domingo, 24 de fevereiro de 2013

HOMILIA II DOMINGO DA QUARESMA


"Naquele tempo Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e  subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante". Mt. 9, 28 - 29.

Meus irmãos, assim continua nossa caminhada para a Páscoa. Todo caminho, toda jornada, requer determinação, requer coragem e disposição.

"Naquele tempo Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e  subiu à montanha para rezar". Pronto irmãos, partamos daqui. Jesus subiu à montanha. Subir à montanha significa subir para onde está Deus, significa procurar buscar um momento a só, na intimidade com Deus, significa mergulhar, se lançar, se jogar, nos braços, no colo, no coração de Deus.

Enquanto rezava seus rosto mudou de aparência. Meus irmãos não é possível que continuemos os mesmos após um encontro com o Pai. Quando o encontramos muda o nosso rosto, muda o nosso semblante, muda o nosso pensamento, deve mudar as nossas ações, porque mudou o nosso espírito, porque mudou o nosso coração.

Meus irmãos encontramos tantos rostos tristes, angustiados, sofridos, transfigurados pela fome, pelas doenças, pelo desemprego, pela falta de condições dignas para viver. Esses rostos precisam mudar, esses rostos precisam passar de um rosto triste e desfigurado a  um semblante alegre, feliz e realizado.

Talvez esse semblante triste seja causado por fatores que nascem de fora para dentro e de dentro para fora, dependendo da situação que essa pessoa esteja vivendo no seu mundo exterior e no seu mundo interior. Talvez esteja faltando harmonia em casa, é possível que as contas desse mês não puderam ser cobertas e quitadas, ou fatores relacionados à sua saúde, ou de alguém de sua família.

Certa vez lendo o editorial da Revista Ir ao Povo, o autor lembrava Padre Leo, quando o mesmo tratava a respeito da fé. Ele dizia que a nossa fé tinha que ser de fogão à lenha. A comida desse fogão esquenta devagar, mas depois, dura quente o dia todo, pois  o fogão está sempre abastecido de lenha. Nossa fé não pode ser como forno microondas, que esquenta rápido, mas rápido esfria. Ou seja, nossa fé não pode ser aquela fé eufórica, sentimental, momentânea, espetacular, mas quando bate os desafios, as provações, os sofrimentos, esfria, desanima.

Nossa fé deve acontecer de tal forma, que sem livrar-nos dos obstáculos, pois este não é papel dela, nos temperar, nos preparar, para que diante dos  possíveis desafios ela continue sólida, firme, e agora até esses desafios se tornam lenha que a aquecem, que a amadurecem, que a purificam.

Meus irmãos nesta festa da Transfiguração do Senhor, não esqueçamos de pôr lenha no nosso fogão, de pôr lenha no nosso coração, de forma que o nosso rosto, de rosto desfigurado pelo medo, pela depressão, torne-se brilhante e transfigurado. 

Transfigurado de amor, transfigurado de perdão, transfigurado de paz, transfigurado de justiça em favor dos irmãos que não os encontramos nos montes tabores calmos e tranquilos de nossas vidas, das nossas igreja, dos nossos grupos e das nossas capelas, mas os encontramos nas Galileias e nas Nazarés de nossas vidas, contando com nossa solidariedade e com nossa sensibilidade.





domingo, 17 de fevereiro de 2013

HOMILIA I DOMINGO DA QUARESMA


Meus irmãos como sempre, a liturgia deste domingo, o primeiro da quaresma, apresenta as três tentações vivenciadas por Jesus no deserto.

Olhando as palavras e as letras dessas palavras contidas nesse evangelho, tudo parece muito simples. Primeiro contemplamos o deserto, essa longa faixa de terra de pouca umidade, de pouca vegetação, de pouca água, de muitas rochas, de pouca vida.

Ao longe avistamos Jesus, sozinho, sentado, refletindo, meditando, rezando o desafio que está por vir, sua missão em Jerusalém.

Eis que então, aparece aquele ser, vindo não se sabe donde, com olhos vermelhos, chifres afiados, uma calda inquieta com um ferrão na ponta, e um espeto nas mãos. E num pulo para cá e noutro para lá,  começa a provocar e a desafiar Jesus.Você já observou que é mais ou menos essa a imagem que temos do diabo que aparece na cena desse evangelho?

