segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

MISSA VÉSPERA DE ANO NOVO

"A comemoração dessa festa teve início na Mesopotâmia por volta do ano 2.000 antes Cristo, e era conhecida como festival de "Ano Novo". Na Babilônia a festa começava na primavera, por ocasião do equinócio, ou seja, no momento em que o sol corta a linha do Equador, fazendo com que os dias sejam iguais às noites. Os romanos foram os primeiros a estabelecerem um dia para esta festa ( 753 antes de Cristo). O ano começava em 1º de março, mas foi trocado em 153 antes de Cristo  e mantido no calendário Juliano, adotado em 46 antes de Cristo. Em 1.582 a Igreja consolidou a comemoração, quando adotou o calendário gregoriano". 

Caríssimos irmãos em fim chegamos ao entardecer de 2012 e logo amanheceremos e acordaremos com os raios do sol de 2013. 

O que esperamos desse tempo que logo começa, o que almejamos nesse tempo que logo se inicia? Ou melhor, o que as pessoas podem esperar de mim, neste novo ano que logo amanhecerá?

Não vão ser poucos, os abraços, apertos de mão,  os votos desejados de feliz ano novo, de saúde e de paz ao longo dessa noite. Não vão ser poucos os fogos, as bebidas e as comidas esbanjados ao longo desta noite.

Tudo bem, mas será isso suficiente para se viver bem,  viver feliz, o ano que chega com todas os desafios e problemas que ele herdará do ano que findou? 

Meus irmãos não tenhamos dúvidas, assim que cruzarmos o limiar do novo ano, assim que despertarmos no dia do novo ano, assim que o os raios do sol de 2013 vararem as venezianas das nossas janelas e das nossas portas, muitos desafios não superados no ano anterior estarão rentes, prontos para conosco iniciarem uma nova jornada.

Pois bem, o grande desafio nosso, o grande lance nosso, a grande cartada nossa, é adentrar nesse ano, andar em meio aos seus desafios, cruzar com as suas dificuldades, mas sem perder de vista as boas atitudes, entre elas a de amar e perdoar. Aliás, nós só conseguiremos suportar os desafios desse novo ano, deixados pelo ano que se foi, sem melindres e reclamações, se nos munirmos desse perdão e desse amor.

Como é difícil exercitar o amor e o perdão. Difícil, porque amar, significa assumir riscos, inclusive o risco de não ser recompensado com o mesmo amor. Muitas pessoas deixaram de amar, porque amaram esperando receber algo em troca, e essa troca não veio, continuam esperando, e podem esperar a vida inteira, porque essa troca pode nunca vir. 

Se você quiser amar, ame, mas não espere nada, não exija nada, não reivindique nada, só ame. Quem ama esperando receber algo em troca, pode não ter entendido o exercício de amar.

Como é difícil perdoar, porque perdoar é dizer à outra pessoa que o que ela fez não existe mais. Ou seja, você deixa de ser vítima da pessoa que lhe ofendeu, arrancando, tirando um peso, um fardo das suas costas e das costas dela também.

Veja, o pedão serve para os dois, para o que foi ofendido, porque ele agora se vê livre da mágoa e do ressentimento, mágoa e ressentimento que ferem e matam não só o coração, mas também a alma. E para o agressor, que não vê em você mais um adversário, mas um irmão.

Nunca foi fácil perdoar, porque perdoar significa romper comigo e com meus sentimentos. Nunca foi fácil perdoar, porque perdoar significa evitar, cortar as lembranças, aquelas que aumentam as nossas mágoas, nossas dores e os nossos sofrimentos.

Diz um provérbio que a pessoa que perdoa uma ofensa, mas insiste nas lembranças passadas estraga a amizade. E eu digo que a pessoa que perdoa, mas insiste na lembrança do que aconteceu, não entendeu nada do perdão. E, aí, estraga não só a amizade, mas estraga também o coração, estraga o espirito, estraga a alma e estraga a própria vida. 

Celebremos um ano de fato novo, novo não só pela sua cronologia ou pela sua história, mas novo principalmente, por causa das mudanças que você agora se propõe arriscar na sua vida e no seu coração.

