranhão, Barrerinhas, Urbano Santos, Belágua, São Benedito do Rio Preto, Chapadinha, Anapurus, Mata Roma, Buriti, Duque Bacelar, Coelho Neto e Afonso Cunha.

Os municípios da região do Baixo Parnaíba estão classificados como os mais pobres do Estado, com índice muito baixo de desenvolvimento humano (IDH), com taxa de analfabetismo entre as mais altas do país, com alto índice de desmatamento em função do agro negócio da soja, eucalipto e da cana-de-açúcar, deixando a região como a mais pobre do Maranhão. Trata-se de um novo latifúndio, novo, aliás, só na aparência, porque na verdade é a continuação daquele iniciado lá em 1500 a 1800, e que agora se enfeita melhor, camufla melhor, mascara melhor, mas mantêm as mesmas velhas práticas e os mesmos velhos costumes que são: apropriar-se de grande faixa de terras, expulsar trabalhadores de suas terras, arrebentar o meio ambiente e construir documentos frios em cartórios da própria região. Uma aquisição desonesta e desleal.

No que diz respeito ao aspecto político o coronelismo ainda é muito forte, o analfabetismo e a pobreza são uma correnteza que leva à compra e venda de voto, um ato claro de corrupção conforme a Lei 9.840, lei neste instante até certo ponto enfraquecida, quando meios espúrios continuam sendo usados e valendo, pois o que importa é a permanência no poder. E o pior, com a conivência ou a omissão de parte do Ministério público e do Poder judiciário.

No que diz respeito ao aspecto religioso, e observando o contexto do momento nos vários aspectos mostrados, creio que a Igreja de Brejo tem condição de ser um sinal de esperança para tantos homens e mulheres, moças e rapazes, negros e índios, crianças e jovens que buscam um lugar ao sol. Um sol que para despontar, que para raiar na vida desse povo dependerá da posição que vamos tomar frente a realidade que se apresenta.

No deserto na hora do cansaço e da sede, Moisés tomou de uma vara e ao bater na rocha fez a água jorrar. Os problemas que o Baixo Parnaíba enfrenta hoje, se desenham como uma grande rocha, uma grande pedra, que se agigantam na frente do povo dificultando suas vidas, necessitando, portanto, de novos Moisés que não tenham medo de atingi-las, de abri-las, de desferi-las não com qualquer vara, mas principalmente com a vara da palavra, com a vara do Evangelho, com a organização das comunidades e com a própria Eucaristia, para que essa realidade, no que compreende agentes e instituições, empresas e empresários se convertam em humanidade e sensibilidade e a água que neste instante tem saciado apenas um grupo e tem faltado para o outro, possa saciar e descansar a todos. Dessa maneira a solidariedade pelos pequenos e pobres não será um acontecimento que estanca nas lutas e nas reivindicações, mas, muito mais que isso, essa solidariedade será sim um ato, uma celebração, uma liturgia através da qual a consciência política e social ali adquirida, será também um ato de conversão e de espírito cristãos também ali adquiridos.

Na vossa chegada à Diocese, a mesma acaba de aprovar e publicar as diretrizes para os sacramentos. Eles são de suma importância para a organicidade da nossa pastoral principalmente no que tange aos sacramentos, e o exercício das mesmas constitui o primeiro grande passo para a nossa unidade, para a nossa pastoral de conjunto, um desafio que precisa ser atacado, que precisa ser superado.

A forma de proposição de outras denominações religiosas tem feito o cristianismo e muitos cristãos mancos, enfraquecidos, confusos. E as diretrizes diocesanas existem também no sentido de depurar, de purificar e de refinar esse cristianismo às vezes tão cheio de vícios, de dengos e de manias até mesmo dentre muitos dos nossos católicos. No entanto, as mesmas não podem ser uma mão de força que não levam em consideração a pessoa, seu contexto, sua história e sua vida. Observemos cada caso, e nos casos em que a lei só declarar o pecado da pessoa, mas não oferecer condições para recuperar a mesma, façamos uso da misericórdia, quem sabe, através dela essa pessoa possa ser buscada, acolhida, recuperada e nossa Igreja acaba de demonstrar um largo sinal de sensibilidade e humanidade.