Meus irmãos sem arrodeio digo para vocês, eu quisera encontrar no meu caminho centenas desses demônios,  centenas desses diabos, sei que eles não me fariam mal nenhum, eu não teria medo deles. Então, se eu, um pobre pecador, um ser humano frágil e limitado tenho essa segurança e essa confiança em relação ao "diabo", porque Jesus o Filho de Deus, se deixaria dominar por um ser infinitamente inferior a ele, sem força e poder nenhum?

Meus irmãos sem arrodeio digo para vocês, eu quisera jamais encontrar, jamais saber que carrego dentro de mim uma legião de demônios, demônios que eu não vejo, que não conversam comigo, que não falam nada, porém, são muito mais perigosos, muitos mais sagazes, muito mais violentos, muito mais ousados que os demônios deste evangelho.

Uma questão me intriga bastante: Nos preocupamos demais com o demônio que figura neste evangelho, e nos preocupamos de menos com os demônios que estão dentro de nós.

Aí, nas bobagens que fazemos, nas falhas que cometemos, nas loucuras que nos envolvemos, achamos cômodo culpar o demônio de chifre e de rabo, e não culpamos a nós mesmos como atores e autores das nossas próprias cenas e dos nossos próprios erros.

Agora você pode está se perguntando e me perguntando: E todos os acontecimentos que são hoje narrados, a proposta de pão, a proposta de adoração, a proposta de poder? Como ficam? 

Não tenho dúvida que Jesus foi tentado, e não acho que ele foi tentado só porque carregava a natureza humana, não, ele foi tentado no seu conjunto de naturezas, não foi só uma banda de Jesus que foi tentada, não foi só um lado de Jesus que foi tentado, ele foi tentado por inteiro. Jesus incomodava o diabo por ser Jesus, por ser Deus, por ser divino e por ser humano. 

Agora seria interessante se analisar melhor, aprofundar melhor todo esse acontecimento. Numa das cenas Jesus é levado por Satanás ao templo de Jerusalém. Do local em que a tradição afirma que se deu a tentação até Jerusalém é longe, são quilômetros de distância. Como satanás levou Jesus até lá? O que teriam eles conversado ao longo do caminho? Satanás fala mesmo? Ou, conhecendo que essa tentação está na linha do poder, não teria ido Jesus ao templo, mas através do seu desejo, do seu pensamento, da sua vontade de deixar tudo, dado o peso que esse tudo lhe traria depois?

Se você você fosse enviada, enviado em missão à Africa ou a Ásia onde hoje morrem muitos cristãos, principalmente pelos muçulmanos, se você fosse para um a região onde você correria o risco de morrer, você não sentiria medo? Você poderia até ir, mas certamente pensamentos de desistência, de abandono do projeto passariam pela sua cabeça. A missão que esperava Jesus não era fácil, e certamente pensamentos, desejos, intuições, planos de voltar atrás passaram pela cabeça do Mestre. Jesus nunca foi homem de simular, de fazer de conta, de encenar. Ele sempre foi real, verdadeiro, coerente. Nesse sentido, ele teve no deserto sim, ele foi tentado sim. Mas, mais que um deserto geográfico de terra, de rocha  e de vegetação, vemos um local teológico e espiritual onde Jesus reza, reflete e decide, que apesar do que lhe espera em Jerusalém, o plano que o Pai pôs em suas mãos, plano de implantação do seu reino, reino de paz,  de justiça e de amor, será implantado, será cumprido, será inaugurado. Mas que um indivíduo de chifre e de rabo, Jesus se viu em algum momento com medo, fragilizado. Nessas horas refugiar-se no ter e no poder parece ser a melhor solução. Existe tentação mais sedutora, principalmente em momentos de grande fragilidade?