O ano jamais será novo, se você insistir nas coisas velhas da mente e do coração. O ano jamais será novo, se você tiver medo de amar e perdoar. O ano jamais será novo, se você não  se revestir por dentro. Revestir, é vestir de novo. De novo, porque precisamos está sempre renovando o guarda roupa do nosso coração. De novo, porque, não das roupas e, ou dos trages novos comprados e, ou alugados, caros para as festas desta noite, mas do Espírito Santo que nos veste com a sua pureza, com sua santidade e com o seu amor.

 

 






 



  





 
 



 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

HOMILIA DE NATAL

 
"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, para os que habitavam na sombra da morte, uma luz resplandeceu". Is. 9,1.

“O texto que nos é apresentado faz parte dos oráculos atribuídos ao Profeta Isaias, não se tem certeza que seja de Isaías, ou um texto posterior à sua época, enxertado pelos editores finais da obra na mensagem de Isaías. Se for de Isaías pode ser da fase final do profeta, lá pelo século VII antes de Cristo. Por essa altura o Rei Ezequias, ignorando os avisos de Isaías, continua jogando politicamente contra os assírios, enviando embaixadas à Fenícia, à Babilônia e ao Egito, a fim de consolidar uma frente contra a Síria. O profeta, desiludido com essas iniciativas, começa a sonhar com um tempo novo e de paz onde reinam o direito e a justiça. Seja como for, o texto dá fôlego às esperanças messiânicas e alimenta as esperanças de um Israel melhor, com um futuro de paz e felicidades”. Um texto tirado da pagina dos Padres Dehonianos.


Caríssimos irmãos, depois de quatro semanas de expectativas e de espera, chegamos à grande noite, muitos sentimentos marcaram essa caminhada ate aqui, porque não foi uma caminhada apenas de quatro semanas, é a caminhada de anos de espera, anos marcados por opressão, fome, escravidão, injustiça, exílio após exílio, desilusão, perda da terra e perda da própria vida. Tudo isso junto e pelo tempo que se estendeu, com a intensidade e a dimensão com que se deu, trouxe incerteza, desesperança, impotência, sentimento de abandono por parte de Deus, trouxe dor, sofrimento.

Até que numa noite, tudo se irrompeu. Todos aqueles anos de angústia, que pareciam uma noite sem fim, chegaram ao seu cabo, pois uma luz brilhou nas trevas, e para os que caminhavam na sombra da morte uma luz resplandeceu. E mesmo que o lamento de Isaías ainda tenha força em alguns cantos desse planeta, porque nem tudo se renovou, estamos vivendo um momento novo, um tempo de certeza, de alegria e de paz.

É isto, é isto que queremos expressar neste natal. Nós sabemos que do ponto de vista dos problemas sociais, políticos, econômicos, a questão da fome, da violência e do desemprego muita coisa melhorou, mas muita coisa ainda precisa mudar, mas já se fala tanto nestas coisas, nestes fardos ao longo de todo o ano. Agora se podemos dá outro tom, outro brilho e outra cor às palavras proferidas nesta noite, por que não fazemos?

O dia é lindo demais, é maravilhoso demais, é magnífico demais para ficarmos recordando as desgraças, os fracassos e as derrotas do passado, ou seja, trocando as luzes e as estrelas que brilham nesta noite, pelas nuvens escuras que acompanham e continuarão a acompanhar o nosso existir.

Não, o que nós queremos hoje é mergulhar na alegria deste natal, nos envolver com as luzes que como em cascatas caem daí, nós queremos ver o menino Jesus sorrindo na nossa direção, dando a entender que no presépio, a frieza daquela madrugada não tinha força, nem espaço para penetrar o seu coração, porque ele já era cheio de luz, de paz e  de muito amor.

Nesse sentido, como diz a canção, natal é tempo de rever, rever a nossa vida, rever os nossos atos, rever as nossas decisões, rever as nossas intenções, rever os nossos corações. 

Rever essa vidinha que estamos levando, às vezes sem responsabilidade, sem compromisso e sem verdade. Rever os nossos atos às vezes imaturos, inconsequentes prejudiciais à nossa vida e à nossa santidade, rever esse coração machucado e ferido, angustiado e ressentido, que prefere se queixar, lamuriar e chorar, ao invés de se levantar e pôr-se a caminho, à maneira dos magos, mesmo que para isso tenha que sofrer por alguns momentos trevas e escuridões uma vez que nem sempre a estrela está presente para clarear.

