domingo, 8 de junho de 2014

DOMINGO DE PENTECOSTES



Caríssimos irmãos, hoje a Igreja celebra o Domingo de Pentecostes. Uma festa cheia de imagens e simbolismo, que lida ao pé da letra, pode nos fazer incorrer em erros e equívocos.

A Igreja utilizando  aspectos metodológicos separou Morte, Ressurreição, Pentecostes e Ascensão. Mas segundo os biblistas, tudo ocorreu simultaneamente. Ou seja, Jesus enviou seu espírito, não 50 dias depois, mas logo ali na tarde do primeiro dia. 50 dias após refere-se à explosão, à expansão da igreja, quando os apóstolos saem pregando o Evangelho pelo mundo, conforme refere-se o mandado de Jesus.

“Pentecostes era uma festa judaica muito antiga, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Celebrava a chegada do povo de Israel no Monte Sinai. Monte este onde Moisés recebeu de Deus as Tábuas da Lei”. Fernando Armellini.

Hoje, Pentecostes não é mais a festa da Lei, ou pelo menos de um conjunto de normas como se constituía a lei de Israel. Mas Pentecostes agora é a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, revelando, que a lei antiga baseada em regras e normas deu lugar ao amor e à misericórdia.

            Mas agora, hoje, o que significa essa nova lei, esse novo Pentecostes? O Pentecostes nos dias de hoje, que mais se afina com o Pentecostes do Pai, que mais se alinha ao Espírito Santo, é um uma mente e um coração convertidos. 

            Um coração convertido, não é outra coisa, se não, um coração novo, curado, transformado. Cura essa, transformação essa, expressa, sentida nos gestos de solidariedade, de justiça e de paz. Portanto, um coração humano, fraterno, solidário, compassivo e sensível à dor do irmão.

            Aliás, não tem sentido celebrar Pentecostes, mas conservar dentro de si pensamentos, mágoas e ressentimentos, e assim reproduzir velhas práticas, velhos costumes de orgulho, vaidade, rancor, indiferença, egoísmo, individualismo, distanciando-se do verdadeiro sentido do que é Pentecostes.
            Se Pentecostes é fogo que pousa por sobre as pessoas, e as transforma, e as fecunda, e as renova. Não tem sentido celebrar pentecostes, mas não renovar a forma de pensar, de agir em relação ao irmão, à irmã.

            Celebrar Pentecostes, mas seguir como antes, fechado, sisudo, azedo e amargo, significa que não deixamos esse fogo nos penetrar, nos queimar, nos moldar, e nos transformar em instrumentos úteis à ceara do Senhor.

            Muitas vezes celebramos esta festa e ficamos muito no emocional e no exterior, entendendo o Espírito Santo como algo que nos faz chorar, sem contudo penetrar no chão da realidade dura em que vivemos, e tantas pessoas ao nosso redor.

            O mundo vive momentos difíceis, muita pobreza, preconceito, racismo, discriminação de toda forma, idosos sendo chutados, doentes abandonados. Ou seja, vivemos num ambiente desumano, em que o Espírito Santo parece cada vez mais distante.

            Oxalá, o Pentecostes que celebramos hoje, não seja uma festa de hinos e cânticos espirituais, mas distantes e sem tocar a vida difícil que toca tantos irmãos e irmãs. Mas uma festa que queime todo e qualquer tipo de opressão e injustiça que fere tantos homens e mulheres, que ainda não tiveram a oportunidade de festejar um Pentecoste de dignidade e vida plena.

 

domingo, 25 de maio de 2014

HOMILIA VI DOMINGO DA PÁSCOA

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai e ele vos dará um outro defensor, para que permaneça sempre convosco”.

Na vida em algum momento é preciso que se vislumbre um pouco o horizonte, que se saiba algo sobre ele, para se continuar caminhando. Tipo, precisamos que nos digam alguma coisa, alguma notícia, para combustar as forças que nos parecem faltar e terminar.