Penso que celebrar este primeiro domingo da Quaresma é reler este acontecimento não através das letras, mas através das figuras que aqui aparecem e do contexto em que as coisas estão se dando. Penso que celebrar este primeiro domingo da quaresma é olhar para esta cena e diante dos acontecimentos que se derem na nossa vida, culparmos menos o diabo, porque este não fala, mas culparmos a nós mesmos. Quando deixarmos de encontrar culpados para as nossas bobagens e assumirmos os nossos erros, estamos começando a acertar.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

HOMILIA DE QUARTA - FEIRA DE CINZAS


"Agora diz o Senhor, voltai a mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes, e voltai para o Senhor nosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo" Jl. 2,12-13.

Caríssimos irmãos, com a liturgia desta noite iniciamos o Tempo Quaresmal do ano Litúrgico de 2013. Tempo esse que começa através de uma proposta e de um convite feitos pelo Profeta Joel.

Meus irmãos, é importante conhecer um pouco desse profeta. Com ministério em Jerusalém, o profeta Joel deve ter exercido seu ministério pelos anos 400 antes de Cristo, seu nome significa o Senhor é Deus. Toda a sua mensagem, não só os versículos  de hoje, mas de todo o seu escrito é um convite ao arrependimento.

Os versículos de hoje fazem parte de um contexto catastrófico no qual Israel está envolvido, o que leva o povo a uma situação de grandes dificuldades principalmente no campo político e econômico.

Mas como os problemas não pararão por aí, Deus chama Joel para convocar, inquietar, intimar o povo, os líderes, os sacerdotes, ao arrependimento, como acabou de salientar o versículo que abre essa reflexão.

Meus irmãos, convidar o povo ao arrependimento, não significa fazer uma oração intimista e individualista,  girando em torno somente de nós e dos nossos problemas, mas principalmente perceber o que está acontecendo ao nosso redor, na casa que está ao lado da nossa, no bairro da nossa cidade, na comunidade da periferia, o que está acontecendo e poderá ainda acontecer de catastrófico no mundo, no que diz respeito à política, à cultural, à religião, ao meio ambiente, e à sociedade como um todo, e convidar os homens e as mulheres, os cidadãos de agora para numa atitude consciente e corajosa, como a do Profeta Joel, assumirem uma posição através da qual essa realidade ameaçadora seja inibida e impedida de se dá.

Nesse sentido, nos aspectos acima colocados, para não esquecer as palavras do profeta, rasgar os corações, significa sair dos discursos e das teorias feitas nas tribunas e nos palanques, e constituir de fato, um sistema social, político e econômico,  que inclua e que enxergue os homens, as mulheres, os jovens e as crianças deste país, não só no tempo da eleição, no dia de votar, mas inclua principalmente na conquista de direitos, moradia, emprego, saúde e educação de qualidade, e assim todo dia e o dia todo, todo ano e o ano todo, essa pátria amada  e idolatrada, ame e idolatre também os seus filhos, principalmente os seus filhos pobres.

Mas com já dissemos, estamos iniciando o Tempo Quaresmal, um tempo de resignação, de reflexão, de oração, de penitência, na verdade um tempo de conversão e santidade. 

Mas o que é converter hoje? O que é ser santo hoje? O mundo nunca rezou tanto, o mundo nunca falou tanto de Deus como agora. Mas isso é santidade? Isso é conversão? Penso que que o ser santo vai além do culto e da oração, vai além do canto e da comunhão, vai além do rito e da pregação. 

Há muita gente rezando, há muita gente pregando, há muita gente peregrinando, há muita gente entregando panfletos com orações, mas será que isto é conversão? É Santidade? 

No Evangelho de hoje nos é proposto a oração, mas são propostos também o jejum e a esmola, a caridade, a solidariedade, a partilha.

A caridade deve nos levar a pensar nos milhões de pessoas que não comem, não dormem dignamente, não têm moradia, não têm alegria. O Jejum é o sacrifício que faço em favor do irmão, no que compreende perdão, partilha, a misericórdia, e a justiça, para assim,  visibilizar e sentir,  o grande sacrifício que Jesus fez na Cruz por mim. 

Se a nossa oração não for capaz de sentir tudo isso, se a nossa oração não for capaz de abrir o nosso coração à partilha, à justiça, ao perdão e ao amor, é rezação, e não vai levar à nenhuma  santidade e à nenhuma conversão.