E então, está disposto a abrir os braços neste natal, está disposto a dar passos neste natal, está disposto a curar o seu coração neste natal? Ou vai preferir continuar vivendo as mesmas e velhas práticas, os mesmos e velhos hábitos, as mesmas e velhas atitudes?

Se levante, sacuda a poeira, caminhe, é possível que o caminho seja longo, mas não importa, importa é o que você está buscando, você está buscando curar o seu coração, e só quem pode fazê-lo é quem já tem o coração curado, e o Menino que nasceu, o tem, a prova disso é que não reclamou com as fezes, nem com os capins, nem com a dureza da estrebaria.

Mas você ainda reclama, você ainda fala mal, você ainda se queixa, você ainda está insatisfeito, você critica tudo, reclama de tudo, ou seja, o menino ainda não nasceu pra você, seu coração ainda não foi curado por ele, seu coração ainda não foi iluminado por ele, seu coração ainda não foi salvo por ele.

Mas hoje você tem a chance de mudar tudo isso nesse natal, tome posse desse natal na sua vida, deixe Jesus nascer no seu coração, deixe Jesus curar o seu coração, deixe Jesus iluminar o seu coração, ferido, machucado e ressentido.

Diga agora, Pai Santo toma o meu coração, magoado, triste e angustiado e cura-o Senhor, restaura-o Senhor e o desperta para a paz, para o perdão e para o amor. É verdade que às vezes falta-me coragem, falta-me disposição para me levantar, tenho medo de romper comigo mesmo, tenho medo sair das minhas trevas, tenho medo de abandonar os meus pecados. Então, Pai, dá-me a coragem, a mesma que deste ao filho pródigo, a mesma que deste à pecadora, a mesma que deste a Zaqueu. A coragem de me levantar, de sair de mim mesmo de poder arregaçar as mangas e partir para Belém, me ajoelhar junto à manjedoura e beber da santidade que daí irradia e converter essa experiência em atos de justiça e fraternidade, em atos de perdão e amor junto aos tantos Jesus Meninos, aos tantos Jesus Jovens, aos tantos Jesus homens Mulheres, que talvez como eu, continuam percorrendo este caminho de salvação. Mas nós não queremos só percorrer, nós não queremos só nos aproximar, nós queremos chegar, como chegaram os magos, como chegaram os pastores, como chegaram todos aqueles que hoje celebram um Natal eterno e feliz junto do Pai.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

HOMILIA DO IV DOMINGO DO ADVENTO


"Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia" Lc. 1,39a

Tudo começou após a anunciação do anjo a Maria, quando disse alegra-te cheia de graça, o Senhor é contigo. E disse depois: Tua parenta concebeu na velhice um filho e este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque pra Deus nada é impossível.

E Maria partiu, dirigindo-se apressadamente. O que faz uma pessoa sair apressada ao encontro de outra? O que faz uma pessoa romper noites e dias, enfrentar obstáculos e distâncias, riscos e perigos para ir ao encontro de alguém?

Não era curta a distância que separava Maria e Isabel. Uma, morava em Nazaré da Galiléia, e a outra, morava em Ain -  Karim, na Judéia, lá nas montanhas, há quase 160 km.  Os caminhos eram longos e difíceis, e abrigavam assaltantes, Jesus conta que um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Maria não deve ter ido só, mas deve ter aproveitado as caravanas que geralmente se dirigiam para Jerusalém.

Mas ela foi às pressas. E o que a motivava tanto, e o que a impulsionava tanto? O Mensageiro Celeste, depois de dizer que ela era cheia de graça, disse também que o Espírito Santo viria sobre ela. Ou seja, ela agora não era só a cheia de graça, era também a cheia do Espírito Santo, a encharcada do Espírito Santo, a impregnada do Espírito Santo. E com certeza aqui está a razão de tanto entusiasmo, dificilmente alguém faria o que Maria fez, tomaria decisão tão firme, se não tivesse tocada, e impulsionada pelo Espírito Santo.

