sábado, 12 de janeiro de 2013

HOMILIA I DOMINGO COMUM - BATISMO DO SENHOR


"Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega". Is. 42,2-3a.

Meus queridos irmãos nesta noite a liturgia celebra a festa do Batismo do Senhor. Com esta celebração estamos encerrando  as festas natalinas e entrando  num período curto do Tempo Comum, por causa dos períodos, quaresmal e pascal, que estão chegando, para depois o retomarmos de novo, até se encerrar com o Primeiro Domingo do Advento, quando iniciaremos o novo ano litúrgico.  

Estamos escutando um dos poemas do Servo Sofredor de Isaías, são quatro, todos fantásticos, esse, o primeiro, e nesse, ele relata a maneira, o jeito de agir desse servo. Ele não grita, nós não só gritamos, mas também, esbravejamos, xingamos, ofendemos. Ele nunca levanta a voz, nós berramos, bradamos, às vezes somos por demais violentos e furiosos.

Por que agimos assim? Por que, depois de repetidas eucaristias, centenas de celebrações, incontáveis Ave Marias, ter comungado inumeráveis vezes, a gente ainda não segura o ímpeto, e aquele, aquela que poderia ser o mais manso cordeiro, a mais mansa ovelha, pois esteve na casa do Senhor, sentou-se à mesa, participou do ágape do Cordeiro maior, cantou com Ele, os hinos de paz e de amor, nesses momentos, torna-se uma fera, um ser desconhecido? A sua resposta reflexiva e pessoal conclui esse parágrafo.

Ele não quebrará o caniço rachado. Escutando essa proposição, eu fico imaginando quantas pessoas vão e vêm todos os dias, umas conversam conosco, outras não, mas, todas carregando consigo algum tipo de fenda, algum tipo de falha, algum tipo de rachadura. 

Não são poucas as pessoas machucadas,  feridas, quebradas. Machucadas e feridas, não por causa de maldades suas, porque más não são, mas por causa de fraqueza, limitação e bobagens suas. Ou seja, o Amor, o Espírito Santo, a Eucaristia, o Evangelho, tiveram menos força dentro delas, que suas vantagens, seus desejos e paixões. Estão prestes a se extinguir, estão prestes a se apagar, salvos se não buscarem melhorar sua chama, renovar seus pavios, no fogo abrasador de Jesus.

Para nós que estamos à frente da comunidade, bispos, padres, coordenadores de comunidades, ministros da Sagrada Comunhão, catequistas, precisamos nos apropriar desse mesmo método, desse mesmo jeito de agir do servo para com as pessoas, precisamos ser misericordiosos, afinal de contas, nós também temos fendas, rachaduras e pavio nem sempre com chama forte, pavio quase apagando, iguaizinhos  aos que vêm ao nosso encontro todo dia.

"E estando ele a orar, o céu se abriu. E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho bem amado; em Ti ponho a minha afeição" Lc. 3, 21a - 22.

O Filho de Deus era esperado, e entre tantos líderes que ali apareciam, havia dúvidas na cabeça do povo acerca do verdadeiro Messias, sobre quando viria, quem seria e de  que lado ficaria. O próprio João Batista numa outra oportunidade mandou perguntar se era ele mesmo, ou se tinha que  esperar por outro. Em Marcos os milagres, ou seja, as ações concretas de Jesus vão atestando quem ele é. E no mesmo Marcos, como agora em Lucas, vimos, ouvimos e não temos mais dúvidas, Jesus é o Filho muito amado do Pai.

O céu se abriu, uma referência clara de que a distância até então existente entre nós e os céus, e entre nós e Deus foi rompida, não existe mais. A pomba é um sinal da presença corpórea de Deus no nosso meio, ou seja, como já aconteceu nesses dias por ocasião do seu nascimento, novamente Deus repete o gesto de vim ficar, habitar, morar no meio de nós. Ignorando, portanto nossa fragilidade humana e nos tornando filhos  adotivos divinos seus. Aliás, é isto que o batismo realiza e confere. Ao sermos batizados Deus fala para nós o que disse hoje para Jesus: Você é meu filho muito amado e muito querido, no qual eu deposito toda a minha confiança, toda a minha afeição e todo o meu amor.