Rasgai os corações e não as vestes. Chega de culto de aparência, chega de papeizinhos com orações, chega de culto exterior, chega de rezação. Para Jesus, mas que o culto a pessoa, mais o culto a justiça, mais que o culto o direito, mais que  o culto a dignidade, mais que o culto, o perdão, o amor e a humildade.  


Como fazer isso? Tornando-se cinza como as cinzas de hoje, tornando-se pó, como o pó de hoje,  queimando-se, derretendo-se, derretendo o egoísmo, derretendo a vaidade, ou seja, consumindo-se, para ressurgir numa madrugada infinita.




sábado, 9 de fevereiro de 2013

HOMILIA DO V DOMINGO DO TEMPO COMUM


"Lançai as redes em águas mais profundas"

Caríssimos irmãos, a cena de hoje começa a partir de uma experiência fracassada, vivida pelos apóstolos, depois de uma noite de pescaria sem resultado.

Estamos no Lago de Genesaré, no Mar de Tiberíades, no Mar da Galileia, ou seja, estamos no mesmo lugar. Nesse mar, depois de uma noite de muito serviço, de muitas idas e muitas vindas pelas baixas ondas do Mar da Galileia, os discípulos de Jesus, Pedro, Tiago e João estão agora na beira da praia certamente lamentando o tamanho do fracasso e do insucesso daquela noite, provavelmente certos de que o melhor a fazer agora é juntar as redes, recolher os remos, colocar tudo por sobre os ombros e voltar para casa. 

São homens que neste instante não encontram motivação para uma nova tentativa, são homens que preferem agora o calor das águas rasas, embora sabendo que também ali peixe não encontrarão.

O lamento é claro: trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Um lamento semelhante aos que se ouve quase todo dia: eu luto tanto, eu rezo tanto, eu me esforço tanto, mas parece que tudo dá errado para mim. 

Outro dia uma jovem senhora chegou para mim e me perguntava: Padre por que que eu rezo tanto, me esforço tanto pelas coisas de Deus, mas tudo continua dando errado em minha vida. Será que é por que sou uma pessoa sem fé?

Aí, eu também lhe perguntei: E quem foi que lhe disse que o fato de você rezar, se esforçar, ir à missa, comungar, devolver religiosamente o seu dízimo, lhe isenta de fracassos, decepções e derrotas? E quem disse que a fé, muito ou pouca, grande ou pequena é a certeza de todas as vitórias e sucessos na vida de uma pessoas?

A cena de hoje vem mostrar como na vida os sucessos e os fracassos são uma realidade, da qual não devemos descuidar. Cada um pela sua peculiaridade. Agora o que não devemos, é desanimar, desistir, deixar de acreditar e lutar. Aquele que deixou de acreditar e lutar, confessou publicamente sua derrota e seu fracasso. 

Provavelmente em algum momento de sua vida você viveu a situação em que se encontram neste instante os apóstolos, possivelmente em algum momento de sua vida você pensou em desanimar, ou ficar parado no cais, achando que não valia mais a pena ir pescar. Para você, devido todas as frustrações, todos os insucessos, todas as derrotas, não tem mais sentido arriscar tanto, chega. E aí você passa a se contentar com nas águas rasas e superficiais de sua vida.

É verdade que as águas mais profundas sempre trazem mais perigos e mais desafios, mas, mais perigoso é não avançar, é não arriscar, porque não avançando, não encontramos os peixes, não encontramos a paz, não encontramos a justiça, não promovemos a vida.

Se você é uma pessoa, que devido a constantes decepções se encontra agora desanimada, triste, descrente, vivendo nas águas rasas, superficiais de sua vida, Jesus tem uma palavra para você. "Avance para as águas mais profundas". Saia desse medo, saia dessa depressão, saia dessa angústia. Você não nasceu para ficar parado na margem, muito menos no porto; no porto da tristeza e da desilusão, você nasceu para singrar os mares mais profundos e mais distantes da justiça, da verdade, do amor e da paz.






