Os discípulos continuavam tristes, desapontados, com suas mentes e corações perturbados devido aos constantes discursos de despedida feitos da parte de Jesus. Jesus, por sua vez jamais faria uma promessa se não fosse séria e para dizer aos seus, que quando os chamou amigos, não o fez por brincadeira, mas era verdadeiro, e provaria isto, mandando agora o Espírito Santo, sinal dessa fidelidade.

Importante é que esse Espírito Santo recebe o nome de Defensor, de Advogado, de Paráclito. Paráclito na Bíblia quer dizer aquele que é chamado para ficar ao lado. Ao lado daquele que se encontra em dificuldade, uma vez que frente às acusações, aos problemas de injustiça vividos, não tem quem o defenda.

Naquele contexto, como temos acompanhado diariamente nos textos dos Atos dos Apóstolos, quem têm sofrido injustiças e perseguições são os discípulos, e precisam muito do Espírito Santo para discernirem, clarearem, qual a vontade de Deus nas suas vidas.

E hoje? No nosso contexto? Quem sofre injustiças e perseguições? E quem está ao lado dessas pessoas?

Muitas vezes quando refletimos sobre os itens justiça e defesa, referimos logo às questões que se dão nas delegacias e nos tribunais. Também. De fato, quantas pessoas, quantos homens e mulheres já chegaram ao término de suas penas, nesses espaços de justiça, mas como lhes falta alguém leal, íntegro, livre, que se coloque ao seu lado, eles continuam amargando um sofrimento do qual não são mais merecedores.

Mas eu queria falar de outras situações de injustiça, porque passa tanta gente. Nós, neste instante, convivemos com pessoas, que não têm casa, e as que têm, é vergonhoso chamar de casa, sem mesa, sem cadeira, sem uma cama, sem roupa e sem comida, sem o mínimo de dignidade, sem vida. Mas a preocupação pode ser estendida para aqueles que são vítimas dos vícios, das drogas, da prostituição, da violência, em fim.

Diante disso me entristece, quando vejo da nossa parte e da parte de muitas igrejas evangélicas que usam seus púlpitos, seus ambões, seus palcos e seus altares para defender seus interesses particulares, suas doutrinas, sua lei, sua fé.

Não seria melhor, neste instante, ao invés de ficarmos discutindo quem é melhor, quem arrebanhou mais, quem arrebanhou menos, quem pode salvar e quem não pode. Gastar toda a nossa força, inteligência e dons para defendermos, não doutrina, lei ou religião, mas defendermos nosso povo, nossos jovens, nossas crianças, idosos. Maltratados, desrespeitados, injustiçados nos tribunais públicos e particulares da vida?

Seguramente, há gente culpada ou não, injustiçada ou não no seio da sociedade e que estão entre as mais diferentes igrejas ou religiões. E também entre as diversas Igrejas há gente que tem pouco pra se alimentar, buscar uma saúde de qualidade, viver com o mínimo de dignidade. Ocorre que enquanto isso acontece, seus defensores, ou os que deveriam ser, seus pastores, que deveriam sentar ao seu lado, como faz o Espírito Santo e como fez Jesus tantas vezes, esses, continuam se dividindo, estão competindo, medindo forças, pelo que não é essencial, que é a vida, quando deviam mais defendê-la, seja ela de quem for e de que lado for, de que igreja for, de que sexo for, de que partido for, de que classe social for. A Vida em primeiro lugar.

O Senhor fala: Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Às vezes pensamos que guardar os mandamentos do Senhor é cumpri-los num ato exterior, "espiritual" e emocional. Não é possível guardar os mandamentos do Senhor se não for ao modo do advogado, ao jeito do defensor, que vem ficar ao lado, que vem sentir a dor, mas que sentir, vem assumir, vem defender, vem morrer pelo irmão, como fez Jesus.

Ou seja, guardar os mandamentos é assumir gestos concretos de solidariedade e amor para com o outro, a outra, gesto que deve ser feito por padres, pastores, leigos, leigas, por todos. Se não for assim esse mandamento não fica guardado, esse evangelho não fica entendido, ao contrário, fica perdido, extraviado, estragado nos discursos, nos gritos e nas orações ocas, inócuas, vazias e sem sentido que às vezes são proferidas e escutamos de lá e de cá.






domingo, 11 de maio de 2014

HOMILIA IV DOMINGO DA PÁSCOA

A PORTA
Sobre o Evangelho de hoje, bem como as dificuldades de se penetrar no seu conteúdo, se faz necessário uma pequena viagem histórica no contexto de onde o mesmo nasceu.

