sábado, 31 de março de 2012

HOMILIA DE DOMINGO DE RAMOS

Meus irmãos, com este gesto que acabamos de fazer, nós demos a largada para vivermos  mais uma Semana Santa. Vivermos não apenas nos aspéctos religiosos, festivos, emocionais e temporais, mas acima de tudo, no que tange à busca por uma vida mais santa, mais pura e mais Pascal.
Para tanto, precisamos entrar com Jesus em Jerusalém, não na cidade propriamente dita, mas no Mistério Pascal, viver esse mistério, encontrar os Pilatos de agora e diante das indiretas, das inverdades, das acusações falsas, feitas por eles, também calar, também silenciar, não porque temos culpa e estamos com medo, ou porque somos coniventes com a maldade como muitos pensam, mas para dizê-los que o que eles afirmam, não nos derrota, não nos humilha, não tira a nossa serenidade e a nossa paz, porque o que somos está respaldado na sintonia e na coerência do que falamos com o que vivemos. Silenciar também, porque não precisamos entrar no jogo sujo, que usa os instrumentos sujos da mentira, da falsidade, da corrupção e da deslealdade. Silenciar para dizê-los que a felicidade é um prato que serve a todos, inclusive aos que tramam contra nós e nos matam.
"Quando chegou ao meio dia, houve escuridão sobre toda a terra até as três horas da tarde". "Sobre esse fato houve quem propusesse alguns fenômenos, por exemplo: Um eclipse lunar, mas eclipse não acontece com lua cheia, só com lua nova, e ali estava na lua cheia, houve também quem propusesse uma erupção vulcânica, que também não aconteceu, e por último o mais plausível, um vento sul impregnado de areia etenebrando a atmosfera. Nenhum desses fenômenos seria suficiente para explicar o pensamento dos evangelistas que quiseram antes de tudo usar uma linguagem por demais conhecida dos seus contemporâneos e dos primeiros cristãos impregnados de cultura bíblica para equiparar o momento da morte de Jesus com o grande dia de Javé". Frei Martinho Penido Burnier (Prescrutando as Escritura 1971). Meus irmãos chamamos de escatológico esse dia, porque é o dia que marca o encontro do Pai com seu Filho e antecipa o nosso ESCATON, o nosso encontro definitivo com o  Pai.
Eloi, Eloi, lamá, sabactâni? "Meu Deus meu Deus, por que me abandonaste? Também quem comenta é Frei Martinho Penido Burnier, afirmando que: "A exclamação longe de ser um grito de desespero, pois o desespero supõe a perda de confiança em Deus, é um grito desolador, de desamparo, que implica tão somente numa imensa tristeza e desolação". Tristeza e desolação essas, que desaparecerão com o acontecimento de Domingo, quando o Senhor triunfará deixando para trás o sofrimento, a morte e a dor.
"Nesse momento a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes". "No Templo havia o lugar chamdo Santo dos Santos onde se imaginava a habitação do Senhor. Só o Sumo Sacerdote podia uma vez por ano entrar ali, no dia solene da expiação dos pecados." Fernando Armellini (Celebrando a Palavra).
Assim como a escuridão da terra, o rasgo do véu é também simbólico, é para dizer que a partir de agora judeus, pagãos, homens, mulheres, viúvas, estrangeiros, pobres e ricos, prostituídos e prostituídas, negros e negras, índios, todos têm acesso a Deus. Deus não é propriedade de alguns, poucos e santos, bispos, padres, pastores, líderes de comunidades, nem é um ser desencarnado, distante, carrasco, estranho como muitos padres, pastores e alguns leigos infelizmente ainda o entendem e o concebem, mas ao contrário, Deus, em Jesus Cristo rasgou todos os véus, todos os preconceitos antigos, todas as cortinas da hipocrisia, da religião falsa, fria, desumana do Templo e veio se misturar com os pecadores.
Oxalá, nós também permitamos hoje que Jesus rasgue as nossas cortinas, os nossos véus, nossas máscaras e hipocrisias que  "encobrem" nossos orgulhos, vaidades, paixões, mentiras, falsidades e nos vista com as vestes da pureza e da santidade. Pureza e santidade que não condenam os pecadores, não afastam os impedidos, não enxotam os bêbados e os drogados, mas os acolhe e os abraça, como o fez Jesus.







  


DOMINGO DE RAMOS

UM POUCO DE HISTÓRIA
A origem do Domingo da paixão seria um costume popular do século V, em Jerusalém, que na tarde do Domingo fazia uma procissão solene para comemorar a entrada de Jesus na cidade. A procissão de palmas iniciava-se no Monte das Oliveiras na direção da cidade, imitando assim o ingresso do Senhor em Jerusalém. O sucesso e a popularidade desta evocação comemorativa dá-se porque a comunidade revive, dramatizando a cena evangélica da entrada de Jesus em Jerusalém lida no início, refazendo depois o percurso feito por Cristo. A procissão não estava ligada a uma celebração eucarística.

No início do século VII esses costumes passarão do Oriente para a Espanha e a Gália. Somente no século XII que será aceita em Roma.

Desde os tempos primitivos, começa em algum lugar fora da Igreja principal. No início da Idade Média, o centro da atenção era o livro do Evangelho, mais tarde suplantado por relíquias e, finalmente, pela própria Hóstia.

Celebrar este dia é fazer parte da cena onde o Senhor é aclamado Rei. Oxalá não nos estendamos para a segunda cena, a da sexta feira, onde o mesmo Senhor, inocente, é trocado por um culpado. Fazer parte desta cena é exercer um papel de ódio, traição e vingança.

terça-feira, 20 de março de 2012

FESTA DE SÃO JOSÉ

Meus irmãos não é muito o que sabemos sobre a vida de São José. O que sabemos é que ele era descendente da família de Davi, foi esposo de uma jovem chamada Maria, e depois tornou-se pai adotivo de um menino chamado Jesus.
"Na Igreja recebeu o nome de homem justo". E fez jus ao nome que lhe é dado, porque sua retidão, sua lealdade e sua obedieência à vontade do Pai reforçam sua santidade.
Nem sempre as coisas aconteceram de modo fácil em sua vida. Primeiro, compreender a inesperada e obscura gravidez de sua esposa, mulher que ele não havia tocado, numa sociedade que condenava à morte as mulheres que fossem pega em adultério. Segundo, a rejeição dos seus parentes em Belém, por ocasião do recessenceamento, momento em que completaram-se os dias de Maria dá à luz à criança, e não encontrar lugar naqueles espíritos, naquelas mentes e naqueles corações, tendo que dividir espaço com os animais lá no fundo na estrebaria. Terceiro, ter que sair às pressas para o Egito, fugindo do plano assassino de Herodes de matar as crianças na faixa etária de seu filho. Quarto, a angústia de três dias, tempo em que seu filho ficou sozinho no templo entre os doutores em Jerusalém.
Meus irmãos nada disso seria possível se dá na vida de uma pessoa e ela administrar da forma como José administrou, sereno, calmo, se não gozasse de uma fé e de uma espiritualidade e de uma santidade profundas. Dessa maneira está mais do que justificada a homenagem, o louvor e o culto prestados hoje a São José. Faz muito sgnificado a proclamação feita pelo Papa Pio IX em 1870 dando o título a São José Padreiro Universal da Igreja. 
Como pai adotivo de Jesus, o carregou pequeno, indefeso e inocente, defendendo-o dos perigos que se voltavam contra o seu filho, como padroeiro universal carrega nos braços a Igreja e a defende das forças  hostis de agora, advindas dos Meios de Comunicação Social, de seitas protestantes, de pensamentos materialistas, quando estes a atacam principalmente naquilo em que ela é mais frágil e vulnerável sua humanidade.
Meus irmãos como já dissemos, não temos dúvida da santidade deste homem, e até podemos apalpar os feitos seus: 1- Aceitou assumir uma jovem entre 12 a 15 anos; 2- Assumiu um filho que não era seu; 3 - e quando a dúvida, a incerteza o invadiu em relação ao caráter e à moral de sua esposa, não a expôs ao público e aos guardiães da lei, mas preferiu sofrer em silêncio, e em silêncio sair, fugir, para não machucar, para não ferir, e assim preservar a integridade física da mulher que a amava.
José é o tipo do homem que quando não entende silencia, guarda, conserva em seu coração. Só que esse silêncio não é ausente, parado e sem sentido, mas é algo dinâmico, presente, atuante e brota de um coração puro, humilde espiritual e luzente.
Oxalá, os homens e as mulheres, os casais, as famílias de hoje, quando se encontrassem afogadas, mergulhadas em dúvidas e incertezas, angústias e medos na relação conjugal e familiar, ao invés de partirem para cima do outro com perguntas, fruto muitas vezes do imaginário, agredindo, ferindo e às vezes matando, fizessem como São José, silenciassem, guardassem, perdoassem, amassem.
Mas quem é que pode silenciar assim? Guardar e conservar assim? Amar assim? Perdoar assim? Somente aqueles que como São José gozam de um coração simples, puro, amoroso e santo.

domingo, 18 de março de 2012

IV DOMINGO DA QUARESMA

Muitas pessoas ainda hoje acham que Deus cobre de bênçãos aqueles que lhes são obedientes e castiga e condena aqueles que vão contra a sua vontade. A liturgia de hoje mostra esta verdade. O Templo de Jerusalém e a cidade foram destruídos, não bastasse tudo o que isso significou, violência, morte e tantos outros males que uma guerra trás, o rei Nabucodonosor ainda pegou o resto de sobreviventes e mandou para a Babilônia, para viverem tudo o que um exílio oferece, opressão, fome, escravização, a distância da sua terra, da sua família e dos seus líderes. Tudo isso junto leva o povo a pensar que Deus o abandonou permitindo tudo isso. Porém não é isto que apresenta a primeira leitura. "Em vão o Senhor Deus de seus pais, lhes tinha enviado, por meio de seus mensageiros, avisos sobre avisos, pois tinha compaixão de seu povo e de sua própria habitação" 2Cro. 36,15.
Pois bem, está claro, como Deus jamais abandonou o seu povo, jamais desejou o seu sofrimento. Pelo contrário, após quatrocentos anos de sofrimento o arrancou com mão forte do Egito, abriu o Mar Vermelho para defendê-lo da perseguição de Herodes, e o conduziu à Terra Espaçosa, a Terra de Canaã, a terra onde corre leite e mel. E hoje, se faz novamente presente na vida deste povo através dos seus mensageiros - profetas. Mas o que este povo faz? "Zombam de seus enviados, desprezam seus conselhos e riam de seus profetas" 2Cro. 36,16a.
Então, não foi Deus que abandonou o povo, mas foi o povo que seguindo seus próprios desejos, paixões, vontades endureceu para com Deus, usando de maldade para com Ele, quando desprezou e matou os seus profetas.
Agora está justificado porque estamos envenenados, porque estamos feridos e machucados. Nós nos afastamos de Deus, quebramos a aliança, abandonamos o seu amor.
Meus irmãos cada um sabe o veneno que está lhe contaminando, cada um sabe o pecado que lhe está machucando, cada um sabe da ferida que lhe está consumindo. E com ceteza já fez vários popósitos de mudança e não conseguiu. Por quê? Porque não basta fazer o propósito, mas é preciso vencer-se a si mesmo. Para vencer-se a si mesmo é preciso  uma Graça. Essa Graça quem dá é Jesus, para dá é preciso olhar para ele, olhar para ele significa crer nele, e crer nele é a condição para ser salvo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

JESUS: O CONFRONTO E A CONDENAÇÃO

Uma semana antes de ser executado, Jesus foi recebido como um rei em Jerusalém. Como foi que o grande mestre aclamado por todos se tornou um condenado? Percorra os meandros das manobras políticas que acabaram levando Jesus à morte.
O PODER DO GRANDE TEMPLO DE JERUSALÉM
Nos tempos antigos, havia vários santuários espalhados pelo país e a prática religiosa estava muito mais próxima da vida cotidiana do povo. Mas, no século 7 a.C., uma reforma violenta, realizada de cima para baixo, modificou profundamente o formato do culto judaico. Ela ocorreu durante o reinado de Josias, que se estendeu de 640 a 609 a.C. Sob o pretexto de depurar a religião das influências pagãs, herdadas dos povos vizinhos, Josias destruiu os antigos santuários, queimou seus objetos sagrados, massacrou seus sacerdotes e centralizou o culto em Jerusalém. Por trás de seu furor reformista, havia um inconfessável objetivo político: centralizar o culto e obrigar o povo a acorrer a Jerusalém nas datas estabelecidas era uma forma de unificar o país em torno da casa real de Judá. A centralização do culto fortaleceu a casta sacerdotal e enriqueceu seus integrantes mais ilustres.
A COBRANÇA PELOS SACRIFÍCIOS
Com a desagregação da monarquia, esse alto clero assumiu o controle da vida nacional. As bases econômicas de seu poder eram os sacrifícios diários de animais (bois, carneiros, pombos) e a cobrança de impostos realizados no Templo. Os animais a serem sacrificados passavam por um rigoroso controle de qualidade, baseado nas regras de pureza estabelecidas no livro do Levítico. Essa "peneira fina" barrava os animais trazidos pelos fiéis, que, em seu lugar, deviam comprar outros, vendidos nos pátios do Templo. "Coincidentemente", esses animais aptos eram criados pelas próprias famílias sacerdotais ou por grandes proprietários com elas relacionados. Os preços flutuavam de acordo com a demanda. E disparavam na época das festas religiosas. Um pombo, o animal mais barato, chegava a custar então cem vezes o seu preço normal, sendo comercializado por um denário (quantia equivalente ao salário pago por um dia de trabalho). Estudos recentes dão uma idéia da importância econômica dessas transações. Eles informam que, numa única data da vida de Jesus, por ocasião da Páscoa, foram imolados no Templo nada menos do que 250 mil cordeiros!
O COMÉRCIO RELIGIOSO
Os altos sacerdotes não lucravam apenas com a venda dos animais. Tiravam proveito também da conversão do dinheiro utilizado no pagamento. Pois as moedas correntes não podiam entrar no Templo. O motivo alegado era que se tratava de dinheiro impuro. Mas a verdadeira causa estava na corrosão de seu valor real devido à inflação. Tanto é que as moedas comuns deviam ser trocadas pela tetradracma tíria, cunhada na cidade de Tiro, na Fenícia, atual Líbano. Em matéria de pureza ritual, dificilmente poderia ser encontrado algo menos adequado do que esse dinheiro estrangeiro, que trazia, numa das faces, a imagem do deus pagão Melkart, protetor dos tirenses, e, na outra, a águia de Júpiter, principal divindade dos romanos. A diferença é que a tetradracma tíria era uma moeda forte, que não sofreu qualquer desvalorização num período de 300 anos. Pela troca do dinheiro, os cambistas, aliados dos sacerdotes, cobravam um ágio de 8%. Além dos sacrifícios de animais e do câmbio, a casta sacerdotal locupletava-se ainda com a cobrança do dízimo. Todo judeu do sexo masculino, com mais de 20 anos, era obrigado a pagar. E o Templo possuía o cadastro de cerca de um milhão de contribuintes, dentro e fora da Judéia. Não admira que judeus puritanos, como os essênios, abominassem o sistema econômico-político-religioso estruturado em torno do Templo. Muitos deles eram ex-sacerdotes, que haviam renunciado à sua proveitosa condição por razões de consciência. Quando Jesus virou as mesas dos cambistas e expulsou os vendedores de animais do Templo, ele se chocou de frente contra essa máquina poderosa. A resposta não se fez esperar. Dias depois, o Sinédrio (o senado de Israel) o condenou à morte.
A CONDENAÇÃO
Controlado pelas duas famílias sacerdotais mais poderosas de Israel, as de Anás e Caifás, o Sinédrio - Sanhedrim, em hebraico - era o braço político do sistema de poder estruturado em torno do Templo de Jerusalém. Não por acaso, esse órgão se reunia nas dependências do Templo, na Sala da Pedra Talhada. A ele cabiam todas as decisões de natureza legal ou ritual. E sua autoridade se estendia às populações judaicas que viviam fora da Palestina. Era composto por 70 membros, escolhidos entre os homens mais ilustres da comunidade (saduceus, doutores da lei, fariseus) e presidido pelo sumo sacerdote em exercício. Foi essa instituição, de certo modo semelhante ao senado romano, que condenou Jesus.
A AMEAÇA JESUS
O Sinédrio não se respaldava numa longa tradição. Pois sua existência remontava apenas ao século 2 a.C. e encerrou-se em 66 d.C.. Também não desfrutava de sólida legitimidade política aos olhos da população, devido a sua política de colaboração com os romanos. Por isso, seus chefes se sentiram altamente ameaçados com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Eram suficientemente ardilosos, porém, para tirar vantagem do desapontamento popular causado pela recusa de Jesus em assumir o papel de líder messiânico. Traído pelo zelota Judas quando se encontrava em oração no monte das Oliveiras e preso pelos soldados do sumo sacerdote Caifás, o mestre foi levado a uma masmorra existente na casa deste último e cruelmente espancado. POR QUE PILATOS LAVOU AS MÃOS?
Segundo o relato de Mateus, o Sinédrio condenou Jesus à morte sob a acusação de blasfêmia. A instituição não tinha, porém, autoridade para executar o condenado, pois algumas de suas antigas atribuições haviam sido cassadas por Roma. Por isso, Caifás encaminhou Jesus a Pôncio Pilatos. Para a mentalidade pragmática de um procurador romano, a acusação, de caráter religioso, não fazia o menor sentido. Daí a hesitação de Pilatos em ratificar a sentença. Mas, no final, ele acabou cedendo. Numa época de aguda fermentação política, os romanos crucificavam aos milhares. Somente na repressão ao levante nacionalista do ano 4 d.C., dois mil judeus foram crucificados. Ao seu olhar insensível, Jesus era apenas mais um. Por que se indispor com o Sinédrio por causa dele?

segunda-feira, 12 de março de 2012

3º DOMINGO DA QUARESMA

"Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois: espalhou as moedas e derrubou a mesa dos cambistas". Jo 2,15.
Certa vez peregrinando pelas comunidades de Magalhães de Almeida, realizando aquela que já é tradicional, a visita que a Imagem de Nossa Senhora Mãe do Salvador faz a cada ano em toda a Paróquia, estendemos essa visita a uma parte bem pequena da Paróquia São Bernardo, a quatro ou cinco comunidades, chegamos em Pedrinhas. Alí alguém me questionou: porque vocês católicos fazem o que não é permitido pela Palavra de Deus? Fazem leilão na porta da Igreja - condenou. E imediatamente justificou seu quationamento, e  mostrou o nosso pecado citando o versículo acima. E eu prontamente, também perguntando, respondi. Você consegue alcançar o que estava acontecendo em Jerusalém naquele momento? Você consegue lembrar o que se dava a cada festa no que concerne ao fator econômico principalmente? Não eram perguntas para minha interlocutora responder, eram, sim, para eu continuar respondendo. Mas, continuei perguntando: Você sabia que por ocasião daquela festa, os preços dos animais e dos aluguéis eram infracionados? Os tributos eram elevados? Que a lei proibia a entrada de moedas extrangeiras, porque eram impuras, mas os sacerdotes e seus interesses espúrios as permitiram, quando adotaram a moeda tíria pagã, burlando o que eles mais "defendiam"? A lei? Você não acha que o ambiente era de exploração para com um povo que ia alí com um único desejo, encontrar-se com o seu Deus? Mas como encontrar o Pai num lugar onde os seus filhos estão sendo  explorados, enganados, pisados, e o pior em nome da religião? Ou melhor, de uma falsa religião. Voltando a perguntar: você concorda que podemos comparar as duas coisas? Este, agora, síntese da exploração, o Templo, e os leilões das nossas comunidades onde todos se apresentam para oferecer, partilhar, depois comprar, numa grande e bonita confraternização, porque os valores são à altura do seu poder de comprar e não agridem sua humildade e sua bondade? E não unicamente valor econômico, mas a comunhão de irmãos, o encontro com o outro, a outra, o sentido de está alí como Igreja, como comunidade, como irmãos? É um erro grosseiro tentar comparar as duas coisas, e ainda por cima condenar a outra parte, só porque ela age e faz diferente de mim.
Mas o pior não é isso, o pior é que há irmãos na própria igreja que ainda não entenderam esta parte e pensam iguais àquela moça, que me falta à memória, seu nome.
Agora entendemos porque Jesus, ele mesmo fez o chicote e saiu deitando sobre os vendedores e seus animais. Fez, porque viu o homem corrompido vendido, escravizado, pelos seus desejos, paixões e interesses. Mas viu também que este mesmo homem gostava de estar assim, estava acostumado com isso, e isso o agradava, o acalentava, o adormecia, o tornava "feliz". Portanto, só palavras não o faria despertar, acordar, se converter, mudar. Então, fez o chicote. Lembram daquela pasagem em que um senhor trás o seu filho que é atormentado por um espírito, ele pede aos dscípulos para curá-lo e eles não conseguem? O homem leva a Jesus que o cura. Quando chegam em casa e o fato é comentado entre Jesus e os discípulos, Jesus diz que esse tipo de espírito só se tira com jejum e oração. Pois é, há tipo de pecados, que só saem com muitas chicotadas, chicotadas que ultrapassam o exterior, a pele do nosso corpo e chegam ao coração, porque é lá que o pecado se enraíza, se aprofunda, se materializa, sujando, secando, matando, destruindo o templo de Deus que é você. Então fez o chicote, e fez também, porque o culto deles, de pombas, carneiros e bois, escondia ou buscava esconder seus mais nojentos desejos, o poder e o ter que é também uma forma de poder, através da exploração feita aos pobres que subiam a Jerusalém por ocasião da festa, e ainda, utilizando por baixo, a religião. Esse culto Jesus vomita, esse culto Jesus despreza. Vomita e despreza, porque não liberta. Não liberta, porque está desprovido de amor, e, por isso, explora a pessoa. O Templo, casa da libertação perdeu sua identidade e sua força. Então, chegou um novo Templo, Ele, Jesus, Seu corpo. Que não se importa em ser destruído, em ser arrastado, em ser incompreendido, importa, que liberta.