Cada passo que Maria dava subindo e descendo os montes era uma confirmação e uma certeza da sua entrega total e sem reservas à vontade do Criador. Uma entrega não inerte, nem passiva, mas dinâmica e ativa, onde Maria se deixava conduzir e embalar pela palavra do anjo, e onde o anjo respondia e esclarecia as dúvidas de Maria.

Ela não peregrinou só para as montanhas, para a casa de sua prima Isabel, ela não caminhou só para a sinagoga para se reunir conforme o costume judaico, ela também caminhou na fé, ela experimentou momentos de obscuridade e silêncio. E da mesma forma como subia e descia os montes e as colinas na direção das montanhas até Judá, ela também subiu e desceu  montes de obstáculos que seu sim lhe trouxe, obstáculos muito maiores, porque eram obstáculos humanos.

Ela deu à luz numa estrebaria entre garranchos e capins, aos oito dias ouviu da boca de Simeão que por causa daquele menino, uma espada transpassaria o seu coração, dias depois teve que fugir às pressas para o Egito para defendê-lo da fúria de Herodes, tempos depois viveu dias de aflição ao perdê-lo no templo, e aos 33 anos, assistiu no Calvário sua morte, a morte da vítima que ela havia gerado em seu seio,  e bem ali, via se cumprir o que um dia lhe falara o velho Simeão. Mas em nenhum momento desistiu, pelas montanhas chegou à casa de Isabel e pela fé que em nenhum momento vacilou, chegou ao coração do Pai.

Como Maria precisamos arriscar, precisamos não ter medo de errar, precisamos correr riscos. Uma Igreja que não se atreve e que não ousa, pode parecer inócua, inócua porque não incide e não provoca um mundo que precisa ser interpretado. Pode parecer medíocre, porque fica onde está e se contenta como está. Numa penumbra, numa sombra, num retraimento e num medo, que lhe parece parar.

Maria correu riscos, e o primeiro, foi quando disse sim, sem ao menos medir as consequências que poderiam nascer daí. Arriscar é caminhar para o incerto, arriscar é caminhar para o perigo,  mas, mais perigoso é não arriscar.

Tem hora que a Igreja é prudente demais, ou tem medo demais e acaba aumentando o cordão dos que temem a humilhação e a derrota, porque teme se arriscar. Por temer, não se expõe, não se expondo, não  arrisca dentro dela mesma, uma mudança, que seria um triunfo e uma vitória.




































quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

HOMILIA III DOMINGO DO ADVENTO

"Por isso, João declarou a todos: Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou  digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo". Lc. 3, 16

Caríssimos irmãos neste domingo nos atentemos a três assinalações importantes deste versículo: 01 - Eu vos batizo com água, 02 - Aquele que vem é mais forte do que eu, 03 - Ele batizará no Espírito Santo e no fogo.

Na Bíblia encontramos vários episódios em que está presente o símbolismo da água. No poço de Jacó Jesus pediu água a uma mulher que veio da Samaria, levando-a a descobrir Nele uma fonte de água viva, deixando para trás o tempo dos poços e das piscinas, incapazes de matar a sede de salvação eterna.

No dilúvio a água afogava parte da humanidade, e com ela as suas maldades e pecados, para dalí surgir um novo homem, uma nova criação. Nesse sentido, deixar-se batizar com água é iniciar esse processo de purificação ainda simbólico, até experimentarmos uma purificação plena e definitiva.

 Não sei se João Batista tinha a noção do que estava dizendo e das consequências do que dizia. Quem era mais forte ali, senão Herodes, Pilatos, os Sumos Sacerdotes, os Doutores da Lei e os Fariseus? Anunciar que estava se aproximando alguém mais forte, num ambiente como aquele, hostil e oposto a tudo o que se revelava uma possível ameaça aos seus interesses, era anunciar que a guerra estava declarada. Jamais o poder e a religião constituídos no Templo, aceitariam uma proposta vinda de um suspeito, de um lugar suspeito e com sérias ameças a este poder e a esta religião.

Se o batismo na água é uma etapa da conversão, o batismo no Espírito Santo o que é? "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres, e todos fomos impregnados do mesmo Espírito" 1º Cor. 12,13.

O que é uma coisa impregnada? Impregnado é algo ensopado, encharcado, alagado, embebido. Nesse sentido ser batizado com o Espírito Santo é ser encharcado, embebido, alagado pelo Espírito Santo, conforme cantamos na canção, "quero mergulhar no teu amor enchacar-me em teus rios Senhor...".

E nesse tempo em que tem sido presente a imagem do deserto, deserto, lugar de provação, serpente, escorpiões, fome, sede, aridez, motivos de tanto desânimo, tristeza e abandono de tantos irmãos que sairam de nossas fileiras, é mais do que oportuno o batismo no Espírito Santo, para encharcar, inundar, impregnar, embeber esses desertos, animar esses desertos, renovar esses desertos, não os geográficos, porque esses não perderão o seu aspecto natural, mas os desertos construídos dentro de cada um, e às vezes muitos mais secos, mais ásperos  e mais duros que os comumente conhecidos.

E se por ventura só encharcar, embeber e molhar não resolver, então, demos o passo seguinte, deixemo-nos queimar. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Que fogo é esse? É o que queima, é o que destrói e o que derrete. É o que nos faz sentir paixão, não essa paixão afetiva, sensual e momentânea do mundo moderno, mas aquela que aqueceu os corações dos discípulos na estrada de Emaus e os fez abraçar a cruz sem mais desanimar. Foi a mesma que ardeu no coração de Jesus como fogo e o fez abraçar a cruz num abrasamento e num incendiamento eternos e sem fim.

"Apareceram-lhes então uma espécie de língua de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles" Atos 2,3. E porque ele se repartiu? Se repartiu, porque não é propriedade de um só, de um grupo só, de um movimento só, de uma igreja só, ele é de todos, ele quer tocar a todos, ele quer queimar a todos, ele quer purificar a todos.

Deus quer nos purificar, Deus quer nos santificar, Deus quer nos modelar, como faz o ferreiro na feitura da lâmina e do facão. Assim como o fogo é usado para arrancar as sujeiras do ferro e do cobre, Deus usa o Espírito Santo para arrancar as nossas sujeiras e os nossos pecados e nos fazer vasos novos, onde poderão ser plantados sua graça e seu amor.







quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

HOMILIA II DOMINGO DO ADVENTO

 "Esta é a voz daquele que grita no deserto: 'preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas, as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados'". Lc. 3,4b-5.

Meus irmãos estamos rápidos, já estamos no Segundo Domingo do Advento. E o que essa data significa para nós? Qual a influência desse tempo no cotidiano de nossas vidas? O que fala para nós e para o nosso coração esse tempo de graça e salvação, que é o Advento?

Meus irmãos nós até podemos pensar em desertos geográficos, e ali havia o da Samaria, o da Judéia, podemos pensar no Rio Jordão, e outros lugares por onde João Batista andou e pregou, mas certamente, não alcançaremos onde o grito de João quer chegar.

Certamente, mais que a lugares geográficos, mais que a desertos terrenos, o grito de João pretende chegar aos corações, pretende chegar às mentes, pretende chegar ao modo de vida das pessoas e cutucá-las, e intimá-las, a uma mudança desse modo de vida.

Nesse instante acompanhamos montes de injustiça por todo o mundo, mares de corrupção que banham parte dos homens, abismos entre ricos e pobres, vales profundos entre irmãos que não cedem ao amor e ao perdão, vidas tortuosas, porque marcadas pelo egoísmo e pelo pecado.

Tudo isso junto alerta-nos para a luta por um mundo melhor, aguça os ouvidos da Igreja e chama a sua atenção para tomar uma posição cada vez mais profética e dispensdora de testemunho evangélico, e assim o seu grito de mudança lá fora seja um grito forte e coerente. Forte, porque capaz de chegar aos corações mais distantes , e coerente, porque respaldado numa vivência e numa prática brotadas do seu interior.  Dessa maneira, as possíveis páginas em branco, os espaços vazios no que diz respeito à conversão e à santidade, ainda existentes dentro e fora da Igreja possam ser preenchidos por todos.

Neste sentido o que estamos dizendo é que precisamos sair do Advento litúrgico e celebrativo, do Advento histórico e cronológico, na verdade, precisamos sair do Tempo do Advento para entrarmos no Advento do tempo, no Advento do tempo da justiça, no Advento do tempo do direito, no Advento do tempo da luta por dignidade e vida para todos, no Advento do tempo do amor, do perdão e da paz entre nós.