Segundo Fernando Armellini, "os pastores do tempo de Jesus, não eram aquelas pessoas boas, pacíficas, agradáveis como as vezes imaginamos. Pelo contrário, eram homens fortes, violentos, rudes, com o rosto queimado pelo sol, acostumados a lutar contra os bandidos e contra os animais que ameaçavam o seu rebanho. Além de serem desprezados pela vida rústica que levavam nas montanhas, eram tidos como impuros, ladrões, falsos. No tribunal o testemunho deles não tinha valor algum.  Os pastores da Palestina eram acostumados a reunir, durante a noite, suas ovelhas num único cercado. Pela manhã cada pastor se apresentava ao guarda, as ovelhas que tinham reconhecido os passos e a voz, logo se levantavam de um pulo, enquanto permaneciam deitadas as que pertenciam a outro rebanho".

"Em verdade eu vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante". Caríssimos no tempo de Jesus, haviam líderes políticos e religiosos, que embora do ponto de vista de alguns discursos e tarefas,  parecessem demonstrar preocupação pelo povo, na verdade buscavam unicamente seus próprios interesses. 

"Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas, a esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora". Como é encantador esse gesto do Pastor em relação às ovelhas. Uma relação de ternura, de amizade e carinho. As ovelhas não são mais um bando de gente, uma massa sofrida, machucada, jogada de um lado para outro, como fazem atualmente os falsos pastores nos currais públicos do nosso país, onde eles são os guardas. Ao contrário, o pastor conhece as ovelha, chama-as pelo nome, e as conduz para uma condição de vida melhor, a vida que faz a ovelha feliz. 

"Em verdade, em verdade eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas". Nesse momento existem muitas portas e muitas ovelhas passando por elas. São elas: Os meios de Comunicação com seus programas, seus filmes, suas novelinhas; as rádios, algumas com programas que não levam ovelha nenhuma para fora, para o crescimento humano, cristão, mas levam para o sofrimento e para a dor; chefes políticos, e, porque, não dizer, também religiosos, que muitas vezes nos seus longos e preparados discursos ou não, prometem felicidade, prosperidade ao povo, mas na verdade, estão defendendo unicamente seus interesses, ou os do seu grupo.

Esses, como os chefes políticos e religiosos que vieram antes de Jesus, são eles que Jesus hoje os chama de ladrões e assaltantes.

Para encerrar, quero lembrar a todos, que no que tange à figura da ovelha e do pastor. Na vida comunitária, na vida religiosa, na vida profissional, na vida familiar, na vida em grupo, pastoral ou  movimento, em algum momento seremos ovelhas, que,  uma vez debandada do redil por alguma falta de juízo cometida, precisamos da misericórdia do pastor ou da pastora que estiver ao nosso lado. Mas em algum momento seremos pastores, pastoras, que uma vez encontrando uma ovelha debandada, ferida e machucada, também por alguma escolha mal feita, teremos que igualmente ser misericordiosos, misericordiosas para com ela. Ou seja, teremos que ser porta para ela, uma porta ao modo e ao jeito da porta que é Jesus.

domingo, 4 de maio de 2014

HOMILIA 3º DOMINGO DA PÁSCOA

Ó insensatos e duros de coração para acreditar nas palavras dos profetas! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?”

Meus irmãos Jesus é aquele que continua caminhando conosco, continua caminhando com a comunidade, para revelar, para explicar o sentido da sua morte e da sua ressurreição.

Mas tem um problema, essa comunidade continua dando sinais de fraqueza, de falta de fé, e não consegue entender, não consegue conceber, não consegue aceitar tudo o que ocorreu com Jesus, porque O associava aos grandes líderes, um homem poderoso, e uma pessoa que jamais deveria morrer, pois os rabinos ensinavam que o Messias levaria uma vida de mais de mil anos, mas esse morreu com uns 30 anos. Não entendendo, continua vendo Jesus um homem derrotado, um homem vencido pela morte.