Dom Valdecir, como apresentei acima, somos 16 paróquias e vinte um municípios, com eles nós formamos a Igreja de Brejo que ora V. Excia. assume como pastor. Uma diocese com a dimensão da nossa e com os problemas que acabamos de colocar não deixa de ser um grande desafio quanto a sua administração e sua pastoral. Sabendo disso é que neste instante em nome do nosso clero, asseguro-o do nosso apoio e colaboração no sentido de caminharmos juntos na busca de uma diocese onde seu povo, suas ovelhas se sentirão cada vez mais acolhidas e amadas, não precisando ir a outros campos ou a outras montanhas, porque aqui neste monte, tem o pasto que elas procuram e merecem depois de um dia de fadiga e cansaço: nosso amor, nossa caridade, nossa misericórdia e nossa compreensão."
Pe. Isaque Marques

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

AINDA SOBRE A ORAÇÃO NO GETSÊMANI
"Judeus e romanos preparam a morte de Jesus. Eles já se haviam preparado muito antes que Jesus nascesse; o imperialismo romano e o farisaismo, combinados com o senso político dos anciãos e dos sacerdotes, são disposições que requerem muito tempo e continuidade. Dentro do plano de Deus, essa história e a pessoa de Jesus deviam ser confrontadas um dia; do encontro sairia a morte de Jesus, e desta a origem de um povo.
No jardim do Getsêmani Jesus prepara para assumir sua missão. Ainda pode fugir, esconder-se até que o perigo imediato se afaste. Ainda pode ficar calado, não chamar a atenção, permanecer num lugar tranquilo com seus discípulos, deixar de desafiar as autoridades. Tudo tem que ser decidido nessa vigília.
Qual o assunto dessa vigília? Passar do anúncio abstrato à iminência da realização.
Jesus sabia pelos profetas que a sua missão o levaria a um choque com as autoridades, à perseguição e a uma morte vioenta: a morte do servo de Deus em Isaías.
O momento que se aproxima é o momento em que Jesus será chamado a dar o último passo rumo ao sacrifício. Terá de dar o passo final, do qual já não é mais possível voltar atrás. No jardim ainda é possível. Depois já não será mais.
Jesus descobre que a hora dos profetas chegou. Ele vai ter que pronunciar as palavras que o condenarão, vai dar este passo para o abismo, depois do qual não há mais regresso possível. Esta é a oração da vigília. Seu objeto consiste nesta disposição do homem em dar o passo irreversível, deixando definitivamente uma vida interrompida e cortada e entrando numa fase nova, incerta, desconhecida. Na vigília a pessoa precisa realizar a interrupção de sua vida, deixar o desenrolar da vida anterior para o passado e enfrentar a novidade, olhar para aquilo que vem, com todas as energias. Isto é conversão.
A pessoa só assume sua missão depois de um combate interior, um combate entre as duas pessoas que lutam entre si: entre a pessoa do passado que queria continuar e a pessoa do futuro que precisa eliminar a anterior. Jesus teve que passar por este combate".
Pe. José Comblin