O Espírito Santo desceu. Foi o mesmo Espírito que desceu sobre os profetas, que desceu sobre os apóstolos no cenáculo e que os ungiu para a nova caminhada após a ressurreição. É o mesmo Espírito que desce hoje sobre mim, sobre você, sobre sua comunidade e sua casa para lhe ungir, para lhe curar, para lhe santificar e para lhe fazer apóstolo, profeta e rei. Não para mandar, dominar e punir, mas para amar, perdoar e servir. 












domingo, 6 de janeiro de 2013

HOMILIA DA EPIFANIA DO SENHOR

"Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.  Quando  entraram  na casa viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam diante  dele e o adoraram. Depois  abriram  seus cofres e ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra."

Caríssimos irmãos, nesta noite celebramos a Epifania do Senhor, a manifestação gloriosa de Deus no nosso meio através do seu Filho Jesus.

Como é sadio, como é confortador contemplar esta cena, Deus se gerando, Deus se encarnando, Deus se humanizando, para divino nos fazer.

É exatamente isso, num dado momento da história fomos marcados, fomos assinalados pelo pecado de Adão. Nossos primeiros pais não aceitando a sua condição humana se voltaram contra Deus. E Deus, se o quisesse poderia, através deles, ter deixado a humanidade à mercê da sua equivocada escolha. Mas, não, Deus não é vingativo, Deus não é um carrasco, Deus não é um Juiz Autoritário, não usa o meio, dente por dente, olho por olho. Ao contrário, nesses dias, provando que nossa maldade não teve força sobre Ele e sua santidade, veio para o nosso meio, aceitou nossa maneira e o nosso estado, e como havia prometido aos antigos profetas, assim o fez. "E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe, que vai ser o pastor de Israel, o meu povo". Essa é uma prova de amor, um amor tão grande, que faz o divino descer à condição humana, para que o humano torne-se divino.

E agora, depois de humanizado, depois de encarnado no seio de Maria, se manifesta, se apresenta, se oferece, convidando-nos ao seu encontro na gruta de Belém. 

Ao verem de novo a estrela os magos sentiram uma alegria muito grande. O papa Bento XVI na sua homilia de hoje, pergunta: "Que homens eram esses? E depois responde: eram pessoas de coração inquieto, movidos pela busca de Deus e da salvação do mundo, homens que não se contentavam com seus rendimentos assegurados e com sua posição social provavelmente considerável, lembra o Santo Padre, mas andavam à procura de realidade maior"

Essa mesma pergunta deve ser feita por muitos de nós. Que homens somos, que jovens somos, que cristãos somos?

Somos homens que nos bastamos, não com rendimentos, porque nem rendimentos temos, mas nos bastamos com as propagandas comerciais televisivas de agora que apresentam o falso como sendo verdadeiro, nos bastamos com as músicas "ai se eu te pego", ou outras semelhantes a base de "forró", que só agridem os nossos ouvidos ou os ouvidos de quem já deixou para trás esta cultura pobre e rasteira, se é que existe cultura pobre e rasteira, nos bastamos, concordamos, e, até reproduzimos  a ideologia da mídia, conservadora, e elitista, que execra um Hugo Chavez da vida, e muitos outros que não se ajoelham e não se curvam às suas vontades egoístas e tiranas. 

Que homens eram eles? Eram homens de coração inquietos e buscavam em Deus a Salvação. E nós o que somos e o que buscamos? Certamente buscamos também a salvação, no entanto, precisamos ainda deixar muita coisa. Precisamos deixar nossos egoísmos e nossas vaidades, nossos caprichos e nossas verdades, nossas seguranças e tudo o que consideramos grande, para buscarmos o que é realmente maior a salvação, a santidade e a divindade manifestadas na gruta de Belém.

Certamente não será preciso levar ouro e incenso, nem mirra, até porque não dispomos desses materiais, será preciso sim levar, humildade, espírito de justiça e partilha, será preciso levar perdão e amor, porque esses instrumentos são os que similam e os que se assemelham Ao que acaba de nascer, Ele é por essência e natureza, humildade, justiça, partilha, perdão e amor.