Nessa condição, nenhum sinal é suficiente para despertá-los de sua ignorância, nem o testemunho dado pelas mulheres, nem a pedra removida, nada consegue mudar a mente e o coração daqueles homens.

Como sois lentos, insensatos e duros de compreender... Meus irmãos, assistindo esta cena, eu me volto para os milhares discípulos e discípulas existentes nas nossas pequenas Emaús de agora.

Pessoas fechadas, duras na forma de se dirigir aos seus irmãos de caminhada, lentas em compreender, não racionalmente, mas em perdoar, em deixar para trás, ranços, mágoas e ressentimentos.

Irmãos e irmãs de caminhada, que manifestam a maior dificuldade em abraçar mudanças, medo de abandonar os velhos costumes, porque também não estão dispostos a sair da mesmice e do comodismo. Para eles conforta-lhes uma Igreja que reza o terço, faz novenas, celebrar missas e comunga nestas mesmas missas.

Mas, ir ao encontro das pessoas, sentar com o diferente, seja ele sócio - cultural ou religioso; participar de cursos, reuniões, assembleias, descentralizar as atividades, tirando-as do centro e levando-as para o seio das comunidades. Tudo isso se apresenta como um fardo muito grande e muito pesado.

Nesse sentido, como fez Jesus hoje na estrada de Emaús, a palavra tem que ser mais bem explicada, mas não só explicada, tem que ser também praticada, testemunhada. De forma que esses corações e essas mentes tão tristes e tão duros; tão tristes e tão impenetráveis, possam aos poucos começar a arder. E se toda a catequese da Igreja, todas as Eucaristias, todas as novenas e romarias que você participa, não tiverem forças para mudar esse coração duro e frio, você não tem outra saída, a saída é gritar com os discípulos de Emaús: Fica conosco Senhor.




domingo, 27 de abril de 2014

HOMILIA DO II DOMINGO DA PÁSCOA

A PAZ ESTEJA CONVOSCO

Caríssimos irmãos, estamos vivendo os oito primeiros dias da Páscoa do Senhor. E num desses dias, aproveitando o costume da comunidade de se encontrar numa casa para as orações, eis que aparece Jesus e diz: A Paz esteja convosco!

Esta cena, e esta saudação se deram duas vezes e em todas duas a saudação foi a mesma. O que não se repetiu foi a presença do apóstolo Tomé,  que não estava na primeira. Não estando, e sabendo da segurança dos seus companheiros, seus irmãos em relação à fé no ressuscitado, enfaticamente, condicionou.

Se eu não vir a marca dos pregos, se eu não pôr o dedo no lado onde a lança feriu, não acreditarei. Meus irmãos depois de dois mil anos em que tudo isto se deu, parece fácil se admirar, se escandalizar com a atitude de Tomé.

Mas antes dessa apressada e desnecessária admiração percorrer a nossa mente e o nosso corpo, é preciso voltar ao período em que João escreve seu Evangelho e saber que ali os cristãos da sua comunidade precisam ver para crer. Nesse sentido, Tomé é só mais um limitado e fraco homem, que também coloca as suas condições.

“Coitado de Tomé! Que mal ele fez?” A verdade é que Tomé não está só nas suas dúvidas e incertezas, mas ele é agora o representante de todos aqueles que encontram dificuldades não só para crer na ressurreição de Jesus, mas no próprio Jesus.

Tomé é o nosso representante, quando das nossas dúvidas e incertezas, queremos uma ação imediata de Deus e às vezes até mágica frente aos problemas que estamos enfrentado, e até nos chateamos quando essa sua ação não acontece.

Para Tomé tomar conhecimento acerca do Senhor, teve que ir à  casa onde seus irmãos se encontravam. Quantos e quantas hoje, semelhantes a ele não sabem e não querem saber de Jesus, não querem tomar conhecimento do Senhor, porque também não querem se dirigir para a comunidade ou para a Igreja. Tomé pelos menos foi sincero, disse, falou, pôs suas condições. Há muitos e muitas que nada dizem, nada falam, estão mudos, e assim não dão qualquer possibilidade para Jesus mudar as suas vidas, como mudou a de Tomé.

É possível, que a sua comunidade, o seu grupo, os seu bairro, sejam uma fotografia de muitos Tomés reunidos. Mas não importa, Jesus sabe que é por enquanto, assim. Importa mesmo é saber que essa gente apesar de suas limitações e seus pecados, eles são  imagens e testemunhas do Cristo Ressuscitado.

 

sábado, 19 de abril de 2014

HOMILIA DE SÁBADO SANTO

Caríssimos irmãos, comecemos esta noite dando um abraço forte no irmão que está ao nosso lado e desejando-o Feliz Páscoa!!

Conforme relatos litúrgicos, chegamos à noite mais esperada de todo o ano. A mãe de todas as noites. A noite em que o pecado, o mal, o ódio e até a própria morte foram vencidos.

Como vimos o sábado chegou ao fim. Esse dia que no Antigo Testamento, na antiga lei, foi dia de descanso e repouso, hoje para nós, foi dia de angústia, dor, medo e desesperança.

            Desesperança, porque a comunidade ainda não acreditou, ainda não aceitou, ainda não assimilou a morte de Cristo, não como uma derrota, um fracasso, mas como uma vitória.

            O dia já amanheceu, o dia já raiou, o galo já cantou, mas para aqueles corações sem fé, tudo ainda era noite, tudo ainda era trevas, tudo ainda era dúvidas e escuridões.

            Meus irmãos ainda hoje, encontramos muitas pessoas, que infelizmente não conseguem amanhecer, suas vidas são noites sem fim. Situações trazidas do seu passado e insistentes no seu presente as fazem tristes, amargas, ofensivas. Ou seja, não saíram ainda do túmulo, sua pedra não foi ainda movida, não foi tirada.

            Meus irmãos como o povo que hoje saiu do Egito, nós também devemos sair. O Papa Francisco fala de uma Igreja em saída. Fala de uma Igreja enlameada, fala de uma Igreja acidentada. Os grupos têm que sair, os ministros têm que sair, as pastorais tem que sair, a comunidade inteira tem que sair, o padre tem que sair.

            Neste um ano de experiência pastoral aqui em água Doce, não têm sido pouco os encontros, cursos, assembleias, que temos propostos e realizados. No entanto, percebemos, como a participação dos irmãos principalmente da sede tem deixado a desejar, tem sido fraca. E o que considero mais preocupante, irmãos que estão nos grupos, pastorais e movimentos.

            Eu tenho me sentido satisfeito com o número de participantes em todos eles, mas a grande força vem das comunidades do interior. Com isso, não quero apontar o dedo para rumo, direção e ninguém. Mas quero sim enfatizar, que não dá mais pra sermos uma Igreja que se contenta horas e horas fazendo leituras e rezando terços, ou outras formas de oração, e até a própria missa, enquanto lá fora, nas praças, nos bairros, nas ruas, existe um mundo de jovens, crianças, idosos à nossa espera. Jovens, crianças, idosos que não lhe faltam, só oração, mas falta também pão, casa, saúde, educação, falta vida, uma palavra amiga.

            No evangelho, um anjo abriu o sepulcro. Hoje, agora, somos nós, que temos que abrir os sepulcros, somos nós que temos que remover todas as formas de pedras impostas pelo sistema econômico, que deixa à margem das políticas sociais, crianças, jovens e velhos, e os obriga a sair de suas casas, arriscando-se às constantes formas de escravidões nos serviços humilhantes a que são submetidos nas grandes cidades.

            Somos nós que como cristãos, precisamos também ser humanos, precisamos ser sensíveis, precisamos sentir a dor do outro, precisamos como diz o Papa Francisco, voltar a aprender a chorar. Mas, esse chorar, mas que sentimentos e lágrimas, é propor aos nossos governantes, políticas de inclusão social, políticas para a juventude, para os idosos, para os negros, os índios, de modo que não seja preciso que se morra para um dia se celebrar a Páscoa do Senhor, mas que ela comece já, na promoção de vida plena para todos, e a morte seja apenas seu desdobramento e sua expansão.

           

 

           

quinta-feira, 17 de abril de 2014

HOMILIA I DOMINGO DE PÁSCOA

CRISTO RESSUSCITOU! ALELUIA!

           Como é difícil compreender esse mistério, como é difícil penetrar neste acontecimento. Como é difícil conceber que alguém, como num encanto sucumbe, desaparece, some, se esconde, mas depois, num outro momento surge das cinzas, surge do nada, contradizendo a ciência, a lógica e a própria razão.

Uma vez alguém se referindo à ressurreição, escreveu, “há fatos, que quando não compreendemos, aceitar é a melhor coisa que fazemos”.

Sobre o Evangelho lido, sublinhemos alguns trechos:

 
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus... Não se sabe tudo o que se passava na cabeça de Maria de Magdala, mas dá pra intuir, que aquela mulher, naquela noite, era a personificação de todas as mulheres e de todos os homens, que diante dos últimos acontecimentos em Jerusalém nas últimas horas, tudo era como um turbilhão, uma reviravolta,  que quanto mais os envolvia e os arrastava, menos entendiam o que se dava com seu mestre, naquela tarde, naquele dia.

Viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo... O texto não escreve as linhas que poderiam explicar melhor o movimento sofrido pela pedra. O registrado é que ela tinha sido retirada do túmulo. A pedra retirada do túmulo significa a intervenção de Deus, que abre, que escancara o sepulcro, os nossos sepulcros, os sepulcros que hoje, são abertos pelo ódio, pela inveja, fome, violência, ganância, corrupção e miséria. E que muitas vezes nos deixam desanimados, parados, dominados, como se a morte tenha mesmo a palavra absoluta e final.

Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo que Jesus amava... Esse versículo nos obriga a fazer alguma referência à pessoa da mulher. No tempo de Jesus a mulher fazia parte de uma categoria inferior na escala social. Ela estava no mesmo nível das crianças, escravos, pastores, pessoas sem confiança e sem idoneidade. Disse anteriormente da intervenção de Deus na retirada da pedra do sepulcro. Mas o machismo, a discriminação e o preconceito para com a mulher, era um sepulcro social dos mais fétidos, dos mais nojentos. Fazer da mulher a primeira anunciadora e testemunha da ressurreição, é um modo de como Nosso Senhor joga por terra tudo isso, pois agora, não só retira, mas quebra esta pedra, e inaugura um novo tempo, um tempo de civilização, de solidariedade, de amor e de paz.

Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro...  Como vimos o outro discípulo não tem nome. “É opinião geral que se trata do Evangelista João. Esta identificação, porém aconteceu muito mais tarde, cem anos após a morte do apóstolo. Pode ser que fosse ele o discípulo que Jesus amava. Contudo, a personagem tem um significado simbólico”. Fernando Armellini.

No que se refere à cena que acabamos de assistir, mais uma vez Pedro é quem percebe depois, é quem toma atitude depois, é quem chega atrasado, é quem acredita por último. Também na comunidade e na sociedade não é diferente. Diante das situações de morte, são poucos os que logo percebem e reagem. Quantos na comunidade chegam bem depois, atrasados, quando tudo já está praticamente resolvido. Quantos desanimam, desistem, vão embora, porque não tiveram coragem senão de quebrar, pelo menos empurrar a pedra, que muitas vezes não está fora, mas dentro de cada um, e atrapalhando a vida em comunidade e em sociedade.

Sobre o discípulo amado, dito como uma personagem simbólica pode ser você, você que não fica só reclamando, achando que não tem mais jeito. Mas ao contrário olha para o horizonte e consegue enxergar um leque, mas que um leque, um mundo de possibilidades esperando por alguém que não fica parado, desanimado, mas que acredita que corre que luta. E num mundo que cada dia mais parece se conformar com a possibilidade da morte, e até lucra com ela, você se oferece como instrumento de ressurreição e de vida.

 

domingo, 13 de abril de 2014

HOMILIA DOMINGO DE RAMOS



QUEM SOU EU?

Hoje, quem acordou mais cedo e pôde acompanhar um pouco a homilia do Santo Padre, o Papa Francisco, na Praça da Sé, em Roma, assistia a um homem simples, que com palavras simples, mas, tocantes discorria sobre o Evangelho da Paixão de Jesus, num discurso que o repórter disse parecer um improviso, de tão simples que era. Olhando no rosto, no semblante daquela multidão imensa na Praça de São Pedro, o Papa se perguntava e ao mesmo tempo respondia.

Quem sou eu?

Uma pergunta que pode se desdobrar em outras tão semelhantes, como: Com quem pareço? De que lado estou? Em que grupo estou?

Eu sou do grupo daqueles que satirizam, galhofam e zombam de idosos, embriagados, homossexuais, negros, índios, como os soldados que satirizam, galhofam e zombam Jesus, depois de tanto humilhá-lo e fazê-lo sofrer com aquela pesada cruz? Eu sou do grupo daquelas mulheres, eu me pareço com elas, que não mais se importando se a violência que levou seu mestre à morte lhes atinja, então, estão ali, firmes, resolutas, acompanhando de perto e mostrando toda a sua solidariedade ao seu Senhor?

Eu sou aquele Sirineu, que mesmo cansado dos meus trabalhos das minhas labutas, ainda encontro forças para ajudar Cristo carregar a Cruz? Ou eu sou Pilatos que com medo de assumir compromissos, responsabilidades no seio da comunidade, às vezes tendo que desgostar alguns sentimentos, prefiro lavar minhas mãos, ser omisso, como se os problemas de fome, de falta de saúde, educação, moradia, trabalhos, vida plena, não é responsabilidade minha, mas tarefa só dos outros, dos governos, por exemplo?

Meus irmãos, às vezes a gente pensa que celebrar este dia, e, não só este dia, mas todo esse tempo litúrgico que começou na quaresma e se estende até a Páscoa, seja tomar nossa liturgia diária, nossa Bíblia, nossos cantos, nosso terço, e viver momentos profundos de piedade e oração.

Mas qual o sentido da nossa Eucaristia, tanto a desse dia como a de todos os dias e tempos, se não se relaciona, se não se impregna, se não se agarra às situações concretas da vida do nosso povo?

Qual o sentido de uma liturgia e de um culto, que se voltam tão somente para dentro do orante, que se escondem nos porões dos seus sentimentos, mas não vêm, tantos jovens, homens, mulheres, partindo todos os dias das nossas cidades para os grandes centros arriscando-se a situações de misérias, escravidões e exclusões?

Na Sagrada Escritura, lemos textos nos quais, nosso Senhor rejeita orações e sacrifícios, quando esses não se deixam carregar de misericórdia e compaixão. E as nossas orações, missas e celebrações se tornam igualmente inócuas, ocas, vazias, e sem sentido se não levam em conta a situação de fome, miséria, e a falta de saneamento básico que castigam tanto nossas cidades. Tornam-se ocas e vazias, se não levam em conta o meio ambiente, escandalosamente explorado, agredido e machucado pelos ditos “grandes” projetos de monocultura de soja e eucalipto.

Está na hora de sairmos do bla, blá, bla, da teoria, do discurso fácil, das orações longas, intimistas, piedosas, mas desencarnadas, que não transformam, não renovam e não convertem para justiça, para a solidariedade e para o amor. Está na hora de propormos, mas que propormos, sermos uma Igreja que como Jesus, silencia diante dos Pilatos de hoje, não por medo ou covardia, mas, porque, não comunga e não concorda com sua tirania, sua covardia e suas maldades. Sermos uma Igreja que seguindo o seu mestre, não veste a roupa do sistema político e econômico, que empobrece, acorrenta e escraviza tantos jovens, tantos homens e mulheres.

Naquele tempo a esponja dada com vinagre servia para estender o tempo de vida do crucificado, não por amor a ele, mas para curtirem mais a sua dor e seu sofrimento. Nessas horas existem muitos crucificados nas nossas periferias das nossas cidades, pela fome, alguns pela miséria extrema, outros pela falta de saúde e educação. É urgente que agora levemos não mais esponjas ensopadas, mas levemos acima de tudo a esperança de que um mundo de justiça, de liberdade e de paz, é possível.