domingo, 25 de maio de 2014

HOMILIA VI DOMINGO DA PÁSCOA

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai e ele vos dará um outro defensor, para que permaneça sempre convosco”.

Na vida em algum momento é preciso que se vislumbre um pouco o horizonte, que se saiba algo sobre ele, para se continuar caminhando. Tipo, precisamos que nos digam alguma coisa, alguma notícia, para combustar as forças que nos parecem faltar e terminar.

Os discípulos continuavam tristes, desapontados, com suas mentes e corações perturbados devido aos constantes discursos de despedida feitos da parte de Jesus. Jesus, por sua vez jamais faria uma promessa se não fosse séria e para dizer aos seus, que quando os chamou amigos, não o fez por brincadeira, mas era verdadeiro, e provaria isto, mandando agora o Espírito Santo, sinal dessa fidelidade.

Importante é que esse Espírito Santo recebe o nome de Defensor, de Advogado, de Paráclito. Paráclito na Bíblia quer dizer aquele que é chamado para ficar ao lado. Ao lado daquele que se encontra em dificuldade, uma vez que frente às acusações, aos problemas de injustiça vividos, não tem quem o defenda.

Naquele contexto, como temos acompanhado diariamente nos textos dos Atos dos Apóstolos, quem têm sofrido injustiças e perseguições são os discípulos, e precisam muito do Espírito Santo para discernirem, clarearem, qual a vontade de Deus nas suas vidas.

E hoje? No nosso contexto? Quem sofre injustiças e perseguições? E quem está ao lado dessas pessoas?

Muitas vezes quando refletimos sobre os itens justiça e defesa, referimos logo às questões que se dão nas delegacias e nos tribunais. Também. De fato, quantas pessoas, quantos homens e mulheres já chegaram ao término de suas penas, nesses espaços de justiça, mas como lhes falta alguém leal, íntegro, livre, que se coloque ao seu lado, eles continuam amargando um sofrimento do qual não são mais merecedores.

Mas eu queria falar de outras situações de injustiça, porque passa tanta gente. Nós, neste instante, convivemos com pessoas, que não têm casa, e as que têm, é vergonhoso chamar de casa, sem mesa, sem cadeira, sem uma cama, sem roupa e sem comida, sem o mínimo de dignidade, sem vida. Mas a preocupação pode ser estendida para aqueles que são vítimas dos vícios, das drogas, da prostituição, da violência, em fim.

Diante disso me entristece, quando vejo da nossa parte e da parte de muitas igrejas evangélicas que usam seus púlpitos, seus ambões, seus palcos e seus altares para defender seus interesses particulares, suas doutrinas, sua lei, sua fé.

Não seria melhor, neste instante, ao invés de ficarmos discutindo quem é melhor, quem arrebanhou mais, quem arrebanhou menos, quem pode salvar e quem não pode. Gastar toda a nossa força, inteligência e dons para defendermos, não doutrina, lei ou religião, mas defendermos nosso povo, nossos jovens, nossas crianças, idosos. Maltratados, desrespeitados, injustiçados nos tribunais públicos e particulares da vida?

Seguramente, há gente culpada ou não, injustiçada ou não no seio da sociedade e que estão entre as mais diferentes igrejas ou religiões. E também entre as diversas Igrejas há gente que tem pouco pra se alimentar, buscar uma saúde de qualidade, viver com o mínimo de dignidade. Ocorre que enquanto isso acontece, seus defensores, ou os que deveriam ser, seus pastores, que deveriam sentar ao seu lado, como faz o Espírito Santo e como fez Jesus tantas vezes, esses, continuam se dividindo, estão competindo, medindo forças, pelo que não é essencial, que é a vida, quando deviam mais defendê-la, seja ela de quem for e de que lado for, de que igreja for, de que sexo for, de que partido for, de que classe social for. A Vida em primeiro lugar.

O Senhor fala: Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Às vezes pensamos que guardar os mandamentos do Senhor é cumpri-los num ato exterior, "espiritual" e emocional. Não é possível guardar os mandamentos do Senhor se não for ao modo do advogado, ao jeito do defensor, que vem ficar ao lado, que vem sentir a dor, mas que sentir, vem assumir, vem defender, vem morrer pelo irmão, como fez Jesus.

Ou seja, guardar os mandamentos é assumir gestos concretos de solidariedade e amor para com o outro, a outra, gesto que deve ser feito por padres, pastores, leigos, leigas, por todos. Se não for assim esse mandamento não fica guardado, esse evangelho não fica entendido, ao contrário, fica perdido, extraviado, estragado nos discursos, nos gritos e nas orações ocas, inócuas, vazias e sem sentido que às vezes são proferidas e escutamos de lá e de cá.






domingo, 11 de maio de 2014

HOMILIA IV DOMINGO DA PÁSCOA

A PORTA
Sobre o Evangelho de hoje, bem como as dificuldades de se penetrar no seu conteúdo, se faz necessário uma pequena viagem histórica no contexto de onde o mesmo nasceu.