Um Advento feito de orações, cantos, louvores e emoções,  que não leva à transformação da vida, através de atos concretos de solidariedade em favor do irmão,  torna-se um ato morto, estéril e sem sentido.

A pregação de João Batista, bem como o seu batismo exortavam para uma conversão, mas conversão não apenas espiritual, mas uma conversão também das estruturas de poder, que mantinham o povo à distância, e privado de viver as condições básicas de justiça, liberdade, direito e vida, uma vez que tudo era ditado do Império Romano, e se dava como o Imperio queria, para depois voltar em forma de lucro e garantia.

Nesse sentido o grito do profeta para que o caminho do Senhor seja endireitado, é um apelo para que a ordem sócio, política e econômica seja humanizada, o sistema religioso de dominação seja endireitado,  as mentes e os corações se convertam e sejam purificados, para que assim o Reino de Deus anunciado por João e concretizado por Jesus seja em fim instalado, não nas areias movediças do deserto da Judéia, nem nas mentes e nos corações, secos e  indispostos à germinação da semente do perdão e do amor, mas nos corações férteis, nos corações capazes de produzir frutos de justiça, de perdão e de amor.



















domingo, 2 de dezembro de 2012

HOMILIA I DOMINGO DO ADVENTO

"Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, na terra as nações ficarão angustiadas com o pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas" Lc. 21,25-26.

Meus irmãos permitam-me voltar à minha velha pergunta: Por que você está aqui? Você está aqui, porque você quer ser achado, buscado, encontrado e carregado por Jesus, ou seja, você está aqui porque você quer ser salvo.

E como ser salvo a partir do que é proposto no Evangelho de hoje? Que sinais são esses, que angústia é essa, que medo é esse que envolvem todos os homens e mulheres, capaz de chegarem a desmaiar?

Alguns dias atrás, nós refletimos algo semelhante. Fálavamos do escurecimento do sol, da lua que perdiria o seu resplendor, dos astros que cairiam, ou seja, mais uma vez nos deparávamos com o gênero literário apocalípitico, nos falando de forma simbólica acerca do fim dos tempos, numa referência clara aos acontecimentos de agora ou de acontecimentos que já se deram.

As comunidades que viviam momentos difíceis de sua vida, dada a perseguição por parte dos imperadores romanos precisavam ser animadas, encorajadas. Portanto, a linguagem simbólica e sutil oferecida, vai nessa direção, tem esse objetivo, animar, encorajar, e, quando essas comunidades forem mais unidas, quando forem testemunhas fiéis, quando confiarem em Deus e nelas também, no seu companheirismo e na força que elas têm; não as estrelas, nem o sol, nem a lua, mas sim, os falsos e tiranos poderes, o mundo velho marcado pelo egoísmo e pelo pecado, o ódio e o rancor que ainda marcam tantos corações, esses sim cairão, esses sim serão destruídos, para um novo tempo surgir, um mundo de justiça, de amor  e  paz, um mundo de direito e dignidade para todos.

Nesse sentido Lucas não está falando do fim do mundo como às vezes entendemos, mas sim de acontecimentos, de tribulações, de tempestades geográficas, físicas, familiares, espirituais, econômicas que acontecem quase todo dia com a gente.

E o que fazer diante disso? Desesperar? desanimar? Desistir? abandonar? Fugir? Não. Ele diz que é pra levantar a cabeça e ficar de pé. É verdade que há muitas situações que parece lhe jogar no chão, o mundo parece que desabou mesmo sobre você, as atitudes erradas, o sentimento de culpa, o sentimento de nossas misérias, aquela acusação que nos fazem, enfim. Com certeza as nossas escolhas mal feitas, nos farão humilhados, arrastados e feridos no chão. Tudo acabado? Lembrem do que ele disse: "quando todas essas coisas acontecerem", ou seja, quando você for humilhado, arrastado, arrasado. Quando tudo parecer perdido, quando tudo parecer não ter mais sentido, você que é uma pessoa de fé, você que é um cristão perseverante, levante a cabeça e fique de pé.

Deus não te quer  rastejando, Deus não te quer  humilhado, Deus  te  quer feliz, Deus  te quer alegre, Deus  te quer sorrindo.