domingo, 3 de fevereiro de 2013

HOMILIA IVDOMINGO TEMPO COMUM


JESUS EM NAZARÉ
Caríssimos irmãos a missão de qualquer profeta não é fácil. A de Jeremias, o profeta de hoje, foi cheia de conflitos. 
"Desde o início Deus o nomeia profeta das nações, ou seja, que esteja pronto para mergulhar no conflito. Mas contra quem Deus o envia? Quem é que irá persegui-lo? Primeiro, o profeta é enviado aos reis de Judá -  a palavra de Jeremias irá incomodar os que detêm o poder político, as  lideranças que usam o poder político em benefício próprio. Jeremias é profeta às vésperas do exílio e o que levou o povo ao exílio foram aqueles que detinham o poder político. Segundo, o profeta é enviado contra os latifundiários. Latifundiário é aquele que detém enormes quantidades de terras, e, no contexto de Jeremias, aqueles latifundiários o eram porque haviam se apoderado das terras dos pobres e os expulsados do campo. Terceiro, o profeta é enviado contra os sacerdotes, ali  haviam falsos sacerdotes, e a palavra de Jeremias vai mexer com essa gente. São esses três seguimentos sociais que perseguirão o profeta de Deus - mas não o vencerão" Revista Vida Pastoral.  Como assiná-la o último versículo de hoje: "Eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te, diz o Senhor".
Meus irmãos, ontem e hoje, Deus continua aliado, continua combatendo ao lado dos pobres como o fizera em toda a caminhada do povo de Israel, desde o Egito até a Terra Prometida. Agora no que diz respeito aos profetas, uma mercadoria praticamente esgotada. O povo continua sendo enganado, continua sendo enxotado do campo pelos "grandes projetos" capitalistas que ali chegam. Continua sendo enganado pelos "grandes políticos", aqueles que compram seu voto por duzentos reais, mesmo com o seu ingênuo e interesseiro consentimento, para depois deixarem as cidades jogadas, desprezadas como algumas cidades do Maranhão, e aqui eu cito Brejo que estive ontem, Tutóia, onde tenho ido com frequência, e tantas outras que nós conhecemos, passamos, visitamos e deixamos tristes pelo abandono e pelo sofrimento em que se encontram. Continua sendo enganado pelos "grandes sacerdotes" de hoje, falsos como os do tempo de Jeremias, infiltrados nas igrejas, incluindo a nossa também. Sacerdotes que oferecem sacrifício ao povo, quando o fazem pagar caro por uma "salvação fácil", ou falsa, não sei. Eles mesmos em nada se sacrificam, apenas enricam. Neste sentido é  urgente que novos Jeremias apareçam, para gritarem e reclamarem um mundo novo, um mundo de justiça, de vida e de paz. Um mundo que precisa surgir primeiro dentro das grandes estruturas religiosas, então, um grito que deve começar por dentro, depois por fora, para não ser um grito oco, abafado e hipócrita.

"Não é este o filho de José?" Meus irmãos depois de grande atividade em toda a região da judeia, Jerusalém, e com grandes sinais realizados, como vimos nesses dias, Jesus agora volta à sua terra. Deverá ter pensado no grande sucesso que teria e faria, principalmente nos atos que ali poderiam ocorrer. Mas tudo aconteceu diferente. Como vimos hoje, em vez de abertura e facilidade, Jesus encontra obstáculo e dificuldade. 
Não é este o filho de José? Poderia ter sido uma pergunta normal, mas não foi, foi uma pergunta debochada, uma pergunta provocativa, abusada, uma pergunta de quem não acreditava, não aceitava e não topava com o que estava vendo. O povo esperava um Messias espetacular, um messias capaz de ações fantásticas e mágicas. Eles jamais acreditam que Deus possa agir através de alguém tão simples e tão comum. Essa ação do povo de Nazaré, o deixa distante e sem contato com Jesus, sem contato, porém, com a libertação trazida por ele.
Certamente um dos grandes obstáculos está claro no texto de hoje, o povo busca milagres, sua fé depende de um ato mágico de Jesus, mas Jesus se recusa, porque a fé em Deus não pode depender de milagres, uma fé que depende de milagres, é um fé fraca, insegura, limitada, porque dura apenas enquanto durar o milagre. E Jesus percebeu que não era a falta de milagres a razão para tanto fechamento e dificuldade, era a falta mesmo de amor e humildade. Não, a fé não pode depender de milagres, a fé deve depender da total entrega que todos devemos fazer a Deus.