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS





A última década, a despeito de o Brasil ter avançado na economia, de ter conquistado maior respeitabilidade na arena internacional, de até ter minimamente alterado alguns indicadores sociais de pobreza, foi também uma década de grandes violações dos Direitos Humanos.
Era de se esperar – e se esperou demais – que, com a ascensão de Lula ao posto maior da política brasileira, com todos os avanços institucionais, embates e conquistas das décadas anteriores, como a luta das Diretas Já, a anistia aos presos políticos, a Constituição de 1988, as eleições diretas, o impeachment de Fernando Collor, enfim, o Brasil, Estado Democrático de Direito, agora com Lula presidente, teria todas as condições de avançar também na efetivação dos Direito Humanos. Afinal, o companheiro Lula havia sido forjado na luta, nessa mesma luta de todos/as nós, dos sindicatos, das cooperativas, das pastorais sociais, das Comunidades Eclesiais de Base, do Partido dos Trabalhadores; e o Brasil, portador de um passivo enorme com a cidadania, mas com uma constituição das mais avançadas do mundo, signatário de todos os tratados internacionais de garantia e efetivação dos Direitos Humanos, tinha o ordenamento jurídico, as condições necessárias para, na democracia, efetivar direitos na vida dos/as brasileiros/as. A esperança tinha mesmo que vencer o medo.
No entanto, na contramão dessa esperança, veio também o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, veio também o PACto pela República, reunindo representantes dos três altos poderes do Estado: Lula pela presidência da República, Gilmar Mendes pelo Supremo Tribunal Federal e José Sarney pelo Senado, a mais alta câmara legislativa do país. A ideia ali era agilizar o Estado brasileiro em vista de avançar com o chamado desenvolvimento, tirar as amarras, os empecilhos, limpar os caminhos para o crescimento do país.
Uma mente mais ingênua ou, digamos, mais generosa poderia até imaginar um esforço conjunto dos poderes da República para dar celeridade aos milhares de processos estacionados anos a fio nas mesas dos juízes, de preparar o Poder Judiciário para efetivação dos Direitos Humanos; de criar as condições para o executivo garantir mais recursos para as políticas sociais; agilizar e aprimorar os mecanismos de combate à corrupção, em vista de efetivar as políticas públicas e os Direitos Humanos, enfim. Ledo engano, a aludida harmonia entre os poderes, retórica do tal pacto, tem gerado muita desarmonia entre os mais empobrecidos, vulnerabilizando ainda mais suas condições de vida.
De lá para cá, em escala geométrica aos grandes investimentos do PAC em grandes obras e grandes projetos, tem se verificado, o crescimento da violência institucional contra a juventude, contra os movimentos sociais e, especialmente, contra as comunidades tradicionais. Quilombolas, povos indígenas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, extrativistas, dentre outros segmentos, tem experimentado no dia-a-dia, sol a sol, o sabor do PACto. Deslocamentos compulsórios de suas áreas para instalação de usinas hidrelétricas, termelétricas e refinarias; despejos de comunidades inteiras do seu chão em favor de grandes empreendimentos; criminalização das lideranças populares. Para isso o Poder Judiciário tem prontamente cumprido seu papel no PACto: tem sido ágil e diligente. No entanto, é incapaz de fiscalizar os cartórios, onde se fabricam falsas escrituras de terras para “legalizar” os despejos de famílias e comunidades.
E assim segue o Brasil, com seus PACtos em busca do crescimento, produzindo violações em larga escala.
Ao mesmo tempo, o chamado pacto federativo, que estabelece responsabilidades dos entes federados – União, estados e municípios – na efetivação das políticas públicas, ainda que os marcos legais do país sejam favoráveis aos Direitos Humanos, não tem sido capaz de assegurar a efetividade desses direitos na vida das pessoas. O quadro de colapso da educação, da saúde e da segurança pública, por exemplo, já revelam uma situação de profunda violação dos Direitos Humanos em todas as regiões do país. Não se trata de escassez de recursos. Nunca se arrecadou tanto, nunca se pagou tanto os juros da dívida. Ainda assim, nunca se transferiu tanto dinheiro para as administrações municipais, sem que isso, no entanto, se efetive em direitos assegurados nas cidades, bairros e comunidades.
Algo parece estar errado. As organizações não governamentais parecem ter sucumbido à agenda do governo. E este, parece voltado à outra lógica que não a do avanço dos Direitos Humanos. A agenda global impôs ao Brasil outra escolha, outro caminho, o do crescimento econômico, ainda que isso signifique o sacrifício de milhares de homens e mulheres deste país.
É necessário compreender que se vive uma nova ordem, uma nova época. O século XXI nos apresenta um conjunto grande de novos desafios, no bojo de uma extraordinária contradição: se por um lado as políticas da globalização econômica ajudaram a aumentar a pobreza e a desigualdade no mundo, inclusive nos países do bloco dos chamados desenvolvidos, por outro, as transformações tecnológicas e comunicacionais desse processo colocou realidades culturais distintas, antes distantes, agora bem próximas e às vezes em oposição.
E aí entram os elementos novos, a necessidade premente de se pensar o Estado, a Sociedade, a partir da lógica da multiculturalidade e da interculturalidade, discutir os marcos legais, os padrões normativos, a partir dessas novas necessidades em um mundo, em sociedades e até em comunidades cada vez mais multiculturais, complexas e conflitantes, cujas normas e instituições vigentes, arcaicas, conservadoras, já não respondem.
Como discutir e construir novas perspectivas ou critérios de justiça junto a grupos socioculturais distintos, frente aos padrões de desenvolvimento em curso, aos PACtos da República?
Como diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, é preciso criar inteligibilidade entre os diferentes excluídos, entre os violados em seus direitos; alimentar e apoiar estratégias de mobilização a partir do local, dos territórios, fortalecendo redes de solidariedade territoriais, regionais, nacionais e continentais.
Portanto, na atual situação, urge maior capacidade de mobilizações, em vista de forçar mais a porta do Estado, de alterar os padrões normativos nessa nova época. E isso exige a incorporação dos direitos culturais, impõe a construção de uma nova cultura política, de pressão e incidência, de autonomia popular sobre os governos e o Estado.
É necessário se pensar novas ferramentas de participação, a construção de novos espaços de incidência política. É imperativo e contemporâneo democratizar e reinventar as instituições jurisdicionais, absolutamente anacrônicas, enfrentando sua soberba, seu distanciamento da realidade.
Aproximar-se distanciadamente do Estado, sem submeter-se a nenhum tipo de dominação. Inverter a agenda para a inversão de prioridades, deixando valer a cultura dos direitos, a cultura da emancipação. E trabalhar na perspectiva dos Direitos Humanos é adotar princípios éticos baseados na vida, nas necessidades, nas experiências, vivências e acúmulos históricos dos seres humanos. E nisso cada grupo, cada comunidade tradicional, cada povo, tem muito a nos ensinar!
* Artigo escrito para o caderno do IV Congresso e XVIII Assembléia Nacional da Cáritas Brasileira **Sociólogo, radialista, secretário executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão