Meus irmãos, com este gesto que acabamos de fazer, nós demos a largada para vivermos mais uma Semana Santa. Vivermos não apenas nos aspéctos religiosos, festivos, emocionais e temporais, mas acima de tudo, no que tange à busca por uma vida mais santa, mais pura e mais Pascal.
Para tanto, precisamos entrar com Jesus em Jerusalém, não na cidade propriamente dita, mas no Mistério Pascal, viver esse mistério, encontrar os Pilatos de agora e diante das indiretas, das inverdades, das acusações falsas, feitas por eles, também calar, também silenciar, não porque temos culpa e estamos com medo, ou porque somos coniventes com a maldade como muitos pensam, mas para dizê-los que o que eles afirmam, não nos derrota, não nos humilha, não tira a nossa serenidade e a nossa paz, porque o que somos está respaldado na sintonia e na coerência do que falamos com o que vivemos. Silenciar também, porque não precisamos entrar no jogo sujo, que usa os instrumentos sujos da mentira, da falsidade, da corrupção e da deslealdade. Silenciar para dizê-los que a felicidade é um prato que serve a todos, inclusive aos que tramam contra nós e nos matam.
"Quando chegou ao meio dia, houve escuridão sobre toda a terra até as três horas da tarde". "Sobre esse fato houve quem propusesse alguns fenômenos, por exemplo: Um eclipse lunar, mas eclipse não acontece com lua cheia, só com lua nova, e ali estava na lua cheia, houve também quem propusesse uma erupção vulcânica, que também não aconteceu, e por último o mais plausível, um vento sul impregnado de areia etenebrando a atmosfera. Nenhum desses fenômenos seria suficiente para explicar o pensamento dos evangelistas que quiseram antes de tudo usar uma linguagem por demais conhecida dos seus contemporâneos e dos primeiros cristãos impregnados de cultura bíblica para equiparar o momento da morte de Jesus com o grande dia de Javé". Frei Martinho Penido Burnier (Prescrutando as Escritura 1971). Meus irmãos chamamos de escatológico esse dia, porque é o dia que marca o encontro do Pai com seu Filho e antecipa o nosso ESCATON, o nosso encontro definitivo com o Pai.
Eloi, Eloi, lamá, sabactâni? "Meu Deus meu Deus, por que me abandonaste? Também quem comenta é Frei Martinho Penido Burnier, afirmando que: "A exclamação longe de ser um grito de desespero, pois o desespero supõe a perda de confiança em Deus, é um grito desolador, de desamparo, que implica tão somente numa imensa tristeza e desolação". Tristeza e desolação essas, que desaparecerão com o acontecimento de Domingo, quando o Senhor triunfará deixando para trás o sofrimento, a morte e a dor.
"Nesse momento a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes". "No Templo havia o lugar chamdo Santo dos Santos onde se imaginava a habitação do Senhor. Só o Sumo Sacerdote podia uma vez por ano entrar ali, no dia solene da expiação dos pecados." Fernando Armellini (Celebrando a Palavra).
Assim como a escuridão da terra, o rasgo do véu é também simbólico, é para dizer que a partir de agora judeus, pagãos, homens, mulheres, viúvas, estrangeiros, pobres e ricos, prostituídos e prostituídas, negros e negras, índios, todos têm acesso a Deus. Deus não é propriedade de alguns, poucos e santos, bispos, padres, pastores, líderes de comunidades, nem é um ser desencarnado, distante, carrasco, estranho como muitos padres, pastores e alguns leigos infelizmente ainda o entendem e o concebem, mas ao contrário, Deus, em Jesus Cristo rasgou todos os véus, todos os preconceitos antigos, todas as cortinas da hipocrisia, da religião falsa, fria, desumana do Templo e veio se misturar com os pecadores.
Oxalá, nós também permitamos hoje que Jesus rasgue as nossas cortinas, os nossos véus, nossas máscaras e hipocrisias que "encobrem" nossos orgulhos, vaidades, paixões, mentiras, falsidades e nos vista com as vestes da pureza e da santidade. Pureza e santidade que não condenam os pecadores, não afastam os impedidos, não enxotam os bêbados e os drogados, mas os acolhe e os abraça, como o fez Jesus.
Oxalá, nós também permitamos hoje que Jesus rasgue as nossas cortinas, os nossos véus, nossas máscaras e hipocrisias que "encobrem" nossos orgulhos, vaidades, paixões, mentiras, falsidades e nos vista com as vestes da pureza e da santidade. Pureza e santidade que não condenam os pecadores, não afastam os impedidos, não enxotam os bêbados e os drogados, mas os acolhe e os abraça, como o fez Jesus.