Segundo Fernando Armellini, "os pastores do tempo de Jesus, não eram aquelas pessoas boas, pacíficas, agradáveis como as vezes imaginamos. Pelo contrário, eram homens fortes, violentos, rudes, com o rosto queimado pelo sol, acostumados a lutar contra os bandidos e contra os animais que ameaçavam o seu rebanho. Além de serem desprezados pela vida rústica que levavam nas montanhas, eram tidos como impuros, ladrões, falsos. No tribunal o testemunho deles não tinha valor algum.  Os pastores da Palestina eram acostumados a reunir, durante a noite, suas ovelhas num único cercado. Pela manhã cada pastor se apresentava ao guarda, as ovelhas que tinham reconhecido os passos e a voz, logo se levantavam de um pulo, enquanto permaneciam deitadas as que pertenciam a outro rebanho".

"Em verdade eu vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante". Caríssimos no tempo de Jesus, haviam líderes políticos e religiosos, que embora do ponto de vista de alguns discursos e tarefas,  parecessem demonstrar preocupação pelo povo, na verdade buscavam unicamente seus próprios interesses. 

"Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas, a esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora". Como é encantador esse gesto do Pastor em relação às ovelhas. Uma relação de ternura, de amizade e carinho. As ovelhas não são mais um bando de gente, uma massa sofrida, machucada, jogada de um lado para outro, como fazem atualmente os falsos pastores nos currais públicos do nosso país, onde eles são os guardas. Ao contrário, o pastor conhece as ovelha, chama-as pelo nome, e as conduz para uma condição de vida melhor, a vida que faz a ovelha feliz. 

"Em verdade, em verdade eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas". Nesse momento existem muitas portas e muitas ovelhas passando por elas. São elas: Os meios de Comunicação com seus programas, seus filmes, suas novelinhas; as rádios, algumas com programas que não levam ovelha nenhuma para fora, para o crescimento humano, cristão, mas levam para o sofrimento e para a dor; chefes políticos, e, porque, não dizer, também religiosos, que muitas vezes nos seus longos e preparados discursos ou não, prometem felicidade, prosperidade ao povo, mas na verdade, estão defendendo unicamente seus interesses, ou os do seu grupo.

Esses, como os chefes políticos e religiosos que vieram antes de Jesus, são eles que Jesus hoje os chama de ladrões e assaltantes.

Para encerrar, quero lembrar a todos, que no que tange à figura da ovelha e do pastor. Na vida comunitária, na vida religiosa, na vida profissional, na vida familiar, na vida em grupo, pastoral ou  movimento, em algum momento seremos ovelhas, que,  uma vez debandada do redil por alguma falta de juízo cometida, precisamos da misericórdia do pastor ou da pastora que estiver ao nosso lado. Mas em algum momento seremos pastores, pastoras, que uma vez encontrando uma ovelha debandada, ferida e machucada, também por alguma escolha mal feita, teremos que igualmente ser misericordiosos, misericordiosas para com ela. Ou seja, teremos que ser porta para ela, uma porta ao modo e ao jeito da porta que é Jesus.

domingo, 4 de maio de 2014

HOMILIA 3º DOMINGO DA PÁSCOA

Ó insensatos e duros de coração para acreditar nas palavras dos profetas! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?”

Meus irmãos Jesus é aquele que continua caminhando conosco, continua caminhando com a comunidade, para revelar, para explicar o sentido da sua morte e da sua ressurreição.

Mas tem um problema, essa comunidade continua dando sinais de fraqueza, de falta de fé, e não consegue entender, não consegue conceber, não consegue aceitar tudo o que ocorreu com Jesus, porque O associava aos grandes líderes, um homem poderoso, e uma pessoa que jamais deveria morrer, pois os rabinos ensinavam que o Messias levaria uma vida de mais de mil anos, mas esse morreu com uns 30 anos. Não entendendo, continua vendo Jesus um homem derrotado, um homem vencido pela morte.

Nessa condição, nenhum sinal é suficiente para despertá-los de sua ignorância, nem o testemunho dado pelas mulheres, nem a pedra removida, nada consegue mudar a mente e o coração daqueles homens.

Como sois lentos, insensatos e duros de compreender... Meus irmãos, assistindo esta cena, eu me volto para os milhares discípulos e discípulas existentes nas nossas pequenas Emaús de agora.

Pessoas fechadas, duras na forma de se dirigir aos seus irmãos de caminhada, lentas em compreender, não racionalmente, mas em perdoar, em deixar para trás, ranços, mágoas e ressentimentos.

Irmãos e irmãs de caminhada, que manifestam a maior dificuldade em abraçar mudanças, medo de abandonar os velhos costumes, porque também não estão dispostos a sair da mesmice e do comodismo. Para eles conforta-lhes uma Igreja que reza o terço, faz novenas, celebrar missas e comunga nestas mesmas missas.

Mas, ir ao encontro das pessoas, sentar com o diferente, seja ele sócio - cultural ou religioso; participar de cursos, reuniões, assembleias, descentralizar as atividades, tirando-as do centro e levando-as para o seio das comunidades. Tudo isso se apresenta como um fardo muito grande e muito pesado.

Nesse sentido, como fez Jesus hoje na estrada de Emaús, a palavra tem que ser mais bem explicada, mas não só explicada, tem que ser também praticada, testemunhada. De forma que esses corações e essas mentes tão tristes e tão duros; tão tristes e tão impenetráveis, possam aos poucos começar a arder. E se toda a catequese da Igreja, todas as Eucaristias, todas as novenas e romarias que você participa, não tiverem forças para mudar esse coração duro e frio, você não tem outra saída, a saída é gritar com os discípulos de Emaús: Fica conosco Senhor.